domingo, 30 de dezembro de 2012

O mundo não acabou e a merda vai continuar...

Um título um tanto quanto pessimista, deprimente, mas cem por cento verdadeiro. Para repetir um velho lugar-comum, estamos às portas de 2013. Natural que, na avaliação do ano agonizante, se queira sempre o melhor para o futuro, planos positivos, esperança de dias melhores, renova-se o desejo da paz mundial. Nada de mau nisso. É bom pensar positivamente. Energias positivas sempre ajudam... mas não são suficientes.

Os desejos foram os mesmos para 2012, 2011, 2010, 2009 e por aí vai, desde quando a razão venceu a superstição (apesar de algumas recaídas na obscuridade, como a crença do fim do mundo em 2012). Entre pensar positivamente e agir, a lacuna é bem grande, extensa, astronômica. Ninguém, com raríssimas exceções, pensa no coletivo. "Que o mundo melhore para mim" é o que se lê nas entrelinhas.

Quando penso em 2013 chegando, penso numa reavaliação de ações do que fiz este ano por mim e para os outros. Claro, tenho que pensar em melhorar mais ainda, fazer algo diferente e legal, até mesmo mudar o visual (se minha estampa o permitisse). Mas, acima de tudo, tenho que preparar o meu espírito para o que vem por aí. Ao lado das coisas boas, sei que a corrupção vai continuar, escândalos vão surgir, os pilantras de posses continuarão levando a melhor, traficantes continuarão destruindo famílias, gente vai se aproveitar da desgraça alheia para se dar bem, a impunidade vai "comer solta"... Porque essa é a natureza humana: é boa e é péssima (ultimamente, muito mais péssima).

Iremos testemunhar ainda tragédias provocadas por terremotos, incêndios, furacões, enchentes, seca... muitas vezes situações resultantes de nossa própria irresponsabilidade com o meio ambiente. Resta-nos a preparação para isso. Sem pessimismos, somente sendo realista. Então, quando desejar a todos um feliz ano novo, na verdade entendam como "um suportável ano novo". E que possamos sobreviver a ele! Venha, 2013!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Status: esperando o fim do mundo

Reza a lenda baseada em uma profecia maia que a contagem regressiva para o fim do mundo está prestes a zerar. Dentro de 48 horas, segundo os alarmistas apocalípticos, algo vai acontecer com nosso planeta que praticamente porá fim à existência humana. É um velho filme que se repete: já aconteceu o mesmo clima histérico em 1900, em 1999, em 2000 e em diversos anos anteriores. Em vez de chuvas de meteoros, submersão de continentes, extinção do Big Brother (é, alguns iam entrar em pânico se essa porcaria acabasse), houve somente um suspiro de alívio e a desmoralização de quem levou a sério tais crenças e vergonha de quem nelas acreditou.

Claro, hoje os tempos são outros. Nosso planeta passa por problemas ambientais que põem em risco nossa existência, guerras estouram por todos os lados, as drogas geraram uma indústria monstruosa e uma longa relação de tormentos marcam esta época, dando até base para a concretização das profecias religiosas - as oficiais e as de puro devaneio e oportunismo. Um alarme sobre o final dos tempos é normal. E se ele acontecer, começará pelo outro lado do planeta, já que o dia 21 chegará por lá primeiro. Aí poderemos dizer: "agora fodeu-se".

Então, o negócio é seguir o rumo normal de nossas vidas. Nada de mandar o chefe tomar naquele lugar, estourar o limite do cartão de crédito, detonar o fígado com bebedeira ou sair pulando de cama em cama só para aproveitar o tantinho de vida que ainda lhe resta. Ora, morrer todos vão um dia, então é tolice temer o inevitável. Vamos aproveitar a vida!

Não faço pouco de algo que os maias tenham registrado. Como muitos dizem, pode ser somente o início de uma nova era. Ou, se pudermos - e é o que vai acontecer - chegar ao anoitecer de 21 de dezembro e o amanhecer do dia seguinte, basta compreender o que aconteceu pela imagem abaixo.

Bom fim do mundo a todos!


sábado, 10 de novembro de 2012

Só faltou fogueira santa na Cidade Nova - ou: pequenos ditadores, futuros genocidas


Sexta-feira, 9 de novembro de 2012. Na escola estadual Senador João Bosco Ramos de Lima, no bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus, uma confusão armada por estudantes evangélicos (não se informou de qual igreja) vira notícia e chega a ser manchete hoje de um dos jornais locais. A questão era a seguinte: o estabelecimento educacional realizou um projeto chamado “Preservação da Identidade Étnico-Cultural Brasileira”, centrado na cultura agro-brasileira, mas a turminha achou que estava sendo obrigada a fazer trabalhos sobre “satanismo e homossexualismo” (sic). Propuseram um trabalho sobre missões evangélicas na África, totalmente fora do contexto temático, o que não foi aceito pela escola.

"O que tem de errado no projeto (da escola) são as outras religiões, principalmente o Candomblé e o Espiritismo, e o homossexualismo (sic de novo), que está nas obras literárias. Nós fizemos um projeto baseado na Bíblia". Essas palavras vieram de uma estudante da escola. Além do mais, estudantes se recusaram a ler obras literárias brasileiras (“O guarani” e “Macunaíma”, para citar dois referidos por um professor entrevistado) que, segundo eles, falavam de homossexualismo (sic mais uma vez). Então vou tecer alguns comentários sobre a atitude desses estudantes:

1) o candomblé faz parte da cultura de nossos antepassados (os meus, pelo menos, que sou negro). Achar que isso é coisa do demo, contra as leis de Deus etc., é muito perigoso. Vamos buscar a essência de cada religião e encontraremos o mesmo Deus, não importam os rituais, se há santos ou não. Há denominações diferentes. A religião deve agregar as pessoas, não jogá-las umas contra as outras, mas há pseudolíderes indo pelo lado oposto. O candomblé é do mal? Pode haver correntes do mal, como em qualquer outra religião, inclusive essa que fecha os olhos de seus seguidores ao respeito às diferenças religiosas e até mesmo sociais e raciais. A religião que o homem criou e vem estabelecendo ao longo dos séculos é vergonhosa. Foi uma das razões pelas quais eu me afastei de todas e resolvi seguir o livre arbítrio dado pela força divina para discernir o bem do mal, coisa que falta, infelizmente, a esses alunos, que seriam muito bem vindos em uma organização similar à Juventude Hitlerista na época da Europa nazista. Não é exagero, isso eu posso garantir.  Assim se formam os pequenos ditadores e futuros genocidas. Todos sabem muito bem como terminou aquela babaquice toda sobre "os judeus são a nossa desgraça". Imagine se institucionaliza-se o "todo praticante de candomblé é satanista" ou "todo espírita tem conclave com o demônio".

(O demônio, aliás, é tão citado por esses grupos fanáticos que questiono se o dito-cujo não deve estar feliz por juntar seu rebanho tão facilmente neste plano)

2) pelo pouco que conheço, vejo a doutrina espírita como a única que tem essência pacífica (relação ser humano-ser humano e ser humano-natureza), filosófica e fundamentalmente cristã, baseado na lei da causa e efeito, não importando suas crenças em reencarnação, mundos invisíveis etc. Também ali há Deus e Jesus Cristo, e pelo que li até agora, não vi nada desabonador aos olhos do Pai. Não sou espírita, mesmo porque alguns dos seu argumentos eu questiono, mas seus princípios na busca de uma unidade humana são perfeitos. Esses alunos mostraram sua total falta de tato pra lidar com o mundo, seguindo certamente o exemplo de seus pais e “líderes”, pois se fecharam em sua própria mediocridade ao virar a cara para o irmão diferente.

3) coitados dos que não conhecem pelo menos algumas obras literárias por terem essa visão tão limitada e preconceituosa. Se fizessem realmente projeto baseado na Bíblia, como propuseram em opção ao tema lançado pela escola, deveriam fazer também trabalhos sobre incesto, ganância, fratricídio, homossexualidade e adultério. Há essas referências no Livro Sagrado, ele não trata dessas situações, então se for pela presença dos temas, vamos todos queimar todos os livros do mundo. A argumentação usada pela aluna só denota pura preguiça de estudar, essa é a verdade. Depois não se sabe de onde vem tanta ignorância.

(Só queria saber se os pais desses alunos, que apoiaram tal manifestação de intolerância, assistem Big Brother, guardam revistas pornográficas, têm amantes ou falam de seus pares pelas costas, espancam seus filhos, enganam seus vizinhos e ainda se acham acima do bem e do mal e protegidos pela “glória de Nosso Senhor”, o qual com certeza não é o Criador)

Não expresso minha indignação por serem evangélicos, mesmo porque existe tolerância, sim, de vários grupos de evangélicos que interagem com outras religiões. Esses acabam sofrendo com a generalização. Eu a expressaria do mesmo jeito se tais bizarrices fossem proferidas por católicos, ateus, espíritas, budistas e quaisquer outros religiosos. Esse pessoal confunde evangelização com militarização em prol de uma guerra santa, o que por si só já vai contra os princípios da religião. Só me resta lamentar que tal mentalidade exista em pleno século 21, tantos séculos após a Idade das Trevas. E pelo jeito, com tantos outros exemplos que aparecem, vejo que a regressão da raça humana é fato inevitável.

Quem planta, colhe. Cada um que, depois, carregue a cruz pelos seus atos estúpidos. A minha eu sei que irei carregar, com orgulho e consciente.

sábado, 3 de novembro de 2012

Comentário: "Os pássaros" (The birds, 1963)


Ainda me lembro de quando assisti "Os pássaros", de Alfred Hitchcock, pela primeira vez. Foi na década de 1980, quando a Rede Globo exibia o Festival Hitchcock, que entre outros incluiu "Psicose", "Frenesi" e "´Topázio". Como eu era um moleque ainda, não conseguia ficar acordado até a hora do filme, mas descobri que meu irmão mais velho o havia gravado em VHS. Não contei conversa. Na primeira oportunidade, lá estava eu assistindo o drama de Melanie Daniels (Tipi Hedren), filha do dono de um grande jornal californiano, aprisionada na pequena cidade de Bodega Bay, na Califórnia, por uma série de repentinos e inexplicáveis ataques de todas as espécies de pássaros.

Ao final do filme, fiquei totalmente mudo e assustado, reação que tenho até hoje. Muitos não gostam do filme principalmente por dois motivos: efeitos especiais ultrapassados e um final sem explicação nenhuma. Digo que para assistir "Os pássaros" é preciso se transportar para a época em que o filme foi produzido. Na década de 1960, não havia efeitos espetaculares, mas o que vemos em "Os pássaros" foi um avanço para aqueles anos: cenários pintados incríveis, pássaros empalhados em meio a pássaros reais e montagens hoje muito óbvias. Mas para o público de 1963, era assustador. Hoje, é fichinha, mas Hitchcock estava à frente de seu tempo, e é algo a ser levado em consideração. Quanto ao final, a questão é: existe algo mais apavorante que testemunhar ataques de aves até então inofensivas e não conseguir encontrar a razão para isso? Essa foi a finalidade do diretor. Não é preciso ter uma explicação. Cada um que se apavore com suas teorias. O mundo estava um caos e nada mais tinha a aparência de inofensivo.

O bom humor de Hitchcock ficou evidente desde o início, no encontro casual entre Melanie e o advogado Mitch Brenner (Rod Taylor) em uma loja de pássaros em São Francisco. Ele a reconhece como a socialite que sempre saia em colunas de fofocas por seu comportamento, digamos, incomum e escandaloso, e resolve lhe pregar uma peça fazendo-a passar por uma verdadeira "saia justa" na lojinha. Em meio a discussões ferinas e encanto mútuo, Melanie vai à procura do advogado em seu refúgio dos finais de semana: a pequena Bodega Bay, onde Mitch tem uma fazenda na qual moram sua mãe viúva Lydia (a saudosa Jessica Tandy) e a irmã menor, Cathy (Veronica Cartwright, a Lambert de "Alien - o oitavo passageiro"). Na cidadezinha também mora a professora Annie Hayworth (Suzanne Pleshette), ex-namorada de Mitch, que se mudara para o lugar somente para ficar perto do advogado. Começa uma série de sutis conflitos entre Melanie e Lydia, uma mãe protetora e desconfiada. É quando iniciam gradualmente os ataques dos pássaros: primeiro contra Melanie em um barco, depois na festa de aniversário de Cathy, posteriormente na escola (uma das sequências mais tensas que já vi) até, finalmente, a família Brenner e Melanie ficarem encurralados na fazenda do advogado por milhares de pássaros. Cada um que explique suas metáforas.

Uma das melhores sequências é a do ataque a Bodega Bay. Ficou clássica entre os cinéfilos e admiradores de Hitchcock a cena em que a explosão de uma bomba de gasolina é vista de cima, do ponto de vista dos pássaros, que aos poucos começam a encher a tela, unindo-se para arremeterem contra os moradores da cidade. Uma pena que haja quem, hoje em dia, repudie essa obra-prima do cinema por motivos superficiais - para não usar um termo mais agressivo.

Houve uma sequência do filme, um pecado terrível que não deu certo, trazendo novamente Tipi Hedren no elenco, como uma dona de pousada. Essa pseudocontinuação era tão ruim que nem me lembro de nada do enredo, fora a presença da atriz (aliás, mãe de Mellanie Grifith). O original, primeiro e único para mim, tem lugar eternamente reservado na minha coleção.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Meus dias de fortalezense

Cheguei a Fortaleza na madrugada de 5 de setembro para 30 dias de descanso. Para muitos, um período muito longo de viagem, mas diante de um nível de estresse como nunca havia tido antes, foi um intervalo bem adequado. Enfim, estou de volta a Manaus, não antes sem registrar minhas impressões por essa passagem pela capital cearense.

Ano passado, passei 15 dias em Fortaleza e cinco em Natal. Dessa vez os 30 dias somente na capital do Ceará possibilitaram explorá-la melhor e conhecer outras maravilhas naturais cearenses – algumas que eu já conhecia (Cumbuco e Morro Branco) e outras descobertas (Lagoinha, Icaraí, Tabuba e Jericoacoara), restando ainda muito a ser conhecido em futura oportunidade.

Fortaleza, pelo que vi nesta segunda viagem, não se resume apenas à Praia do Futuro, a bares e baladas. Tive a oportunidade de viver como fortalezense e descobrir outros encantos dessa metrópole nordestina.

A capital do Ceará, com aproximadamente 2,5 milhões de habitantes, é bem servida de transporte coletivo, pelo menos comparada com Manaus. Em Montese, bairro onde fiquei instalado, várias linhas seguem para o Centro da cidade, onde ficam vários pontos históricos e culturais, como o Centro Dragão do Mar. A passagem, neste mês, é R$ 2,00, sendo R$ 1,40 aos domingos (como era em Manaus antes que o atual (e graças a Deus, futuro ex) prefeito tirasse esse benefício da população).

De Montese para o Centro, a viagem de ônibus não leva mais do que 10 minutos. Esse bairro é estratégico: fica bem pertinho do aeroporto e da rodoviária Engenheiro João Tomé, no bairro de Fátima (para esta, dava até para ir caminhando, e pelo atalho que achamos a caminhada durava aproximadamente 20 minutinhos). Só fica longe da Praia do Futuro, mas para economizar dinheiro com corridas de táxi (em média R$ 40 na bandeira 1) para chegar lá, resolvemos aprender a andar de ônibus na cidade.

Usar o transporte coletivo de Fortaleza, ao contrário do que eu imaginava, é muito fácil. O sistema viário da cidade possui grandes avenidas que ligam praticamente todos os extremos e por onde os coletivos circulam: Borges de Melo, Expedicionários, Domingos Olímpio, Santos Dumont, Pontes Vieira e Barão de Studart, só para citar algumas das principais. Basta entrar no site Fortalbus (www.fortalbus.com.br) que é possível ver o mapa de todas as linhas.

De Montese para a Praia do Futuro, em vez de gastarmos R$ 70 na ida e na volta de táxi (ou R$ 30 na corrida com nosso taxista gente boa Falcão por trecho), gastamos somente R$ 2 de Montese para o terminal no bairro do Papicu, onde duas linhas levam em poucos minutos à avenida Dioguinho, já na Praia do Futuro. Ali, nos tornamos clientes fieis da barraca Saturno Beach, onde há guarda-volumes com chaves que ficam em poder dos frequentadores, os preços são bons e ainda tem promoção.

Além das praias, Fortaleza tem a avenida Beira Mar, que vai de Iracema a Mucuripe, como ponto obrigatório de visita. Há barracas para todos os gostos, algumas na beira do mar, onde ainda é possível tomar banho, e a feira de artesanato a partir das 17h30. Também há os famosos shows de humor todas as noites com divertidos artistas locais. Uma questão importante é a alimentação. Pesquisando bastante você encontra boa comida por ótimos preços. Na Barraca do Dedé, no Meireles, você e seu acompanhante comem muito bem uma carne de sol destrinchada por R$ 15, com baião de dois, batata frita (ou macaxeira), farofa e salada. A variação dos preços atinge até o coco gelado: o mais barato que achamos custava R$ 1,50; o mais caro, R$ 2,50.

A parte cultural de Fortaleza é muito bacana! Além do Centro Cultural Dragão do Mar, que reúne maravilhas artísticas locais em todas as áreas, conhecer vários logradouros da cidade vale a pena, como a Praça do Ferreira, cercada por alguns prédios antigos e bem conservados (sobreviventes das pichações que imperam por todo lugar); a Praça dos Leões, onde há uma estátua da escritora cearense Rachel de Queiroz sentada em um dos bancos; e a Praça dos Mártires, em frente à Santa Casa de Misericórdia e perto do Mercado Central, esta última contendo um baobá em uma de suas entradas. Todas essas ficam no Centro.

Este ano consegui finalmente conhecer o Teatro José de Alencar e o Museu do Ceará. O primeiro é lindo e impressionante, mas infelizmente é alvo do descaso com o patrimônio histórico, pois já apresenta sinais de degradação que, se não tratados logo, ficarão em um estado irreparável. O teatro tem histórias bacanas, como o fato de que a classe mais abastada ficava nas frisas, enquanto ao populacho cabia a plateia, papel que com o tempo se inverteu. Ainda vemos pinturas retratando as principais obras do escritor. É uma viagem no tempo muito legal. Guias estão disponíveis para passar todas essas informações ao turista. Há horários para visitação, ao custo de apenas R$ 2 por pessoa.

No Museu do Ceará, ao lado da Praça dos Leões, é possível reviver a história do Estado por meio de objetos, quadros e jornais antigos. Vemos, por exemplo, cédulas e moedas antigas, espingardas que pertenceram a cangaceiros, o punhal de Virgulino Ferreira, o Lampião, objetos dos tempos da escravidão, imagens do Padre Cícero e obras originais de Rachel de Queiroz. Enfim, outra viagem no tempo que vale muito a pena!!!

Fortaleza também possui sua reserva ecológica, o Parque do Rio Cocó, localizado no bairro do Cocó e de fácil acesso. A caminhada pela trilha principal e outras secundárias é maravilhosa, dando a impressão de que você saiu da cidade (só o que nos tira da ilusão é a quantidade de edifícios que cercam o local e o som do trânsito que fica mais alto quanto mais se aproxima o fim da trilha). Há aves e outros animais na reserva, mas no dia de nosso passeio eles aparentemente resolveram se esconder. Paciência! Para quem tem receios quanto à segurança, o parque tem policiais na entrada e em diversos trechos da trilha, ou passando constantemente em bicicletas. E o melhor de tudo é que os passeios são gratuitos, mas há os pagos, representados por passeios de barco a serem agendados com a administração (ainda não foi dessa vez que encarei um desses).

Segurança, aliás, é algo a ser bem pensado, mas não só em Fortaleza. A criminalidade é geral, atinge toda e qualquer cidade grande. Mas algumas medidas podem ajudar a evitar problemas. Nas praias, por exemplo, prefira lugares que ofereçam os guarda-volumes (não vá pelo oba-oba ou pela “tradição”), jamais deixe seus objetos sobre as mesas (há muitos espertalhões disfarçados de vendedores) e evite contar dinheiro em público. Para melhor aproveitar, vá à praia de segunda a sábado. Nesses dias, o movimento é menor, restrito mais a turistas. Reserve o domingo para caminhar na Beira-Mar ou mesmo visitar outros lugares.

Em qualquer lugar que você vá no Centro, peça informações de camelôs ou trabalhadores do comércio. Eles irão lhe dar informações mais confiáveis. Infelizmente há muitos vagabundos disfarçados de coitadinhos. Fora da capital, só faça passeios de bugue com bugueiros ligados à associação local. Nada de aventureiros, para sua própria segurança.

Então, esses dias em Fortaleza mostraram que é possível viajar com economia. Basta não querer fazer luxo. O turista que melhor aproveita e menos tem gastos inúteis é aquele que se propõe a aventurar – com segurança, claro!

domingo, 30 de setembro de 2012

Jericoacoara, uma aventura para os fortes!

Manhã em Jericoacoara

A vila de Jericoacoara, no município de Jijoca, a aproximadamente 330 quilômetros de Fortaleza, possui algumas das mais belas praias do Nordeste e do mundo. Com apenas cinco ruas (Principal, São Francisco, do Forró, das Dunas e da Igreja), todas de areia, sem nenhum asfaltamento, cortadas por diversos becos, esse lugar pitoresco, de clima agradável e tranquilo, é cercado por dunas e formações rochosas litorâneas fantásticas, das quais se destaca a Pedra Furada, de deixar a pessoa sem fôlego (literalmente, pois do ponto de parada dos bugues a caminhada é bem longa).

Subindo a Duna do Por do Sol

Anoitecer em Jericoacoara

Baixa da maré

Rua Principal de Jericoacoara

Noite iluminada
Para chegar a esse paraíso cujo potencial turístico foi descoberto na década de 1970, a aventura não é para os fracos. A viagem de Fortaleza para Jijoca, em ônibus de luxo, leva cerca de quatro horas e meia. Dali para a vila de Jericoacoara leva mais uma hora e 15 minutos, aproximadamente, em uma jardineira (um tipo de pau de arara mais arrumado, porém nada confortável). Pela empresa Fretcar, que oferece essa rota direta, a passagem custa R$ 58 (valor de setembro/2012) por trecho (R$ 35,10 de Fortaleza para Jijoca e R$ 22,90 para sacolejar de Jijoca para Jericoacoara), com saída da rodoviária da capital cearense no bairro de Fátima, com passagens pelo aeroporto e pela avenida Beira Mar para pegar os turistas que compraram pacotes.

A rodovia CE-085, por onde vai o ônibus para Jijoca, está em muito bom estado de conservação, garantindo assim uma viagem tranquila. O transfer para a jardineira acontece imediatamente após a chegada do veículo a Jijoca. Dali em diante, é só aventura. O transporte passa por várias rotas de areia, corta a vila de Preá, onde há uma praia belíssima e de ondas fortes, e finalmente segue por várias dunas até chegar a Jericoacoara. Nesse caminho, é preciso aguentar os sacolejos e a areia levada pelo forte vento, que chega até a doer um pouco na pele. Mas a visão do paraíso compensa tanto sacrifício.

Orla de Jericoacoara
Chegando a Jericoacoara, ou Jerico, como chamamos para não enrolarmos tanto a língua, procurar hospedagem não é problema, pois pousada é o que não falta. As mais simples cobram diária de R$ 70 em quarto duplo, com direito a café da manhã, wi-fi grátis e televisão. Não foi nosso caso, pois ficamos sem a TV, o chuveiro tinha a água bem fraquinha (se usasse a descarga, então, era preciso esperar a caixa encher, sob pena de tomar banho sob gotículas) e o único ventilador não girava (as duas camas ficavam em lados opostos do quarto). Uma das camas estava com a grade quebrada e havia rachaduras no chão, provocadas com certeza pelo desmoronamento lento do solo onde foi construída a pousada. Mas, tudo bem. O negócio era aventurar, não “luxar”, e seriam somente dois dias.

Em Jerico há muitos restaurantes, mas é bom sempre pesquisar os lugares mais vantajosos, financeiramente falando. Só para se ter uma ideia, o restaurante onde almoçamos logo na chegada (chegamos com atraso de uma hora por conta do engarrafamento na saída da rodoviária de Fortaleza para o aeroporto e de lá para a avenida Beira Mar para apanhar turistas), um prato com 100 gramas de carne de sol custava R$ 12,90. Isso o mais barato. Para duas pessoas, havia restaurante cobrando R$ 56 a carne de sol, mas achamos o restaurante Marisol, na rua do Forró, onde a mesma refeição saiu a R$ 35, bem servida e deliciosa. Ali também funciona uma pousada que cobra R$ 80 a diária do apartamento duplo com ar condicionado (tivéssemos achado esse antes...). Não tinha o charme rústico daquela que escolhemos, mas era bem mais arrumadinha e confortável.

Vamos aos atrativos! De qualquer das cinco ruas da vila se chega à Duna do Por do Sol, à praia principal e à praia da Malhada. Nesta última há formações rochosas dignas de registro fotográfico, e por sua longa extensão é que se pode chegar à Pedra Furada (outra opção é subir o morro da cidade, numa caminhada que leva de 20 a 30 minutos, com muita disposição para aguentar o sol forte).

A Duna do Por do Sol é o local onde as pessoas se reúnem para admirar e registrar o início da noite. O vento lá em cima é forte e faz a areia doer um pouco no corpo, então é aconselhável proteger os olhos, principalmente, e ter cuidado com chapéus, pois, uma vez arrastados, dificilmente serão recuperados (o mesmo vale para dinheiro e objetos leves). Soubemos por um dos bugueiros que nos levou a um passeio no dia seguinte que a duna está condenada ao desaparecimento. Com o crescimento da vila e novas construções, a areia trazida de outras praias pelo vento, “alimentando” a duna, teve seu trajeto interrompido, então toda aquela areia que o visitante sente atingir seu corpo lá em cima é da própria duna, sendo levada para o mar. Para acelerar esse processo, visitantes sem noção alguma de preservação descem a encosta frontal da duna, levando mais areia consigo para a praia (em Natal, esse tipo de atitude levou à interdição do Morro do Careca, na praia de Ponta Negra, para evitar que a areia fosse levada para o mar, fazendo gradualmente desaparecer esse cartão postal do Rio Grande do Norte. Tal atitude deveria ser tomada em Jerico, pelo menos para evitar descidas pela frente da duna).

Por do sol
A praia principal é usada também como lugar de prática de esportes e festas diversas. As ondas são fracas graças à força do vento que sopra a partir da terra, o que torna o banho mais agradável e seguro para aqueles que não gostam de ondas fortes. Logo depois, em direção leste, fica a praia da Malhada, onde há muitas pedras, exigindo cuidado na escolha de onde parar para tomar banho. 

Árvore da preguiça
Esse foi nosso primeiro dia em Jerico, onde chegamos na tarde de 27 de setembro. No dia seguinte, conseguimos um passeio de bugue (ou buggy) para o litoral leste (tem também para o litoral oeste, onde há as dunas móveis, mas pelo tempo e pelos recursos financeiros escolhemos o outro). Negociamos para o bugueiro passar pela Pedra Furada (há outra rota para esse destino): mais R$ 10 por pessoa e pronto! Em geral cobram R$ 40 por passageiro na baixa estação. É bom procurar alguém credenciado à Associação dos Bugueiros de Jericoacoara, por segurança.

Para chegar à Pedra Furada o bugueiro nos deixou numa certa parte da praia. Devido às formações rochosas, o resto do trajeto é feito por caminhada de uns 30 minutos de duração. Vale a pena andar tanto, pois dá para se refrescar nas pequenas piscinas que surgem na praia com a maré baixa, e no trajeto nos admiramos com as esculturas naturais na areia.

Pedra Furada
Depois da Pedra Furada, começou a aventura para os fortes: praia de Preá, passando antes pela árvore da preguiça, entortada pela força dos ventos, a caminho da Lagoa Azul. Ali é outro espetáculo: águas bem azuis e rasas. Na outra margem fica um restaurante onde há redes armadas dentro da água e um trampolim. Dá para atravessar o lago a pé, mas não é indicado levar objetos, pois há desníveis no fundo que podem fazer a pessoa cair e derrubar tudo na água. Melhor ir sem nada ou de jangada (o jangadeiro cobra R$ 2,50, mas é bom dar dinheiro certinho porque o espertalhão nunca tem troco e ganha a mais nas costas dos turistas).
Lagoa Azul
Depois da Lagoa Azul fica a Lagoa do Paraíso, igualmente linda e de águas azuis, mas com a diferença de que há formação de pequenas ondas por conta dos ventos fortes e uma tirolesa, além de passeios de jangada. Um único restaurante explora o lugar, por isso ou você fica sem comer ou desembolsa no mínimo R$ 45 por uma cavala para duas pessoas (mas é uma delícia, então vale a pena). Foi o ponto final do passeio, onde almoçamos e voltamos para Jerico cortando dunas e mais dunas, admirando a beleza natural do lugar. Depois de um passeio de bugue, com tantos sacolejos, difícil alguém ficar inteiro, mas geme de dor com o maior prazer.

Lagoa do Paraíso
A noite em Jerico é agradável. Não há postes de iluminação pública, o que dá aquele ar primitivo delicioso. Os restaurantes sempre estão cheios, a praça da rua Principal fica cheia de crianças e jovens, dá para passear com segurança pela praia (desde que não se vá a lugares muito ermos). A dica para quem não quer pagar outra fortuna como no almoço é procurar as barraquinhas e carrinhos de venda de comida, onde um bom prato individual (e muito gostoso) pode sair por R$ 5. Melhor que os R$ 56 de carne de sol (fora 10% da taxa de serviço) ou os R$ 8 dos pratos executivos de restaurante (fora os mesmos 10% de taxa). O vento afugenta o calor e o gostoso é deitar e olhar para as nuvens passando pela lua, dando a impressão de que nosso satélite está correndo nos céus.

Vista a partir da Duna do Por do Sol
 Voltamos para Fortaleza no sábado, 29, na jardineira das 15h, que nos deixou em Jijoca para transferência ao ônibus de luxo. Se tivéssemos mais algum dinheiro, teríamos curtido o litoral oeste, mas fica para um futuro retorno, talvez com o tão falado aeroporto em construção nas proximidades. Por um lado, se tal terminal aeroviário realmente sair do papel, vai facilitar mais o acesso, mas por outro, vai contribuir para o fim do sossego naquele paraíso, já quebrado por bagunceiros e oportunistas.

Duna do Por do Sol


Rota dos bugues


Lagoa do Paraíso
Então, essa experiência em Jericoacoara nos serviu para mostrar que, não se querendo luxo demais e tendo espírito de aventura, é possível curtir bastante sem gastar uma fortuna. A dica é apanhar o ônibus na rodoviária de Fortaleza (saem em dois horários diários: às 8h e às 15h), procurar pousada tão logo se chegue em Jerico (é bom pesquisar na internet e telefonar para saber. Um funcionário da pousada e restaurante Marisol informou que, pelas agências, a diária de R$ 80 pula para R$ 120, só para se ter ideia) e, se quiser evitar fuzarca e desordem de gente que bebe para cair e criar confusão, nunca ir em finais de semana (o ideal é ir numa quarta ou quinta-feira para voltar no sábado).

Outra dica valiosa: como em Jerico não existe agência bancária, leve o máximo de dinheiro possível para pequenas despesas (comprar refrigerante, água de coco e afins). Boa parte do comércio local aceita cartões de crédito e débito.

Por tudo isso, Jericoacoara é uma aventura inesquecível!!!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

De Icaraí a Cumbuco

Na região metropolitana de Fortaleza, Caucaia é um município que ganhou destaque por ser um dos lugares que teve maior geração de empregos no Ceará, informação essa colocada em outdoors ao longo das estradas que levam à sede municipal. Também possui um litoral que reúne três belas praias, uma ao lado da outra: Icaraí, Tabuba, onde há o lago do rio Barra Nova, e Cumbuco.

Para qualquer das três praias, basta pegar o ônibus intermunicipal na avenida Duque de Caxias, Centro de Fortaleza, logo após o cruzamento com a Avenida do Imperador. O valor da passagem, dependendo da linha e do destino final, varia de R$ 2,50 a R$ 3,70 (valores de setembro/2012), em uma viagem que dura em média 40 minutos. O turista mais resistente pode fazer uma caminhada de Icaraí até Cumbuco pelo litoral.

Icaraí

Icaraí


Chegando a Barra Nova
 A primeira parada é Icaraí. Descendo na avenida Central nesse distrito, basta pegar qualquer rua perpendicular para sair na praia. Uma parte dela não é adequada para banho, não por poluição ou algo parecido, mas pela força das ondas, que arrastam muitas pedras. Ao longo desse trecho foi feito um muro de contenção e é bacana observar as ondas arrebentando contra a estrutura na maré alta. Passado o muro, é possível entrar no mar, mas todo cuidado é pouco com as pedrinhas e conchas, que no repuxo da onda podem até machucar os pés. Mas não é difícil achar um local melhor para banho.

Logo após Icaraí chegamos à praia de Tabuba, demarcada pelo rio Barra Nova, onde se forma um lago represado pelo oceano, totalmente raso e palco da prática de kitesurf. Aliás, essa atividade dá um colorido especial ao litoral cearense e é praticada muito mais em Cumbuco em razão de essa praia ter poucas ondas mas vento bastante forte, favorecendo as manobras radicais e espetaculares dos kitesurfistas.
Tabuba

Tabuba

Tabuba

A força da natureza em Tabuba

Tabuba

Barra Nova
Logo após o rio Barra Nova, onde há o restaurante Rei do Caranguejo, a extensão de Tabuba impressiona pelas evidências da força das marés que vão erodindo as dunas. Ao longo da praia podemos ver esses efeitos: palmeiras presas somente pelas raízes, outras tombadas e cobertas pela areia, pedaços de calças e imóveis que desabaram pela ação da natureza.

Ainda em Tabuba, é preciso tomar cuidado com as pedras que ficam encobertas na maré alta. Enquanto o nível do mar está baixo, é possível fazer um cantinho para reunir os amigos e família e curtir banho de mar.
Cumbuco

Cumbuco

Cumbuco

Cumbuco

Cumbuco
Finalmente, após a longa enseada deserta, chega-se a Cumbuco, facilmente identificável pelas jangadas e pela grande presença de kitesurfistas. Ali há mais restaurantes para os visitantes, algo que se vê em menor número em Icaraí e Tabuba. Também é possível conseguir um passeio de bugue até uma série distante de dunas. Nesta época, é possível conseguir passeio até R$ 100 por grupo, montar cavalos e passear de jangada por um custo médio de R$ 10 por pessoa. Na hora do almoço, o bom é pesquisas preços. Conseguimos uma carne de sol bem servida para duas pessoas por R$ 30. Em outro ponto, o mesmo prato custava R$ 38.

De qualquer das praias é possível voltar a Fortaleza indo para a avenida paralela às praias. A dica é voltar pelos microônibus (ou, como chama aqui, vans), cuja passagem é mais barata que a do ônibus de linha convencional e a viagem é bem mais rápida.

O que há de se lamentar ainda é a falta de conscientização dos visitantes. Ao longo das três praias encontramos garrafas plásticas, copos, embalagens, garrafas quebradas (principalmente nas pequenas dunas) e até mesmo preservativos. Falta de consideração com uma natureza que nos dá tanto para apreciar em troca apenas de respeito.

sábado, 15 de setembro de 2012

As belezas de Lagoinha

Lagoinha
Para chegarmos a Lagoinha, precisamos embarcar na rodoviária de Fortaleza, no bairro de Fátima, com destino a Paraipaba, onde fica a praia, em uma viagem de duas horas, passando ainda por Caucaia e São Gonçalo do Amarante. A viagem é tranquila (as rodovias cearenses, pelo menos na região metropolitana de Fortaleza, são muito boas), feita pela empresa Fretcar, com ônibus-leito confortáveis. Valor da passagem: R$ 8,45 (há ainda uma taxa de embarque paga somente na ida).

Outro ângulo da praia

Chegando a Paraipaba, é preciso ainda pegar um lotação (cujo valor vaira de R$ 3 a R$ 5 por pessoa, dependendo da negociação) para ir a Lagoinha, 12 quilômetros adiante. A vila é bonita e tranquila, com ruas de pedra, ventiladíssima. Descemos uma escada de acesso à praia e já somos brindados com uma visão fantástica do litoral. 
Antes da maré alta

Há muitas barracas na praia, com bons preços. Uma carne de sol (aliás, eles escrevem por aqui "carne DO sol") para duas pessoas na barraca do Dudé, onde ficamos, saiu por R$ 30 (na Praia do Futuro o menor valor que achamos foi R$ 34,90, e não foi tão bem servida quanto a de Lagoinha). Jangadas e palmeiras ajudam a compor o belo cenário do local, mas o vento forte é igualmente marcante. A areia é arrastada pela corrente de ar e chega até a doer no corpo, então como dicas posso dizer que o ideal é caminhar mais perto do mar, onde a areia é úmida, e almoçar dentro dos restaurantes, e não nas mesas com guarda sol. Também é preciso muito cuidado com chapéus, bonés e até mesmo ao tirar o dinheiro da carteira, pois o vento é impiedoso e o que mais se vê pela praia são pessoas correndo atrás de seus adereços (dizem por aqui que é possível até achar dinheiro levado pelo vento, preso na vegetação da praia).

Lagoinha me encantou. Mas, como em Morro Branco, há o problema da falta de conscientização: garrafas plásticas, sacos, embalagens de salgadinhos e sorvetes são somente algumas das porcarias deixadas por turistas ou moradores locais. Não fosse por esse triste detalhe, que poderia ser combatido com ação dos próprios comerciantes do local, esse paraíso seria totalmente perfeito!

O paraíso de Morro Branco


Praia de Morro Branco

Morro Branco fica em Beberibe, a cerca de duas horas de Fortaleza, tempo esse de viagem de ônibus que sai do terminal da empresa São Benedito, na avenida Domingos Olímpio, Centro da capital cearense, passa por Aquiraz e Cascavel até chegar ao seu destino final. Este mês, a passagem está custando R$ 8,50. Há uma razão especial por eu ter me apaixonado por esse lugar: a tranquilidade.

A vila de Morro Branco tem ruas de pedras. O asfalto existe somente na estrada de acesso que termina na praia. Ali existem duas praias, aliás: a de Morro Branco, propriamente dita, onde ficam os restaurantes, e a Praia das Fontes, ao lado, mais extensa e ideal para caminhadas, pois em sua extensão há fontes de águas naturais (daí o nome) em que se pode aliviar o calor (além, claro da água do mar). Há ainda a opção dos bugues, mas particularmente o contato direto com a areia é mais revigorante (e econômico, pois o olho dos caras cresce demais)!

Praia das Fontes
Mas há outro fator que torna Morro Branco tão especial: as falésias de Beberibe, esculpidas pela natureza e de onde os moradores locais retiram as areias coloridas para fazer artesanato (como aquelas garrafinhas com lindos desenhos em areia). É um parque grande, repleto de labirintos que chegam à Praia das Fontes e com o ponto alto em um farol, onde se chega com muito fôlego para subir as trilhas.
Parque das Falésias

Pelo menos enquanto estive lá (e foram duas vezes), não há baladas e agitos. A vila é pacata, daquelas em que se dorme cedo ouvindo o barulho das ondas quebrando na praia, ou se conversa até altas horas da noite nas calçadas ou na pracinha próxima à central de artesanato, com uma vista maravilhosa do litoral. Legal mesmo deve ser a reunião na Praça da Mentira, onde se encontram pescadores e outros contadores de história. E o vento que vem do mar? Não é necessário ventilador ou ar condicionado.

Há pousadas para todos os gostos em Morro Branco, mas tanto em 2011 quanto agora, fiquei na Pousada Brasília, com preço mais em conta (R$ 80 para suíte dupla com televisão, frigobar e café da manhã) e bem simples, mas nem por isso menos aconchegante. O lugar pertence à dona Mazinha, brasiliense que o administra há décadas com seu filho.

Nem tudo é perfeito, porém. Nas proximidades da praia, há muito lixo jogado - principalmente garrafas plásticas, copos descartáveis e embalagens de comida. Na escada de acesso ao litoral, vemos muitos sacos plásticos jogados na vegetação. Em parte, eles são arrastados pelo vento. E olhem que as barracas na praia possuem lixeiras.

Não exagero quando digo que Morro Branco é como a Santana do Agreste criada por Jorge Amado: um bom lugar para esperar a morte... E muito feliz!


domingo, 2 de setembro de 2012

Minha vida de editor: um homem chamado Tábata

Em 2007, eu era editor do caderno de Cidades no Amazonas em Tempo e uma das minhas repórteres era a Michele Gouvêa, hoje chefe de reportagem do jornal. Nós dois passamos por um estresse que agora rende boas risadas, mas na época o negócio não foi nada engraçado.

Recebi uma ligação da portaria do jornal, avisando que uma pessoa chamada Tábata queria fazer uma denúncia. Michele foi escalada para captar a história. A surpresa foi que Tábata, na verdade, era o "nome de guerra" de um rapaz (vamos chamá-lo de Roberto) que estava denunciando atitudes preconceituosas contra sua pessoa em uma secretaria municipal, onde trabalhava. Ele(a) dizia que estava sendo perseguido(a) e ameaçado(a) de demissão por causa de sua orientação sexual. Coisa muito grave, mesmo!

Fizemos tudo como manda o figurino. A Márcia Daniella, que era assessora da secretaria denunciada naquela época, nos deu a resposta: Tábata era alvo de reclamações do público porque estaria tratando as pessoas com arrogância, e por isso lhe foi chamada a atenção diversas vezes, sem nenhum tipo de discriminação gerada por sua orientação sexual. Ouvidos os dois lados, Michele fez a matéria, editei e publiquei.

No dia em que a matéria saiu, Tábata/Roberto ligou e pediu para falar com Michele. Essa repórter é a coisa mais doce que já conheci, que nem a Rúbia Balbi nos tempos do Estadão, mas vi a garota "pirar o cabeção" e discutir com Tábata/Roberto. Ela me disse que a criatura havia reclamado da matéria, que queria fazer outra reportagem para ser manchete. Óbvio que isso não aconteceu.

Mas a coisa não parou por aí. Depois eu fui a bola da vez. Tábata/Roberto ligou e pediu para falar comigo.

- Olha, seu César. Estou ligando só para dizer que minha manchete vai sair no jornal A Crítica, porque o Amazonas em Tempo mentiu. E também estou querendo só te avisar que vou processar o jornal por causa dessa matéria. (só faltou dizer "quero que Deus ilumine cada canto dos teus 'caminhu'")

- Tudo bem, seu Roberto (eu não conseguia usar o nome "Tábata"). Faça o que achar que lhe é de direito - eu respondi, praticamente mastigando meus próprios dentes.

Dito isso, bati o telefone, fulo da vida. Praguejei até não aguentar mais. Michele veio ver o que acontecia e contei do abuso. Como havíamos constatado, tal pessoa não tinha o juizo perfeito.

Claro que ele(a) nunca processou o jornal. Acho até que nem o jornal A Crítica publicou alguma coisa. Eu lembro que liguei para lá e falei com alguém (acho que o Paulo André Nunes ou o Saulo Borges), avisando o que acontecera, para preveni-los caso Tábata/Roberto realmente os procurasse para atacar o jornal  Hoje o episódio só é lembrado quando eu encontro a Michele e apenas digo isso:

- Quem quer falar contigo é a Tábata!

Vamos rir para não chorar!


Minha vida de repórter: os abusados e os arrogantes

De vez em quando, na vida de repórter, você dá de cara com alguém abusado, daqueles que gostam de perguntar "sabe com quem está falando?" ou se acham com o direito de meter o bedelho em assuntos fora de seu domínio. Encarei vários assim, mas em nome da boa relação tive que engolir "sapos".

Ainda no Jornal do Norte, já não tão foca, tive esse tipo de experiência com Nelson Ned, aquele cantor nanico que, para recuperar sua carreira decadente, virou evangélico e passou a renegar o passado de luxúria. Só se esqueceu de que arrogância também é pecado. Fui escalado para cobrir duas apresentações naquela noite de 1996, e uma delas era a desse cidadão. No entanto, comecei pelo outro show, programado para iniciar mais cedo. Acontece que demorou demais e, quando nossa equipe chegou ao Nostalgia Clube, no bairro Cachoeirinha, zona sul de Manaus, local de apresentação de Nelson Ned, ele já estava terminando seu falatório. O jeito era esperar. Quando acabou tudo e ele saiu do palco, fomos ao seu camarim para conversar. Cumprimentei-o educadamente. O objetivo da matéria, expliquei, era mostrar como o novo modo de vida havia modificado o cantor. Ele simplesmente, do seu metro e parcos centímetros de altura, somente me olhou e disse:

- Não vou falar nada. Contei tudo em minha apresentação.

Tentei argumentar, pedi desculpas pelo atraso por causa da pauta anterior, mas não teve jeito. Aquele boneco de ventríloquo afirmou que não iria repetir tudo e ponto final. Tive vontade de mandá-lo pegar toda aquela arrogância e socar naquele lugar onde o sol não bate, mas suspirei, chamei o fotógrafo e demos meia volta. Gastar meu verbo com esse tipo de gente? Não, obrigado. E o desgraçado ainda falou (eu não ouvi. O Rodrigo Pacheco Araújo, que acompanhou nossa equipe naquela noite, ouviu e me contou depois), quando cruzamos a porta do camarim:

- Que cara folgado!

Essa atitude arrogante mereceu uma nota de escracho na edição seguinte do jornal. Por onde anda esse sujeito hoje, não sei nem quero saber. Já não era grande coisa, sem trocadilhos, talvez agora não seja nada.

Outro caso de que me lembro aconteceu no jornal Amazonas em Tempo, por volta de 2001. O editor me passou uma pauta no bom estilo drama humano: um radialista (faz tempo, então esqueci seu nome) estava passando por necessidades, sem trabalho e doente, então fomos lá falar com o homem. Ele deveria ter uns 50 e poucos anos e sua pele era completamente amarela. Usava óculos escuros porque tinha fotofobia. Morava em uma casa inacabada de tijolos em um bairro da periferia de Manaus. Por causa da hepatite, seu fígado estava praticamente destruído. Não conseguia mais trabalho devido ao seu estado. Situação terrível, mesmo.

Escrevi a matéria, saiu no dia seguinte. Qual não foi minha surpresa ao receber uma ligação do referido cidadão. Reproduzo suas exatas palavras:

- Olha, César. A matéria ficou legal, mas se fosse paga, eu teria que pagar de novo, porque tu não colocou o número da minha conta para o pessoal depositar dinheiro.

Fiquei boquiaberto. Em nenhum momento da entrevista ele falou de conta, de campanha para ajuda nem nada disso. Ao espanto seguiu-se a irritação. Como no caso do Nelson Ned, por pouco não disse ao cidadão o que deveria fazer com a sua conta bancária. Ele teve que se contentar com o que havia sido publicado. A essa altura do campeonato, deve ter morrido.

E assim nossa vida nada fácil vai seguindo. Não foram os primeiros arrogantes e abusados a cruzarem os caminhos dos jornalistas, e provavelmente não serão os últimos. Haja paciência, então!

Minha vida de foca: os Mamonas Assassinas

Cobrir shows para o caderno Radar era uma das minhas pautas frequentes no Jornal do Norte. Em janeiro de 1996, lá fui eu cobrir o show dos Mamonas Assassinas no Studio 5. Eu não gostava do estilo do grupo, apesar das letras engraçadas e tolas. Continuo não gostando até hoje. Mas eles eram notícia, estouravam nas rádios, o sucesso era estrondoso e não havia como negar isso.

Esse trabalho de cobertura é legal, mesmo sendo de um estilo musical que não lhe agrada (mas depois de um tempo fica enfadonho, portanto deduzi que não era o tipo de pauta que me animava). Fui ao Studio 5 com a repórter fotográfica Ana Cláudia Jatahy. Gente saindo pelo ladrão, principalmente crianças, o público que os cinco rapazes do Mamonas Assassinas mais atraia. Entrevistei algumas, vi uma parte do show, observei o comportamento do público, a organização, a produção e a interatividade de Dinho e seus amigos com a plateia.

O show fora numa sexta-feira ou sábado, não lembro bem. No dia seguinte, fui ao jornal escrever a matéria. Não pude deixar de usar sarcasmo (contido, claro) para contar como fora a apresentação. Letras sem pé nem cabeça, tolas até, mas que encantavam aquela garotada. Fazer o quê? Pensando bem, ainda eram melhores que essas porcarias que fazem sucesso agora. Os Mamonas Assassinas faziam música para divertir. Não existe mais isso hoje.

O tempo passou. Quase dois meses depois, chego em um domingo para o plantão no jornal e a editora Tania Celidonio me recebe com a bomba: na noite anterior, o avião com os cinco integrantes dos Mamonas Assassinas caira na serra da Cantareira, em São Paulo, quando voltavam de sua apresentação em Brasília. Curioso como eu fizera a matéria do show e agora fora escalado para fazer um retrospecto da carreira meteórica do grupo até o acidente. E lá fui eu, com o amigo Ricardo Nixon, ouvir algumas pessoas para aquele velho feijão-com-arroz que se segue à morte de alguma celebridade e pesquisar toda a sua história. A novidade é que nós regionalizamos o impacto do desaparecimento prematuro dos jovens artistas, em vez de somente reproduzir matérias de agências.

Foi uma comoção muito grande. Em tom de brincadeira, muitos colegas falaram que eu estava sendo castigado por ter detonado (exagero, claro, pois nunca tive intenção de bancar o crítico) a apresentação do grupo (pior ainda foi o show de Maurício Mattar no mesmo Studio 5, que reuniu pouco mais de 20 mulheres, em um dos maiores fiascos que já testemunhei. Mesmo assim, o cara foi uma simpatia com aquele minúsculo fã-clube). O que importava, entretanto, era o encanto que aqueles cinco rapazes bobos levaram àquela geração. Vendo tanta porcaria que faz sucesso hoje, devo confessar que éramos felizes, mas não sabíamos. Aí é para lamentar realmente a perda daqueles jovens talentos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Minha vida de editor: pérolas infames

O meu verdadeiro terror como editor, além de pegar um texto sem pé nem cabeça ou repleto de erros para ser reescrito, eram as pérolas. São frases escritas pelo repórter que soam absurdas e engraçadas, seja pelo uso de uma palavra "deslocada" ou de expressões trocadas.

Durante meus anos de redação como editor, deparei-me com várias dessas verdadeiras infâmias, até que chegou um tempo em que resolvi colecioná-las. Criei um arquivo e para ali copiei as pérolas da minha equipe. Foi uma forma de chamar a atenção do repórter e lhe dar um puxão de orelha para ter mais cuidado com o que escrevia. Funcionou, na maioria das vezes. E acabou virando nossa própria diversão (claro que eu não identifiquei os autores nem o farei agora, mas cada um sabia do seu lapso).

Um primeiro exemplo de abismar: uma repórter usou a expressão "tráfego de drogas". Veio-me à mente uma autoestrada em que as trouxinhas de cocaína disputavam espaço com cigarros de maconha e seringas de heroína, como se fosse um quadro bem surreal que deixaria Salvador Dali com inveja. Em outra situação a jornalista usou a expressão "o buraco tinha quatro metros de altura". Certo? Errado? Depende do ponto de vista. Creio que ela entrou no buraco, olhou para cima e calculou a altura. Mas, obviamente, tal coisa não aconteceu e foi pura falta de atenção na hora de escrever, e em vez de "profundidade", o termo usado foi "altura". Mais uma clássica: "a escada era alta a ponto de causar vestígios". Foi o fim da picada. Outro escreveu "o cidadão foi atingido por um soco no lado esquerdo do olho". Tétrico!!!! Como essas, havia dezenas de outras, mas infelizmente perdi meu arquivo quando estava no jornal O Estado do Amazonas, porém é possível sentir o drama pelo qual passei. Sem falar nos erros de sempre: "elo de ligação", "erário público" e por aí vai.

Quando não eram expressões erradas ou absurdas, eram situações aparentemente dramatizadas de forma proposital, mas que soavam ridículas. Citarei duas que são o "must" da falta de bom senso. No primeiro caso, o repórter escreveu uma matéria sobre um acidente sofrido por um motoqueiro, o qual trabalhava como entregador de pizzas. Em certa hora da noite, o entregador passava por uma determinada rua em Manaus quando surgiu em sua frente um cachorro (bom, aparentemente o animal se materializou diante do motoqueiro). O coitado do rapaz foi desviar e acabou perdendo o equilíbrio e se estatelando no chão, e as pizzas se espalharam pelo asfalto. Populares da área correram para acudir o rapaz. A história terminaria aí, não fosse o gran finale: "o cão ainda voltou ao local e comeu várias pizzas". Até hoje meu amigo Marcelo Brasil se emociona com tamanha pérola! Eu ficava em dúvida entre rir ou chorar.

O segundo caso conseguiu ser mais surreal ainda. Segundo o repórter, houve um acidente envolvendo um ônibus do antigo sistema Expresso, daqueles articulados enormes (a maioria transformados em cacarecos assustadores que ainda circulam). Em sua história, ele afirmou que o coletivo partiu-se em dois. Várias pessoas que estavam justamente no ponto articulado do veículo caíram e se machucaram bastante. E o resto? O jornalista escreveu que "a outra metade foi embora levando os demais passageiros". Difícil mentalizar tal disparate. Creio que o repórter havia assistido o filme "As incríveis peripécias do ônibus atômico", onde isso realmente acontecia. Mas ficção é ficção.

Para encerrar, um caso incrível que eu nunca havia visto antes. O repórter conseguiu um "furo", uma entrevista com um traficante de drogas chamado Keka, detido pela polícia. Seguem os trechos finais do pingue-pongue, como foram escritos, e que me assombram até hoje:

"Repórter - Mas conte para nós, Keka: quem mais está envolvido no tráfico de drogas em Manaus?

Keka - Vai te fuder, meu irmão. Quer que eu me ferre? Quer me prejudicar? Podem me matar por isso. Vai pra puta que te pariu!

Repórter - Não é isso, Keka. É que queremos ajudar na luta contra o flagelo das drogas"

Tenho ou não razão em dizer que é o mais puro terror para um editor?

domingo, 26 de agosto de 2012

Minha vida de repórter: pautas furadas

Se algum repórter disser que nunca pegou uma pauta furada ou ridícula, daquelas capazes de colocá-lo em uma situação constrangedora até, está mentindo. Acontece, e como! Na minha época de repórter do jornal Amazonas em Tempo, foi o que mais me ocorreu. Íamos atrás do ouro e voltávamos com ouro de tolo. Foram muitas furadas, mas três são dignas de serem lembradas.

Invasões
De vez em quando pipocavam invasões em Manaus, e lá íamos cobrir. Algumas rendiam um ótimo material, quando a área invadida era de preservação e havia conflitos. Em 2000, recebi uma pauta sobre um terreno invadido na estrada da Ponta Negra, onde hoje existe um posto de gasolina, nas proximidades do hipermercado DB. Chegamos ao local, eu e Danilo Mello, e estranhamos a calmaria. O terreno era cercado por um muro de tijolos, mas, fora um segurança na entrada, estava vazio. Será que fomos ao local errado? Perguntei ao segurança e a resposta foi: algumas pessoas haviam tentado realmente invadir, mas foram logo impedidos e não houve maiores conflitos. Gasolina e tempo perdidos.

A febre dos patinetes
Essa pauta começou comigo, passou para a Márcia Daniella e depois para a Patrícia Almeida. Nunca foi feita. Nosso editor havia dito que Manaus passava por uma verdadeira febre de patinetes, e por todos os lugares viam-se crianças usando o brinquedo. Esse foi o problema. Onde fomos, nunca víamos as tais crianças e os tais patinetes. Procurei até nos mais distantes recantos de Manaus, inclusive no perigoso Bariri, uma região não muito digna de visitas até hoje. Tempos depois chegamos a uma conclusão: a febre dos patinetes acontecia somente no condomínio do editor. 

Dia de Finados
Em 2002, meu editor me passou uma pauta até interessante, inspirada em uma matéria retirada da Agência Estado, sobre histórias curiosas a respeito do Dia de Finados - rituais diferentes e casos insólitos. Gostei da ideia e sai em campo. Pior foi aguentar o olhar dos funcionários das funerárias quando eu me identificava e explicava qual era a matéria. Ou ninguém entendeu o espírito da coisa ou Manaus não tinha histórias para contar. Passei por umas cinco funerárias, e em somente uma consegui um "causo": segundo a gerente, dois funcionários foram buscar o cadáver de um idoso em um hospital. Na hora de erguer o morto pelos braços e pelos pés, o corpo soltou gases, o que fez com que um dos trabalhadores tomasse um tremendo susto, largasse as pernas do cadáver e saísse em disparada do local. Quase morri de rir da história. No entanto, por tão pouca quantidade de informação, a matéria não foi escrita. Mais uma pauta furada para minha coleção.

Trabalho de repórter é isso aí!!!!




VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...