quinta-feira, 22 de junho de 2023

FILMES: Koyaanisqatsi (1982)


A primeira vez em que assisti "Koyaanisqatsi: uma vida fora de equilíbrio", de 1982, foi durante uma aula da disciplina "Expressão Oral e Escrita I", do segundo período do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amazonas, em 1992, ministrada pelo saudoso professor Dalcyr Pereira Braga. Foi uma sensação inesquecível.

Até então, eu já tinha conhecimento sobre o documentário de Godfrey Reggio, graças aos guias lançados periodicamente pela editora Nova Cultural nas bancas, com relação de filmes lançados em VHS (que ainda era popular na época mas que logo iria começar a perder espaço para o DVD). Esse contato na faculdade foi um caso de amor à primeira vista.

"Koyaanisqatsi" - palavra que no dialeto do povo americano Hopi significa "vida fora de equilíbrio" - inovou o gênero documentário ao nos apresentar uma série de imagens aparentemente aleatórias, sem nenhum diálogo ou narração, costuradas pela trilha sonora excepcional criada por Godfrey Reggio que promove um elo perfeito entre imagem e som, como a própria música coreografasse as cenas, repletas de fast forwards, slow motions e fusões que atestam a grandiosidade da obra.




Começamos com desenhos e inscrições feitas pelo povo Hopi em pedras, passando pela natureza intocada e seu equilíbrio, sua beleza, até que surge a transição gradativa para a interferência humana, com máquinas trabalhando em extração de pedras, usinas nucleares, o ritmo intenso da vida urbana e as interações sociais, tudo isso em melodias que geralmente começam calmas e depois aceleram aos poucos, comprovando esse "balé" da vida humana.

Todas as imagens foram feitas no próprio território americano em meados da década de 1970, o que define a diferença entre "Koyaanisqatsi" e seus sucessores, "Powaqqatsi: a vida em transformação" (1988) - que abrangia os países do Hemisfério Sul e Ásia -, e "Naqoyqatsi" (2002) - onde se retrata o mundo digital e beligerante.

O grande mérito de "Koyaanisqatsi" é ser compreendido nos dias atuais como retrato de uma vida que pouco ou quase nada mudou em 40 anos, apesar das diferenças dos avanços tecnológicos ocorridos nesse interim. Não que o documentário seja datado, sendo este um adjetivo impensável para um documentário que revela aquele contexto temporal, mas sim reafirma nossa existência como um turbilhão de interferências que afetam a sociedade e a natureza como um todo, provocando sobretudo desequilíbrio em todas as suas formas, seja com nossa relação com a natureza, com o que ela nos oferece e como dela extraímos nosso modo de vida de forma predatória, seja com a relação entre nós, animais racionais que praticamente não agem dentro do conceito da racionalidade, destruindo e transformando em eternas apostas para sobrevivência - aqui há uma parte do documentário que coroa isso, ao abordar o projeto do complexo habitacional Pruitt-Igoe, um fiasco executado na cidade de Saint Louis, Estados Unidos, que resultou na demolição, em 1976, de vários edifícios de apartamentos numa área tomada pelo abandono e pela violência.

Quando revejo "Koyaanisqatsi", eu revivo aquela primeira sensação vivenciada na graduação. Começa com uma paz imensa, uma coisa bem naturalista, que aos poucos começa a acelerar até fazer você ofegar ou ficar tonto. Como disse na época nosso professor Dalcyr, "é um espelho", o qual até hoje nos oferece uma imagem crua do desequilíbrio presente em nossas vidas.


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