Cheguei a Fortaleza na
madrugada de 5 de setembro para 30 dias de descanso. Para muitos, um
período muito longo de viagem, mas diante de um nível de estresse
como nunca havia tido antes, foi um intervalo bem adequado. Enfim, estou de volta a Manaus, não antes sem registrar minhas
impressões por essa passagem pela capital cearense.
Ano passado, passei 15
dias em Fortaleza e cinco em Natal. Dessa vez os 30 dias somente na
capital do Ceará possibilitaram explorá-la melhor e conhecer outras
maravilhas naturais cearenses – algumas que eu já conhecia
(Cumbuco e Morro Branco) e outras descobertas (Lagoinha, Icaraí,
Tabuba e Jericoacoara), restando ainda muito a ser conhecido em
futura oportunidade.
Fortaleza, pelo que vi
nesta segunda viagem, não se resume apenas à Praia do Futuro, a
bares e baladas. Tive a oportunidade de viver como fortalezense e
descobrir outros encantos dessa metrópole nordestina.
A capital do Ceará,
com aproximadamente 2,5 milhões de habitantes, é bem servida de
transporte coletivo, pelo menos comparada com Manaus. Em Montese,
bairro onde fiquei instalado, várias linhas seguem para o Centro da
cidade, onde ficam vários pontos históricos e culturais, como o
Centro Dragão do Mar. A passagem, neste mês, é R$ 2,00, sendo R$
1,40 aos domingos (como era em Manaus antes que o atual (e graças a
Deus, futuro ex) prefeito tirasse esse benefício da população).
De Montese para o
Centro, a viagem de ônibus não leva mais do que 10 minutos. Esse
bairro é estratégico: fica bem pertinho do aeroporto e da
rodoviária Engenheiro João Tomé, no bairro de Fátima (para esta,
dava até para ir caminhando, e pelo atalho que achamos a caminhada
durava aproximadamente 20 minutinhos). Só fica longe da Praia do
Futuro, mas para economizar dinheiro com corridas de táxi (em média
R$ 40 na bandeira 1) para chegar lá, resolvemos aprender a andar de
ônibus na cidade.
Usar o transporte
coletivo de Fortaleza, ao contrário do que eu imaginava, é muito
fácil. O sistema viário da cidade possui grandes avenidas que ligam
praticamente todos os extremos e por onde os coletivos circulam:
Borges de Melo, Expedicionários, Domingos Olímpio, Santos Dumont,
Pontes Vieira e Barão de Studart, só para citar algumas das
principais. Basta entrar no site Fortalbus (www.fortalbus.com.br) que
é possível ver o mapa de todas as linhas.
De Montese para a Praia
do Futuro, em vez de gastarmos R$ 70 na ida e na volta de táxi (ou
R$ 30 na corrida com nosso taxista gente boa Falcão por trecho),
gastamos somente R$ 2 de Montese para o terminal no bairro do Papicu,
onde duas linhas levam em poucos minutos à avenida Dioguinho, já na
Praia do Futuro. Ali, nos tornamos clientes fieis da barraca Saturno
Beach, onde há guarda-volumes com chaves que ficam em poder dos
frequentadores, os preços são bons e ainda tem promoção.
Além das praias,
Fortaleza tem a avenida Beira Mar, que vai de Iracema a Mucuripe,
como ponto obrigatório de visita. Há barracas para todos os gostos,
algumas na beira do mar, onde ainda é possível tomar banho, e a
feira de artesanato a partir das 17h30. Também há os famosos shows
de humor todas as noites com divertidos artistas locais. Uma questão
importante é a alimentação. Pesquisando bastante você encontra
boa comida por ótimos preços. Na Barraca do Dedé, no Meireles,
você e seu acompanhante comem muito bem uma carne de sol
destrinchada por R$ 15, com baião de dois, batata frita (ou
macaxeira), farofa e salada. A variação dos preços atinge até o
coco gelado: o mais barato que achamos custava R$ 1,50; o mais caro,
R$ 2,50.
A parte cultural de
Fortaleza é muito bacana! Além do Centro Cultural Dragão do Mar,
que reúne maravilhas artísticas locais em todas as áreas, conhecer
vários logradouros da cidade vale a pena, como a Praça do Ferreira,
cercada por alguns prédios antigos e bem conservados (sobreviventes
das pichações que imperam por todo lugar); a Praça dos Leões,
onde há uma estátua da escritora cearense Rachel de Queiroz sentada
em um dos bancos; e a Praça dos Mártires, em frente à Santa Casa
de Misericórdia e perto do Mercado Central, esta última contendo um
baobá em uma de suas entradas. Todas essas ficam no Centro.
Este ano consegui
finalmente conhecer o Teatro José de Alencar e o Museu do Ceará. O
primeiro é lindo e impressionante, mas infelizmente é alvo do
descaso com o patrimônio histórico, pois já apresenta sinais de
degradação que, se não tratados logo, ficarão em um estado
irreparável. O teatro tem histórias bacanas, como o fato de que a
classe mais abastada ficava nas frisas, enquanto ao populacho cabia a
plateia, papel que com o tempo se inverteu. Ainda vemos pinturas
retratando as principais obras do escritor. É uma viagem no tempo
muito legal. Guias estão disponíveis para passar todas essas
informações ao turista. Há horários para visitação, ao custo de
apenas R$ 2 por pessoa.
No Museu do Ceará, ao
lado da Praça dos Leões, é possível reviver a história do Estado
por meio de objetos, quadros e jornais antigos. Vemos, por exemplo,
cédulas e moedas antigas, espingardas que pertenceram a cangaceiros,
o punhal de Virgulino Ferreira, o Lampião, objetos dos tempos da
escravidão, imagens do Padre Cícero e obras originais de Rachel de
Queiroz. Enfim, outra viagem no tempo que vale muito a pena!!!
Fortaleza também
possui sua reserva ecológica, o Parque do Rio Cocó, localizado no
bairro do Cocó e de fácil acesso. A caminhada pela trilha principal
e outras secundárias é maravilhosa, dando a impressão de que você
saiu da cidade (só o que nos tira da ilusão é a quantidade de
edifícios que cercam o local e o som do trânsito que fica mais alto
quanto mais se aproxima o fim da trilha). Há aves e outros animais
na reserva, mas no dia de nosso passeio eles aparentemente resolveram
se esconder. Paciência! Para quem tem receios quanto à segurança,
o parque tem policiais na entrada e em diversos trechos da trilha, ou
passando constantemente em bicicletas. E o melhor de tudo é que os
passeios são gratuitos, mas há os pagos, representados por passeios
de barco a serem agendados com a administração (ainda não foi
dessa vez que encarei um desses).
Segurança, aliás, é
algo a ser bem pensado, mas não só em Fortaleza. A criminalidade é
geral, atinge toda e qualquer cidade grande. Mas algumas medidas
podem ajudar a evitar problemas. Nas praias, por exemplo, prefira
lugares que ofereçam os guarda-volumes (não vá pelo oba-oba ou
pela “tradição”), jamais deixe seus objetos sobre as mesas (há
muitos espertalhões disfarçados de vendedores) e evite contar
dinheiro em público. Para melhor aproveitar, vá à praia de segunda
a sábado. Nesses dias, o movimento é menor, restrito mais a
turistas. Reserve o domingo para caminhar na Beira-Mar ou mesmo
visitar outros lugares.
Em qualquer lugar que
você vá no Centro, peça informações de camelôs ou trabalhadores
do comércio. Eles irão lhe dar informações mais confiáveis.
Infelizmente há muitos vagabundos disfarçados de coitadinhos. Fora
da capital, só faça passeios de bugue com bugueiros ligados à
associação local. Nada de aventureiros, para sua própria
segurança.
Então, esses dias em
Fortaleza mostraram que é possível viajar com economia. Basta não
querer fazer luxo. O turista que melhor aproveita e menos tem gastos
inúteis é aquele que se propõe a aventurar – com segurança,
claro!