terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Comentário: "Zona morta" (Dead zone, 1983)

As histórias de terror do escritor norte-americano Stephen King sempre foram um prato cheio para o cinema, mas poucas adaptações conseguiram igualar ou superar o impacto da obra publicada. Desse universo de vampiros, monstros, demônios, serial killers e paranormais surgiram obras-primas das telonas como “Carrie, a estranha” (1976) e “O iluminado” (1980), mas também verdadeiros desastres como “Comboio do terror” (1987) e “A hora do lobisomem” (1985). Entre os dois extremos achamos adaptações nem tão impactantes mas satisfatórias, como “Christine” (1982), “Cujo” (1983) e “Na hora da zona morta” (1983) - título bem tosco para a adaptação cinematográfica de “Zona morta”, a qual eu tive o prazer de encontrar nas minhas garimpagens em lojas de DVDs e blu-rays.

“Zona morta” é um dos meus preferidos por trazer o ótimo Christopher Walken como protagonista e, ao lado das adaptações de “Carrie” e “O iluminado”, ter seu roteiro bem enxuto com relação à obra escrita, eliminando personagens e situações sem comprometer a essência da história. No filme dirigido por David Cronemberg, Johnny Smith (Walken) é um simples professor, noivo de Sarah Braknell (Brooke Adams), que sofre um acidente automobilístico quando deixa a namorada em casa em uma certa noite. Ele entra em coma e desperta somente cinco anos depois, apenas para enfrentar a dura realidade de que Sarah casara com outro e de que ele agora adquirira o dom de descobrir o passado e ver o futuro das pessoas apenas com um toque de sua mão.

As premonições de Johnny acabam sendo um peso insuportável, pois é visto como charlatão por alguns e uma esperança para outros. Ao ajudar um xerife (Tom Skerrit) a elucidar o mistério de uma série de assassinatos de mulheres na cidade de Castle Rock, Johnny acaba ficando mais conhecido e busca se isolar. No entanto, ao entrar em contato com um candidato ao senado norte-americano, Greg Stillson (Martin Sheen), acaba prevendo uma situação que poderá jogar o planeta em uma nova grande guerra mundial, sem saber como poderá detê-lo. Para piorar tudo, Sarah é uma das integrantes do comitê de campanha de Stillson, aumentando a angústia de Johnny, que nunca deixou de amá-la.

“Zona morta” não tem o apuro técnico visual de “Carrie” ou “O iluminado” e nem o absurdo sobrenatural de “Christine”, por isso a considero a adaptação mais “pé no chão” de um livro de King, ao lado de “Cemitério maldito” (1989), de Mary Lambert, e bem enxuta – a obra original narra o que aconteceu ao redor de Johnny nos seus cinco anos de coma, além da história da ascensão de Greg Stillson, um psicopata assustador capaz de torturar e matar um pobre cachorro. Ainda assim, nada deixa a desejar.

(Publicado no caderno Plateia, jornal Amazonas em Tempo, em 08/12/2013)

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