As histórias de terror
do escritor norte-americano Stephen King sempre foram um prato cheio
para o cinema, mas poucas adaptações conseguiram igualar ou superar
o impacto da obra publicada. Desse universo de vampiros, monstros,
demônios, serial killers e paranormais surgiram obras-primas das
telonas como “Carrie, a estranha” (1976) e “O iluminado”
(1980), mas também verdadeiros desastres como “Comboio do terror”
(1987) e “A hora do lobisomem” (1985).
Entre os dois extremos achamos adaptações nem tão impactantes mas
satisfatórias, como “Christine” (1982), “Cujo” (1983) e “Na
hora da zona morta” (1983) - título bem
tosco para a adaptação cinematográfica de “Zona morta”, a qual
eu tive o prazer de encontrar nas minhas garimpagens em lojas de DVDs
e blu-rays.
“Zona morta” é um
dos meus preferidos por trazer o ótimo Christopher Walken como
protagonista e, ao lado das adaptações de “Carrie” e “O
iluminado”, ter seu roteiro bem enxuto com relação à obra
escrita, eliminando personagens e situações sem comprometer a
essência da história. No filme dirigido por David Cronemberg,
Johnny Smith (Walken) é um simples professor, noivo de Sarah
Braknell (Brooke Adams), que sofre um acidente automobilístico
quando deixa a namorada em casa em uma certa noite. Ele entra em coma
e desperta somente cinco anos depois, apenas para enfrentar a dura
realidade de que Sarah casara com outro e de que ele agora adquirira
o dom de descobrir o passado e ver o futuro
das pessoas apenas com um toque de sua mão.
As premonições de
Johnny acabam sendo um peso insuportável, pois é visto como
charlatão por alguns e uma esperança para outros. Ao ajudar um
xerife (Tom Skerrit) a elucidar o mistério de uma série de
assassinatos de mulheres na cidade de Castle Rock, Johnny acaba
ficando mais conhecido e busca se isolar. No entanto, ao entrar em
contato com um candidato ao senado norte-americano, Greg Stillson
(Martin Sheen), acaba prevendo uma situação que poderá jogar o
planeta em uma nova grande guerra mundial, sem saber como poderá
detê-lo. Para piorar tudo, Sarah é uma das
integrantes do comitê de campanha de Stillson, aumentando a angústia
de Johnny, que nunca deixou de amá-la.
“Zona
morta” não tem o apuro técnico visual de “Carrie” ou “O
iluminado” e nem o absurdo sobrenatural de “Christine”, por
isso a considero a adaptação mais “pé no chão” de um livro de
King, ao lado de “Cemitério maldito” (1989), de Mary Lambert, e
bem enxuta – a obra original narra o que aconteceu ao redor de
Johnny nos seus cinco anos de coma, além da história da ascensão
de Greg Stillson, um psicopata assustador capaz de torturar e matar
um pobre cachorro. Ainda assim, nada deixa a desejar.
(Publicado no caderno Plateia, jornal Amazonas em Tempo, em 08/12/2013)