domingo, 30 de setembro de 2012

Jericoacoara, uma aventura para os fortes!

Manhã em Jericoacoara

A vila de Jericoacoara, no município de Jijoca, a aproximadamente 330 quilômetros de Fortaleza, possui algumas das mais belas praias do Nordeste e do mundo. Com apenas cinco ruas (Principal, São Francisco, do Forró, das Dunas e da Igreja), todas de areia, sem nenhum asfaltamento, cortadas por diversos becos, esse lugar pitoresco, de clima agradável e tranquilo, é cercado por dunas e formações rochosas litorâneas fantásticas, das quais se destaca a Pedra Furada, de deixar a pessoa sem fôlego (literalmente, pois do ponto de parada dos bugues a caminhada é bem longa).

Subindo a Duna do Por do Sol

Anoitecer em Jericoacoara

Baixa da maré

Rua Principal de Jericoacoara

Noite iluminada
Para chegar a esse paraíso cujo potencial turístico foi descoberto na década de 1970, a aventura não é para os fracos. A viagem de Fortaleza para Jijoca, em ônibus de luxo, leva cerca de quatro horas e meia. Dali para a vila de Jericoacoara leva mais uma hora e 15 minutos, aproximadamente, em uma jardineira (um tipo de pau de arara mais arrumado, porém nada confortável). Pela empresa Fretcar, que oferece essa rota direta, a passagem custa R$ 58 (valor de setembro/2012) por trecho (R$ 35,10 de Fortaleza para Jijoca e R$ 22,90 para sacolejar de Jijoca para Jericoacoara), com saída da rodoviária da capital cearense no bairro de Fátima, com passagens pelo aeroporto e pela avenida Beira Mar para pegar os turistas que compraram pacotes.

A rodovia CE-085, por onde vai o ônibus para Jijoca, está em muito bom estado de conservação, garantindo assim uma viagem tranquila. O transfer para a jardineira acontece imediatamente após a chegada do veículo a Jijoca. Dali em diante, é só aventura. O transporte passa por várias rotas de areia, corta a vila de Preá, onde há uma praia belíssima e de ondas fortes, e finalmente segue por várias dunas até chegar a Jericoacoara. Nesse caminho, é preciso aguentar os sacolejos e a areia levada pelo forte vento, que chega até a doer um pouco na pele. Mas a visão do paraíso compensa tanto sacrifício.

Orla de Jericoacoara
Chegando a Jericoacoara, ou Jerico, como chamamos para não enrolarmos tanto a língua, procurar hospedagem não é problema, pois pousada é o que não falta. As mais simples cobram diária de R$ 70 em quarto duplo, com direito a café da manhã, wi-fi grátis e televisão. Não foi nosso caso, pois ficamos sem a TV, o chuveiro tinha a água bem fraquinha (se usasse a descarga, então, era preciso esperar a caixa encher, sob pena de tomar banho sob gotículas) e o único ventilador não girava (as duas camas ficavam em lados opostos do quarto). Uma das camas estava com a grade quebrada e havia rachaduras no chão, provocadas com certeza pelo desmoronamento lento do solo onde foi construída a pousada. Mas, tudo bem. O negócio era aventurar, não “luxar”, e seriam somente dois dias.

Em Jerico há muitos restaurantes, mas é bom sempre pesquisar os lugares mais vantajosos, financeiramente falando. Só para se ter uma ideia, o restaurante onde almoçamos logo na chegada (chegamos com atraso de uma hora por conta do engarrafamento na saída da rodoviária de Fortaleza para o aeroporto e de lá para a avenida Beira Mar para apanhar turistas), um prato com 100 gramas de carne de sol custava R$ 12,90. Isso o mais barato. Para duas pessoas, havia restaurante cobrando R$ 56 a carne de sol, mas achamos o restaurante Marisol, na rua do Forró, onde a mesma refeição saiu a R$ 35, bem servida e deliciosa. Ali também funciona uma pousada que cobra R$ 80 a diária do apartamento duplo com ar condicionado (tivéssemos achado esse antes...). Não tinha o charme rústico daquela que escolhemos, mas era bem mais arrumadinha e confortável.

Vamos aos atrativos! De qualquer das cinco ruas da vila se chega à Duna do Por do Sol, à praia principal e à praia da Malhada. Nesta última há formações rochosas dignas de registro fotográfico, e por sua longa extensão é que se pode chegar à Pedra Furada (outra opção é subir o morro da cidade, numa caminhada que leva de 20 a 30 minutos, com muita disposição para aguentar o sol forte).

A Duna do Por do Sol é o local onde as pessoas se reúnem para admirar e registrar o início da noite. O vento lá em cima é forte e faz a areia doer um pouco no corpo, então é aconselhável proteger os olhos, principalmente, e ter cuidado com chapéus, pois, uma vez arrastados, dificilmente serão recuperados (o mesmo vale para dinheiro e objetos leves). Soubemos por um dos bugueiros que nos levou a um passeio no dia seguinte que a duna está condenada ao desaparecimento. Com o crescimento da vila e novas construções, a areia trazida de outras praias pelo vento, “alimentando” a duna, teve seu trajeto interrompido, então toda aquela areia que o visitante sente atingir seu corpo lá em cima é da própria duna, sendo levada para o mar. Para acelerar esse processo, visitantes sem noção alguma de preservação descem a encosta frontal da duna, levando mais areia consigo para a praia (em Natal, esse tipo de atitude levou à interdição do Morro do Careca, na praia de Ponta Negra, para evitar que a areia fosse levada para o mar, fazendo gradualmente desaparecer esse cartão postal do Rio Grande do Norte. Tal atitude deveria ser tomada em Jerico, pelo menos para evitar descidas pela frente da duna).

Por do sol
A praia principal é usada também como lugar de prática de esportes e festas diversas. As ondas são fracas graças à força do vento que sopra a partir da terra, o que torna o banho mais agradável e seguro para aqueles que não gostam de ondas fortes. Logo depois, em direção leste, fica a praia da Malhada, onde há muitas pedras, exigindo cuidado na escolha de onde parar para tomar banho. 

Árvore da preguiça
Esse foi nosso primeiro dia em Jerico, onde chegamos na tarde de 27 de setembro. No dia seguinte, conseguimos um passeio de bugue (ou buggy) para o litoral leste (tem também para o litoral oeste, onde há as dunas móveis, mas pelo tempo e pelos recursos financeiros escolhemos o outro). Negociamos para o bugueiro passar pela Pedra Furada (há outra rota para esse destino): mais R$ 10 por pessoa e pronto! Em geral cobram R$ 40 por passageiro na baixa estação. É bom procurar alguém credenciado à Associação dos Bugueiros de Jericoacoara, por segurança.

Para chegar à Pedra Furada o bugueiro nos deixou numa certa parte da praia. Devido às formações rochosas, o resto do trajeto é feito por caminhada de uns 30 minutos de duração. Vale a pena andar tanto, pois dá para se refrescar nas pequenas piscinas que surgem na praia com a maré baixa, e no trajeto nos admiramos com as esculturas naturais na areia.

Pedra Furada
Depois da Pedra Furada, começou a aventura para os fortes: praia de Preá, passando antes pela árvore da preguiça, entortada pela força dos ventos, a caminho da Lagoa Azul. Ali é outro espetáculo: águas bem azuis e rasas. Na outra margem fica um restaurante onde há redes armadas dentro da água e um trampolim. Dá para atravessar o lago a pé, mas não é indicado levar objetos, pois há desníveis no fundo que podem fazer a pessoa cair e derrubar tudo na água. Melhor ir sem nada ou de jangada (o jangadeiro cobra R$ 2,50, mas é bom dar dinheiro certinho porque o espertalhão nunca tem troco e ganha a mais nas costas dos turistas).
Lagoa Azul
Depois da Lagoa Azul fica a Lagoa do Paraíso, igualmente linda e de águas azuis, mas com a diferença de que há formação de pequenas ondas por conta dos ventos fortes e uma tirolesa, além de passeios de jangada. Um único restaurante explora o lugar, por isso ou você fica sem comer ou desembolsa no mínimo R$ 45 por uma cavala para duas pessoas (mas é uma delícia, então vale a pena). Foi o ponto final do passeio, onde almoçamos e voltamos para Jerico cortando dunas e mais dunas, admirando a beleza natural do lugar. Depois de um passeio de bugue, com tantos sacolejos, difícil alguém ficar inteiro, mas geme de dor com o maior prazer.

Lagoa do Paraíso
A noite em Jerico é agradável. Não há postes de iluminação pública, o que dá aquele ar primitivo delicioso. Os restaurantes sempre estão cheios, a praça da rua Principal fica cheia de crianças e jovens, dá para passear com segurança pela praia (desde que não se vá a lugares muito ermos). A dica para quem não quer pagar outra fortuna como no almoço é procurar as barraquinhas e carrinhos de venda de comida, onde um bom prato individual (e muito gostoso) pode sair por R$ 5. Melhor que os R$ 56 de carne de sol (fora 10% da taxa de serviço) ou os R$ 8 dos pratos executivos de restaurante (fora os mesmos 10% de taxa). O vento afugenta o calor e o gostoso é deitar e olhar para as nuvens passando pela lua, dando a impressão de que nosso satélite está correndo nos céus.

Vista a partir da Duna do Por do Sol
 Voltamos para Fortaleza no sábado, 29, na jardineira das 15h, que nos deixou em Jijoca para transferência ao ônibus de luxo. Se tivéssemos mais algum dinheiro, teríamos curtido o litoral oeste, mas fica para um futuro retorno, talvez com o tão falado aeroporto em construção nas proximidades. Por um lado, se tal terminal aeroviário realmente sair do papel, vai facilitar mais o acesso, mas por outro, vai contribuir para o fim do sossego naquele paraíso, já quebrado por bagunceiros e oportunistas.

Duna do Por do Sol


Rota dos bugues


Lagoa do Paraíso
Então, essa experiência em Jericoacoara nos serviu para mostrar que, não se querendo luxo demais e tendo espírito de aventura, é possível curtir bastante sem gastar uma fortuna. A dica é apanhar o ônibus na rodoviária de Fortaleza (saem em dois horários diários: às 8h e às 15h), procurar pousada tão logo se chegue em Jerico (é bom pesquisar na internet e telefonar para saber. Um funcionário da pousada e restaurante Marisol informou que, pelas agências, a diária de R$ 80 pula para R$ 120, só para se ter ideia) e, se quiser evitar fuzarca e desordem de gente que bebe para cair e criar confusão, nunca ir em finais de semana (o ideal é ir numa quarta ou quinta-feira para voltar no sábado).

Outra dica valiosa: como em Jerico não existe agência bancária, leve o máximo de dinheiro possível para pequenas despesas (comprar refrigerante, água de coco e afins). Boa parte do comércio local aceita cartões de crédito e débito.

Por tudo isso, Jericoacoara é uma aventura inesquecível!!!

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