Manhã em Jericoacoara |
A vila de Jericoacoara,
no município de Jijoca, a aproximadamente 330 quilômetros de
Fortaleza, possui algumas das mais belas praias do Nordeste e do
mundo. Com apenas cinco ruas (Principal, São Francisco, do Forró,
das Dunas e da Igreja), todas de areia, sem nenhum asfaltamento, cortadas por diversos becos, esse lugar
pitoresco, de clima agradável e tranquilo, é cercado por dunas e
formações rochosas litorâneas fantásticas, das quais se destaca a
Pedra Furada, de deixar a pessoa sem fôlego (literalmente, pois do
ponto de parada dos bugues a caminhada é bem longa).
Subindo a Duna do Por do Sol |
Anoitecer em Jericoacoara |
Baixa da maré |
Rua Principal de Jericoacoara |
Noite iluminada |
Para chegar a esse
paraíso cujo potencial turístico foi descoberto na década de 1970,
a aventura não é para os fracos. A viagem de Fortaleza para Jijoca,
em ônibus de luxo, leva cerca de quatro horas e meia. Dali para a
vila de Jericoacoara leva mais uma hora e 15 minutos,
aproximadamente, em uma jardineira (um tipo de pau de arara mais
arrumado, porém nada confortável). Pela empresa Fretcar, que
oferece essa rota direta, a passagem custa R$ 58 (valor de
setembro/2012) por trecho (R$ 35,10 de Fortaleza para Jijoca e R$
22,90 para sacolejar de Jijoca para Jericoacoara), com saída da
rodoviária da capital cearense no bairro de Fátima, com passagens pelo aeroporto e pela avenida Beira Mar para pegar os turistas que
compraram pacotes.
A rodovia CE-085, por
onde vai o ônibus para Jijoca, está em muito bom estado de
conservação, garantindo assim uma viagem tranquila. O transfer para
a jardineira acontece imediatamente após a chegada do veículo a
Jijoca. Dali em diante, é só aventura. O transporte passa por
várias rotas de areia, corta a vila de Preá, onde há uma praia
belíssima e de ondas fortes, e finalmente segue por várias dunas
até chegar a Jericoacoara. Nesse caminho, é preciso aguentar os
sacolejos e a areia levada pelo forte vento, que chega até a doer um
pouco na pele. Mas a visão do paraíso compensa tanto sacrifício.
Orla de Jericoacoara |
Chegando a
Jericoacoara, ou Jerico, como chamamos para não enrolarmos tanto a
língua, procurar hospedagem não é problema, pois pousada é o que
não falta. As mais simples cobram diária de R$ 70 em quarto duplo,
com direito a café da manhã, wi-fi grátis e televisão. Não foi
nosso caso, pois ficamos sem a TV, o chuveiro tinha a água bem
fraquinha (se usasse a descarga, então, era preciso esperar a caixa
encher, sob pena de tomar banho sob gotículas) e o único ventilador
não girava (as duas camas ficavam em lados opostos do quarto). Uma
das camas estava com a grade quebrada e havia rachaduras no chão,
provocadas com certeza pelo desmoronamento lento do solo onde foi
construída a pousada. Mas, tudo bem. O negócio era aventurar, não
“luxar”, e seriam somente dois dias.
Em Jerico há muitos
restaurantes, mas é bom sempre pesquisar os lugares mais vantajosos,
financeiramente falando. Só para se ter uma ideia, o restaurante
onde almoçamos logo na chegada (chegamos com atraso de uma hora por
conta do engarrafamento na saída da rodoviária de Fortaleza para o
aeroporto e de lá para a avenida Beira Mar para apanhar turistas),
um prato com 100 gramas de carne de sol custava R$ 12,90. Isso o mais
barato. Para duas pessoas, havia restaurante cobrando R$ 56 a carne
de sol, mas achamos o restaurante Marisol, na rua do Forró, onde a
mesma refeição saiu a R$ 35, bem servida e deliciosa. Ali também
funciona uma pousada que cobra R$ 80 a diária do apartamento duplo
com ar condicionado (tivéssemos achado esse antes...). Não tinha o
charme rústico daquela que escolhemos, mas era bem mais arrumadinha
e confortável.
Vamos aos atrativos! De
qualquer das cinco ruas da vila se chega à Duna do Por do Sol, à
praia principal e à praia da Malhada. Nesta última há formações
rochosas dignas de registro fotográfico, e por sua longa extensão é
que se pode chegar à Pedra Furada (outra opção é subir o morro da
cidade, numa caminhada que leva de 20 a 30 minutos, com muita
disposição para aguentar o sol forte).
A Duna do Por do Sol é
o local onde as pessoas se reúnem para admirar e registrar o início
da noite. O vento lá em cima é forte e faz a areia doer um pouco no
corpo, então é aconselhável proteger os olhos, principalmente, e
ter cuidado com chapéus, pois, uma vez arrastados, dificilmente
serão recuperados (o mesmo vale para dinheiro e objetos leves).
Soubemos por um dos bugueiros que nos levou a um passeio no dia
seguinte que a duna está condenada ao desaparecimento. Com o
crescimento da vila e novas construções, a areia trazida de outras
praias pelo vento, “alimentando” a duna, teve seu trajeto
interrompido, então toda aquela areia que o visitante sente atingir
seu corpo lá em cima é da própria duna, sendo levada para o mar.
Para acelerar esse processo, visitantes sem noção alguma de
preservação descem a encosta frontal da duna, levando mais areia
consigo para a praia (em Natal, esse tipo de atitude levou à
interdição do Morro do Careca, na praia de Ponta Negra, para evitar
que a areia fosse levada para o mar, fazendo gradualmente desaparecer
esse cartão postal do Rio Grande do Norte. Tal atitude deveria ser
tomada em Jerico, pelo menos para evitar descidas pela frente da
duna).
Por do sol |
A praia principal é
usada também como lugar de prática de esportes e festas diversas.
As ondas são fracas graças à força do vento que sopra a partir da
terra, o que torna o banho mais agradável e seguro para aqueles que
não gostam de ondas fortes. Logo depois, em direção leste, fica a
praia da Malhada, onde há muitas pedras, exigindo cuidado na escolha
de onde parar para tomar banho.
Árvore da preguiça |
Esse foi nosso primeiro
dia em Jerico, onde chegamos na tarde de 27 de setembro. No dia
seguinte, conseguimos um passeio de bugue (ou buggy) para o litoral
leste (tem também para o litoral oeste, onde há as dunas móveis,
mas pelo tempo e pelos recursos financeiros escolhemos o outro).
Negociamos para o bugueiro passar pela Pedra Furada (há outra rota
para esse destino): mais R$ 10 por pessoa e pronto! Em geral cobram
R$ 40 por passageiro na baixa estação. É bom procurar alguém
credenciado à Associação dos Bugueiros de Jericoacoara, por
segurança.
Para chegar à Pedra
Furada o bugueiro nos deixou numa certa parte da praia. Devido às
formações rochosas, o resto do trajeto é feito por caminhada de
uns 30 minutos de duração. Vale a pena andar tanto, pois dá para
se refrescar nas pequenas piscinas que surgem na praia com a maré
baixa, e no trajeto nos admiramos com as esculturas naturais na
areia.
Pedra Furada |
Depois da Pedra Furada,
começou a aventura para os fortes: praia de Preá, passando antes
pela árvore da preguiça, entortada pela força dos ventos, a
caminho da Lagoa Azul. Ali é outro espetáculo: águas bem azuis e
rasas. Na outra margem fica um restaurante onde há redes armadas
dentro da água e um trampolim. Dá para atravessar o lago a pé, mas
não é indicado levar objetos, pois há desníveis no fundo que
podem fazer a pessoa cair e derrubar tudo na água. Melhor ir sem
nada ou de jangada (o jangadeiro cobra R$ 2,50, mas é bom dar
dinheiro certinho porque o espertalhão nunca tem troco e ganha a
mais nas costas dos turistas).
Lagoa Azul |
Depois da Lagoa Azul
fica a Lagoa do Paraíso, igualmente linda e de águas azuis, mas com
a diferença de que há formação de pequenas ondas por conta dos
ventos fortes e uma tirolesa, além de passeios de jangada. Um único
restaurante explora o lugar, por isso ou você fica sem comer ou
desembolsa no mínimo R$ 45 por uma cavala para duas pessoas (mas é
uma delícia, então vale a pena). Foi o ponto final do passeio, onde
almoçamos e voltamos para Jerico cortando dunas e mais dunas,
admirando a beleza natural do lugar. Depois de um passeio de bugue,
com tantos sacolejos, difícil alguém ficar inteiro, mas geme de dor
com o maior prazer.
Lagoa do Paraíso |
A noite em Jerico é
agradável. Não há postes de iluminação pública, o que dá
aquele ar primitivo delicioso. Os restaurantes sempre estão cheios,
a praça da rua Principal fica cheia de crianças e jovens, dá para
passear com segurança pela praia (desde que não se vá a lugares
muito ermos). A dica para quem não quer pagar outra fortuna como no
almoço é procurar as barraquinhas e carrinhos de venda de comida,
onde um bom prato individual (e muito gostoso) pode sair por R$ 5.
Melhor que os R$ 56 de carne de sol (fora 10% da taxa de serviço) ou
os R$ 8 dos pratos executivos de restaurante (fora os mesmos 10% de
taxa). O vento afugenta o calor e o gostoso é deitar e olhar para as
nuvens passando pela lua, dando a impressão de que nosso satélite
está correndo nos céus.
Vista a partir da Duna do Por do Sol |
Voltamos para Fortaleza
no sábado, 29, na jardineira das 15h, que nos deixou em Jijoca para
transferência ao ônibus de luxo. Se tivéssemos mais algum
dinheiro, teríamos curtido o litoral oeste, mas fica para um futuro
retorno, talvez com o tão falado aeroporto em construção nas
proximidades. Por um lado, se tal terminal aeroviário realmente sair
do papel, vai facilitar mais o acesso, mas por outro, vai contribuir
para o fim do sossego naquele paraíso, já quebrado por bagunceiros
e oportunistas.
Duna do Por do Sol |
Rota dos bugues |
Lagoa do Paraíso |
Então, essa
experiência em Jericoacoara nos serviu para mostrar que, não se
querendo luxo demais e tendo espírito de aventura, é possível
curtir bastante sem gastar uma fortuna. A dica é apanhar o ônibus
na rodoviária de Fortaleza (saem em dois horários diários: às 8h
e às 15h), procurar pousada tão logo se chegue em Jerico (é bom
pesquisar na internet e telefonar para saber. Um funcionário da
pousada e restaurante Marisol informou que, pelas agências, a diária
de R$ 80 pula para R$ 120, só para se ter ideia) e, se quiser evitar
fuzarca e desordem de gente que bebe para cair e criar confusão,
nunca ir em finais de semana (o ideal é ir numa quarta ou
quinta-feira para voltar no sábado).
Outra dica valiosa: como em Jerico não existe agência bancária, leve o máximo de dinheiro possível para pequenas despesas (comprar refrigerante, água de coco e afins). Boa parte do comércio local aceita cartões de crédito e débito.
Outra dica valiosa: como em Jerico não existe agência bancária, leve o máximo de dinheiro possível para pequenas despesas (comprar refrigerante, água de coco e afins). Boa parte do comércio local aceita cartões de crédito e débito.
Por tudo isso,
Jericoacoara é uma aventura inesquecível!!!
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