Parei de fumar há quase dois anos, depois de ser fumante por 24 anos (e, nesse período, ter idas e vindas do vício). E por igual tempo larguei de vez o consumo de bebidas alcoolicas. Um puxava o outro. Mesmo consumindo bebidas mais "leves", como as destiladas, a vitória não estava completa. Agora, sim, a bebida foi a nocaute juntamente com a nicotina e seus malefícios. Ficaram pequenas sequelas, mas a que seria mais grave, o desenvolvimento de algum tipo de câncer, não apareceu, pelo menos por enquanto.
As piadinhas apareceram, como era de se esperar, e chegaram a beirar a irritação. Para alguns, eu havia virado crente - como se isso fosse um crime, diga-se de passagem. Fiquei mais chato - ou seja, o motivo de risos nas "barcas" morreu com o cigarro e o álcool. Evitar festas regadas a muita bebida e cigarros virou uma regra que segui à risca, mesmo parecendo estar afastando-me dos amigos, mas se trata somente de me preservar da tendência ao alcoolismo que reconheci possuir. Mas passou. Hoje levo uma vida com mais qualidade, sem esses dois vícios. Botei na cabeça que iria sair disso e consegui. Bastava imaginar o odor que a bebida e o cigarro deixavam e o incômodo que causavam nas outras pessoas para ajudar a resistir bravamente. E, por outro lado, um drama pessoal ajudou e muito: o fato de meu pai ter sofrido um derrame aos 85 anos e sofrido sobre uma cama durante seis meses, até que um segundo derrame o tirou de nossa convivência física.
Sim, isso ajudou, porque meu pai não dispensava a bebida. Homem do sertão nordestino, como minha mãe, meus avós, tios e demais parentes da geração antecessora, sempre foi forte, mas a doença que o afligiu - o Mal de Alzheimmer - o fez perder a noção de tempo, espaço e vida. Assim, o consumo de bebidas acabou resultando nesse quadro. Vi ali uma espécie de alerta - é hora de parar. Solteiro, sem filhos, quem vai ter essa preocupação quando eu for vítima de meus vícios?
Assim foi que, aos 38 anos, resolvi parar com o comportamento errante resultante na ressaca potencializada pelo consumo desenfreado de bebidas e cigarros. Decidi dar adeus aos dias sem comer e de somente aspirar fumaça, aos vômitos, às cólicas intestinais. Coloquei em minha mente a necessidade de acabar com esse processo de autodestruição e aproveitar a vida de outra maneira, afinal, não é preciso estar bêbado ou com odor forte de nicotina para mostrar uma pessoa feliz. É possível, sim, sair desse vício. Difícil para alguns, mas não impossível, afinal, como diz o manjado ditado, "só não há jeito para a morte".
Boa vontade para mudar é um bom começo. Querer mudar é importante. Enfrentar as situações de outro modo, com mais serenidade, é uma ferramenta importante. E, acima de tudo, quem sabe o que pode ser melhor para você é somente você mesmo. Assim o fiz, assim o consegui.