terça-feira, 10 de maio de 2011

Jornalismo e língua portuguesa: uma relação de amor e ódio

Na semana passada, fui brindado no Twitter com o título de uma matéria de um jornal de Manaus que falava sobre “hipertenção”. Assim mesmo, com “ç”. Foi o suficiente para gerar críticas e sarcasmos. Foi uma pisada em falso, mas bem alarmante, bastando confirmar isso com a quantidade absurda de erros com os quais somos brindados. Vai da simples letra trocada em “hipertensão” ao singelo “há alguns dias atrás” ou “daqui há alguns anos”, passando pela bela separação de sujeito e predicado por vírgula (tipo “Fulano, depôs na delegacia e apresentou nova versão dos fatos”).

O que está por trás de tanto erro? Pressa, falta de pessoal para revisar, irresponsabilidade ou burrice, mesmo? Estou fora de redação há pouco mais de um ano. Enquanto lá estive, sempre tive cuidado também com essa parte, apesar de já ter dado um ou dois deslizes (garanto que foi por culpa do estresse no fechamento da edição, com notícias novas chegando, deadline estourando e coisas assim). Então, ainda não tenho a resposta para tamanha abominação. Fora dos jornais, acompanho os colegas repórteres que trabalharam comigo e fico satisfeito com seu progresso. Ainda bem que não são eles os autores desses atentados à ortografia e à gramática.

Não conheço os novos jornalistas das redações, nem seus hábitos de leitura ou estudos. Mas há um laço frouxo aí em algum canto que permite a repetição constante desses erros. O (teoricamente) formador de opinião precisa ser responsável tanto na apuração do fato quanto na sua escrita. Suas eventuais deficiências devem ser sanadas. Os revisores deixaram de existir? E os editores, qual sua função efetiva agora? E o maior responsável pelo produto apresentado diariamente nas ruas, o dono do jornal? Só contabiliza os números em se preocupar com a qualidade? É o que parece...

Ora, vamos parar com essa relação de amor e ódio com nossa língua portuguesa, curar essa Síndrome de Tiririca! Perguntar nunca foi demais. Pior é publicar uma aberração sem passar por um crivo seguro, e daí quem se orgulha de ser jornalista ainda não admite ser chamado de incompetente.

Vale a pena trabalhar no Judiciário?

Quando fiz o concurso público para o cargo de assistente judiciário no Tribunal de Justiça do Amazonas, em 2005, fui motivado pela necessidade de um trabalho fixo e seguro, já que comecei a ficar saturado e desmotivado com o “andar da carruagem” no jornalismo amazonense – um quadro que havia mudado muito desde que nele eu ingressara, em 1995, ainda estudante, tendo se tornado um meio de disputas desonestas, intrigas de colegas e beneficiamento de pessoas sem qualificação mas com uma “invejável” capacidade de “babar ovos”. O salário, para um homem solteiro, era – e ainda é – um atrativo à parte. Valia a pena arriscar? Trabalhar no Judiciário?

Desde que assumi minhas atividades em junho de 2007, participei de um momento especial. Fui o segundo funcionário da recém criada 9ª Vara Criminal, hoje o segundo mais antigo do quadro do Juízo. Em reconhecimento ao meu trabalho, fui indicado e ganhei uma função de assistente da diretora da vara, devidamente remunerado. Na parte financeira, não tenho do que reclamar, pois com tantos problemas  o Judiciário conseguiu aos poucos resolver uma série de pendências em relação aos seus funcionários.

Ainda temos muitas questões a resolver – a virtualização total das varas, uma meta perseguida há tanto tempo e ainda não integralmente implantada no TJAM e que seria fundamental para a agilização na tramitação processual e até mesmo da organização estrutural dos cartórios; a reestruturação física para termos um ambiente adequado de trabalho; a informatização integral das comarcas; e por aí vai. O que temos já é um avanço, considerando-se a situação encontrada quando ingressei no Tribunal em 2007: um cartório com poucos funcionários, processos se acumulando por falta de pessoal para auxiliar, falta de controle dos prazos, ausência de capacitação e outros.

Aí começaram as “porradas”: apesar de termos nosso horário estabelecido legalmente em seis horas diárias, passamos a trabalhar uma hora a mais, pois isso, segundo a visão do Conselho Nacional de Justiça, ajudaria na celeridade do Judiciário. Sete horas diárias sem direito a uma compensação salarial, pois conforme nosso Plano de Cargos e Salários, se por necessidade do trabalho o servidor permanecer além da carga normal, teria por direito o acréscimo de 25% no salário sobre o vencimento. Isso nunca aconteceu e certamente nunca vai acontecer. O Tribunal Pleno vai se reunir para decidir a nova investida do CNJ para “modernizar” a Justiça: o novo aumento da carga horária para os trabalhadores do Judiciário, que agora deverão trabalhar das 9h às 18h, “no mínimo” - espero que vejam que este horário já é seguido de 8h às 18h, sendo em esquema de plantão a partir das 15h (já o era antes, quando o horário era até as 14h. Enquanto isso, os problema estruturais do TJAM (e dos demais tribunais estaduais, diga-se de passagem) permanecem sem solução.

Não sei em que o CNJ se baseia para achar que aumentar a quantidade de horas trabalhadas vai ajudar a acelerar o Judiciário se a nossa estrutura continua problemática. Tomo como exemplo a 9ª Vara Criminal: temos quatro audiências por dia, mas é raro o dia em que todas acontecem. Por várias razões, há fracassos: os oficiais de Justiça estão sobrecarregados e não têm tempo para cumprir em tempo hábil as intimações; no caso de conduções coercitivas de testemunhas (aquelas que foram devidamente intimadas mas deixaram de comparecer ao ato injustificadamente, sendo agora levadas pelo oficial para a audiência), não há carro disponível para o cumprimento da diligência; as testemunhas deixam de comparecer quando são intimadas; os advogados não atendem as intimações; e uma série de outras causas que independem da boa vontade dos servidores.

Boa vontade, sim! Trabalhar no TJAM para mim foi encontrar uma forma melhor de ser útil, contribuir com a agilidade do Judiciário. Pelo menos em nosso cartório, os processos fluem normalmente porque as tarefas são bem divididas e há comprometimento, algo até estranho – para não dizer surreal – quando se trata de serviço público.

A questão do horário está em discussão no Tribunal Pleno. Vamos ver se, a exemplo do que tem acontecido até agora, essa imposição do CNJ vai ser aceita passivamente e sem questionamentos (apesar de o quadro de servidores demonstrar contentamento com essa possibilidade de aumento da carga horária) ou se, em uma atitude mais racional, o TJAM se recusará a atacar o problema pelo lado errado. Afinal, como se tem discutido nos corredores das unidades do nosso Judiciário, em nada a Justiça terá melhorias com funcionários sobrecarregados de trabalho mas ainda sem condições adequadas. Servidores insatisfeitos e falta de estrutura adequada vão resultar em uma Justiça mais ágil? Talvez somente na estranha equação do CNJ...

Depois de passada essa fase de tempestade, voltarei a perguntar: vale a pena trabalhar no Judiciário?

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...