Tarcisio Meira e Louise Cardoso como Rodrigo Cambará e Bibiana Terra |
Das minisséries brasileiras, "O Tempo e o Vento", de 1985, nunca mais me saiu da memória. Inspirada em "O Continente", primeira parte da saga da família Terra Cambará no Rio Grande do Sul, imaginada por Érico Veríssimo, a adaptação foi uma das melhores já produzidas para a televisão. A partir de segunda-feira, 2 de janeiro, a minissérie volta a ser exibida pelo canal Viva, às 23h15 (horário de Brasília). Espero que seja na íntegra, com todos os seus 25 capítulos.
"O Tempo e o Vento" seguiu fielmente a fragmentação narrativa de Veríssimo, começando em 1895, para depois, por meio das memórias de Bibiana Terra Cambará (nessa fase interpretada pela saudosa Lélia Abramo), retornar até 1777 para contar a origem dessa família com Ana Terra (Glória Pires), filha única de Maneco Terra (Aldo César) e Henriqueta (Marlise Saueressig), no interior do Rio Grande, com os irmãos Horácio (Marcos Breda) e Antônio (Camilo Bevilacqua). A vida pacata muda com a chegada do indígena Pedro Missioneiro (Kazé Aguiar), com quem Ana irá se envolver e ter um filho, iniciando uma saga que vai continuar em 1825 com a chegada do capitão Rodrigo Cambará (Tarcisio Meira) à vila de Santa Fé, para onde Ana se mudara. Rodrigo, fanfarrão, louco por guerras e mulherengo, se apaixona por Bibiana (Louise Cardoso), filha de Pedro Terra (Ivan de Albuquerque) e Arminda (Eloísa Mafalda) e neta de Ana Terra. A trama salta depois para 1845, quando junta-se à família a "teiniaguá" Luzia (Carla Camuratti), nora de Bibiana (Lilian Lemmertz) e esposa de Bolívar (Daniel Dantas), mulher que provoca conflitos familiares, e, finalmente, volta a 1895, com a família Terra Cambará, liderada por Licurgo (Armando Bógus), neto de Bibiana, sitiados em seu sobrado de Santa Fé, em meio a lutas políticas que consolidaram a formação do Rio Grande do Sul.
Nessas quatro fases históricas - "Ana Terra", "Um certo capitão Rodrigo", "A teiniaguá" e "O sobrado" - toda a história tem um ponto de vista feminino, primeiro com Ana Terra e depois por Bibiana, em sua relação com os seus homens - Pedro Missioneiro, Pedro Terra, capitão Rodrigo Cambará, Bolívar Terra Cambará e Licurgo Cambará. Todos ilustram bem a formação não apenas do povo gaúcho, mas, como num microcosmo, também a da nação brasileira nos séculos 18 e19.
Fiquei muito feliz em poder adquirir a minissérie, mas só por uns instantes. Até hoje me sinto lesado pela Globo Video. A versão em DVD foi remontada em uma narrativa linear da qual foi excluído o episódio "A Teiniaguá", de forma que não pude rever Carla Camuratti e Lilian Lemmertz em seu "duelo" de nora e sogra no sobrado da família. Imperdoável! Fora que para tapar esses buracos recorreram a enxertos de outras cenas, causando várias imagens repetidas, e só quem viu pela televisão ou leu o livro pode entender a história. Fiquei muito decepcionado e fiz questão de expressar minha opinião no site da Saraiva, onde comprei. Acho até que boicotaram o que escrevi.
A adaptação dessa imortal obra-prima traz ainda como música de abertura uma versão instrumental de "Passarim", de Tom Jobim, é uma das minhas preferidas até hoje. Belíssima, que pontua bem a saga de paixões, lutas e solidão da família Terra Cambará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário