terça-feira, 8 de março de 2011

A maravilhosa realidade de ser um ninguém

Ontem, zapeando, vi no canal Primeiros Passos da Sky uma chamada mais ou menos assim: "Quer ser bem atendido como VIP? Então assine já o Sky HD". A partir dessa frase, percebi o quanto sou um ninguém, um zero à esquerda, um "John Doe" ou quaisquer que sejam outras expressões que captem melhor a minha insignificância como ser humano... "capitalisticamente" falando.

Sim, porque a mensagem foi bem clara: você quer ser bem atendido, ser respeitado, ser tratado como um ser humano de verdade? Então, pague por isso, mas pague muito! Não pago Sky HD porque seria um gasto supérfluo. Já tenho outras coisas com que me preocupar: cartões de crédito, cartões de lojas, contas de água e telefone (inclusive celular), conta da Sky, conta do supermercado... enfim, tudo o que, "capitalisticamente" falando, te transforma num ser insignificante (pois você gasta todas as suas finanças para isso), que não pode pagar para deixar de ser um ninguém (ou seja, para não ter essas preocupações).

Não se trata de exagero. É só enumerar as vantagens que os humanos de verdade ("capitalisticamente" falando) têm: podem ter mais conforto no aeroporto para esperar seu voo (enquanto você fica naquelas cadeiras simples e desconfortáveis), têm um gerente que faz tudo para resolver qualquer problema em sua conta corrente (já você só recebe ligação de cobrança porque sua conta ficou no vermelho por causa de taxas que o banco cobra), pode facilmente escapar de uma blitz mesmo estando totalmente errado (mas você acaba se lascando porque não tem nem R$ 10 para o "guaraná" da "otoridade") e por aí vai.

Nesse sentido do "capitalisticamente correto", prefiro, sim, ser um ninguém. Pelo menos não sou alvo de pessoas interesseiras e superficiais, muito menos uma vítima em potencial de quem quer lhe tomar seus bens. Quase não me sobra dinheiro após pagar minhas contas todo mês - o que me resta eu uso para me divertir, afinal muito trabalho e pouca diversão fazem de você um bobão, como diria Jack Torrance. Não guardo dinheiro, não faço economias porque acho pura perda de tempo em um mundo como o nosso. Nem por isso passo necessidades. Dinheiro é para gastar - com responsabilidade, claro. Viver a vida é mais importante, mesmo sendo um ninguém. Para os que são e que querem ser alguém nesses termos capitalistas, boa sorte.

Pareço magoado ou frustrado? Não o sou, creio. Apenas não acredito mais no ser humano, salvo aqueles que me são próximos.

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...