Décadas atrás, o jornal A Crítica publicava uma coluna chamada "Coisas da vida e da morte", de autoria de um jornalista cujo nome me foge agora. Eu gostava de ler aquelas histórias simples, algumas trágicas e outras divertidas, baseadas em personagens do cotidiano de Manaus.
A lembrança da coluna me voltou agora, com a conclusão de uma história iniciada em 1992. Seria um caso interessante para o jornalista fazer um daqueles contos, pelas proporções que tomou ou mesmo pelo rumo que poderia ter tomado.
Na semana passada, um ex-presidiário chamado Afonso Araújo de Almeida foi assassinado aos 40 anos com 13 facadas no bairro da Glória. Ele havia recebido liberdade condicional após ter sido condenado em 1993 pelo assassinato da estudante de Jornalismo Ana Délia Albuquerque Holanda, aos 24 anos, ocorrido em 25 de fevereiro de 1992. Na ocasião, a vítima e uma amiga estavam na praida da Ponta Negra, à noite, passeando quando foram abordadas pelo cidadão (policial militar à época) e mais um comparsa (cidadão comum), que lhes pediu uma carona. Na boa fé, ela concordou (quem imaginaria que a farda de um policial militar esconderia um criminoso?).
A partir daí, começou uma noite de terror. As duas jovens foram sequestradas, roubadas, estupradas e, com os braços amarrados para trás em seus próprios sutiãs, atiradas de um barranco para dentro do rio Negro. Para assegurar o assassinato, os dois criminosos atiraram pedras enormes sobre elas. Ana Délia acabou morrendo afogada. A amiga conseguiu se soltar e se esconder até que os assassinos foram embora. Assim ela conseguiu chegar ao condomínio Jardim das Américas, nas proximidades da praia da Ponta Negra, onde obteve ajuda.
Graças a isso, os dois criminosos foram identificados, presos e, por conta da comoção que o crime teve na época (Délia ia fazer o terceiro período de Jornalismo, era uma das mais inteligentes da nossa turma e tinha uma filha de 3 anos na época) e pela mobilização dos colegas de faculdade junto com a família das vítimas, em 1993 ambos foram condenados a 28 anos de prisão pelo latrocínio.
Com o tempo, o comparsa do ex-PM, Marcos, foi morto em uma rebelião no presídio em que estava cumprindo pena, há alguns anos. Mesmo tendo fugido da prisão três vezes, Afonso recebeu liberdade condicional em dezembro do ano passado. A história chegou ao fim com seu assassinato, na semana passada, pelas mãos de outro homem, provavelmente outro criminoso com quem talvez tivesse criado uma rixa (o jornal não deu esses detalhes).
É assim. Durante quase 19 anos a história causou comoção, revolta, teve sua justiça, foi esquecida e agora voltou à tona. Fico imaginando, hoje, como ela poderia ter sido diferente caso, naquela noite, os assassinos - um então policial militar e um desocupado - não tivessem escolhido roubar, estuprar e matar. Claro, Ana Délia estaria com 43 anos, talvez fosse uma boa jornalista ou radialista, ou mesmo pesquisadora, já que na época fazia parte de um grupo especial de estudo da Universidade Federal do Amazonas, e com certeza estaria satisfeita com seu papel de mãe com uma filha já maior de 21 anos. Isso todos sabem. O que eu imagino é como tal escolha acabou não somente com a vida dela (e da amiga, que ficou certamente traumatizada pelo estupro e por ter testemunhado um assassinato), mas com a dos próprios assassinos.
Quem entra no mundo do crime desse modo desde já assina uma sentença de morte. Vejo esses casos no tribunal em que trabalho. Vários ladrões acabam mortos por comparsas, boa parte deles jovens com menos de 25 anos. Fico pensando no que Afonso poderia ter sido se tivesse optado por uma vida honesta, trabalhando numa corporação onde até poderia crescer se houvesse esforço próprio. Estaria bem no seu casamento, com filhos e uma vida digna. Marcos, o comparsa, poderia ter conseguido um bom trabalho e estar vivo até hoje. Mas ambos foram movidos pela ganância e - por que não dizê-lo - uma inclinação para fazer o mal. Tornaram-se monstros por terem cedido a instintos irracionais.
Enfim, esse foi o epílogo. Que todos descansem em paz, agora. Todos nós. Afinal, são coisas da vida e da morte que poderiam ter sido mais uma história em uma coluna de jornal...
O nome do jornalista é Fernando Ruiz. Trabalhou em A Crítica, Amazonas em Tempo e por último se nâo me falha a memória Maskate.
ResponderExcluirOBRIGADO FERNANDO RUIZ POR ME INFORMAR SOBRE O FIM DE HISTÓRIA TRISTE Q VIVI.ANA ADÉLIA ERA MINHA VIZINHA DO LADO NA ÉPOCA NO CONJUNTO CAMPOS ELISEOS FIQUEI ALIVIADA PELA ADÉLIA AO SABER Q A JUSTIÇA VEIO COM A MORTE DOS ASSASSINOS,MAS COMO SERIA DIFERENTE NE?!VALEU!
ResponderExcluirOBRIGADO CESAR AUGUSTO DE OLIVEIRA POR ME INFORMAR SOBRE O FIM DE HISTÓRIA TRISTE Q VIVI.ANA ADÉLIA ERA MINHA VIZINHA DO LADO NA ÉPOCA NO CONJUNTO CAMPOS ELISEOS FIQUEI ALIVIADA PELA ADÉLIA AO SABER Q A JUSTIÇA VEIO COM A MORTE DOS ASSASSINOS,MAS COMO SERIA DIFERENTE NE?!VALEU!
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