terça-feira, 20 de dezembro de 2016

FILMES: "O filho de Saul" (Saul fia, 2015)

De março a junho de 1944, aproximadamente meio milhão de judeus húngaros foram deportados pelos nazistas das cidades da Hungria para Auschwitz, onde foram assassinados nas câmaras de gás em um dos maiores e mais ágeis processos de extermínio já realizados pelo Terceiro Reich durante o Holocausto. Quem conhece esse fato histórico consegue identificar o período e o local em que se passa "O filho de Saul" (Saul fia), filme húngaro de 2015, dirigido por László Nemes, vencedor do Oscar de melhor filme daquele ano. Algumas imagens na película remetem a fotos bastante conhecidas daquele período, feitas clandestinamente e que mostrar o processo de assassinato de homens, mulheres e crianças em um ritmo desenfreado.


Diferente das demais produções centradas na perseguição e assassinato em massa da população judia europeia durante a Segunda Guerra Mundial, "O filho de Saul" concentra a trama em Saul (Géza Röhrig), judeu húngaro prisioneiro de Auschwitz, mantendo o foco em seu rosto na maior parte do tempo, enquanto o restante do cenário é propositalmente desfocado, mas de um modo que ainda se permite entender as ações ao redor do prisioneiro. Assim, logo nos primeiros minutos, descobrimos que Saul é um dos Sonderkommandos, judeus destacados para a indigesta missão de conduzir os deportados para os vestiários e câmaras de gás, encarregando-se depois de levar os cadáveres até os fornos crematórios.

É em meio aos mortos recolhidos nas câmaras que Saul encontra um menino ainda vivo, que acredita ser seu filho, do qual foi separado durante a deportação ao campo. Obviamente, o garoto é posteriormente executado por sufocamento por um dos carrascos nazistas para que seu cadáver seja enviado para as chamas junto com os demais. É aqui que começa o drama dentro do drama de Saul: crente que o menino era seu filho, ele quer resgatar o corpo para dar-lhe um enterro digno em meio ao inferno de Auschwitz, onde o tempo todo mais judeus chegam e são assassinados. Ele chega ao ponto de em desespero procurar um rabino entre as novas vítimas da Solução Final, literalmente despejadas no campo de extermínio.


A forma de Nemes contar a história de um homem que busca manter um pouco de dignidade em meio ao caos choca. São cenas quase documentais que na maior parte expõem a loucura e a violência de um processo insano sem apelar para o explícito. Há outras cenas reveladoras do local e da época da trama: em uma delas, um prisioneiro clandestinamente tira fotos, de dentro de uma das barracas de Birkenau, da queima dos cadáveres em fossas ao ar livre, imagens recorrentes nos livros sobre o assunto.

Até o final do filme, a saga de Saul vai revelar outros aspectos históricos do Holocausto, como a tentativa de rebelião em Auschwitz - já tratado especificamente em outro filme, "Cinzas da guerra" -, para a qual é "recrutado". Mas, para ele, o mais importante é permitir ao filho um descanso digno após ser sacrificado em uma vida na qual os nazistas impediram a dignidade até o momento da deportação e extermínio.


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