terça-feira, 5 de junho de 2012

SÉRIES: "A sete palmos" (Six feet under, 2001-2005)


A família Fisher: Claire, Nate, Ruth e David

Exibida de 2001 a 2005 na HBO, a série "A sete palmos" (Six Feet Under), criada pelo roteirista Alan Ball, para mim foi um marco até agora insuperável entre as séries dramáticas estrangeiras exibidas no Brasil. Em cinco temporadas, muito drama com doses de humor negro marcaram a saga da família Fisher, donos da Funerária Fisher & Sons. Ruth (Frances Conroy), a mãe, e os filhos David (Michael C. Hall), Nate (Peter Krause) e Claire (Lauren Ambrose), suas relações afetivas e amorosas complicadas a partir da morte do patriarca, Nathaniel (Richard Jenkins) em um acidente de trânsito me trouxeram uma visão bastante interessante sobre a efemeridade da vida e o impacto da morte. 

Keith e David Fisher
Logo no primeiro episódio, descobrimos que Ruth tinha um amante, e apesar da consciência pesada assume o romance após ficar viúva; David, o filho do meio, é homossexual e tem uma relação conflituosa com o policial Keith (Matthew St. Patrick) por ter medo de "sair do armário"; Nate, o filho mais velho, vai visitar a família justamente no dia do acidente fatal do pai e acaba aos poucos sendo pressionado para assumir os negócios com David; e Claire, a adolescente rebelde típica, vive à margem da família, envolvendo-se em relacionamentos com pessoas tão complicadas quanto ela, como o viciado em drogas Gabriel Dimas (Eric Balfour, do remake de "O massacre da serra elétrica"), o sexualmente indefinido Russell (Ben Foster) e até mesmo a avançadinha Edie (Mena Suvari), com quem ensaia uma relação lésbica. 

Nate e Brenda
 Entra ainda na história Brenda (Rachel Griffiths, premiada por sua atuação), que tem uma relação de idas e vindas com Nate e com o próprio irmão bipolar Billy (Jeremy Sisto) e os pais desajustados, Margareth (Joanna Cassidy) e Bernard (Robert Foxworth). Federico "Ricco" Diaz (Freddy Rodriguez) é o auxiliar da funerária que "maquia" os cadáveres e sempre tenta se colocar além do posto de empregado dos Fisher. Na segunda temporada, entra em cena Lisa (Lilly Taylor), ex-namorada de Nate, que mora em Seattle e acaba entrando na vida da família Fisher de forma marcante.

O interessante de "A sete palmos" é a originalidade: cada episódio tem uma morte no início, e o finado, na maioria das vezes, conversa com os personagens, aconselhando-os em seus conflitos. Nathaniel acompanha do além as peripécias da sua víuva e filhos, tendo diálogos reveladores com todos, sem perder o sarcasmo que passou a expressar indiscriminadamente após sua morte. Ao final de toda a história e conhecido o destino de cada um dos personagens, resta aquela sensação de que a vida vale muito a pena ser aproveitada ao máximo, pois o tempo é implacável.


Estupidez sobre rodas

Trânsito é meu tema preferido, sobretudo quando é para, em bom dito popular, baixar o malho. Até que surja algum tipo de iniciativa que o coloque nos eixos, nada me resta senão falar mal, muito mal. 

Cada cidade brasileira tem sua peculiaridade no trânsito. Em Manaus, o caos aumenta a cada dia. Carros demais nas ruas, espaço de menos, falta de planejamento e temos estresse, barulho insuportável, congestionamentos, falta de educação, pessoas dirigindo pela contramão e acidentes acontecendo com frequência. 

Como se não bastassem os estúpidos das quatro rodas (ou mais, dependendo do veículo, que pode ainda ser um ônibus biarticulado ou um daqueles monstrengos mecânicos transportadores de contêineres), agora a turma das duas rodas resolveu entrar para o infame clube.

Explico a constatação. Hoje, a caminho do trabalho, deparei-me com uma cena inusitada: motoqueiros trafegando pelas calçadas. Não dirijo e não sou expert em legislação de trânsito, mas no meu limitado conhecimento sei muito bem que calçadas são feitas para pedestres, coisa aparentemente desconhecida para os infratores. Mas a esculhambação (não há expressão mais adequada) é tamanha e a falta de uma fiscalização mais rigorosa (e à prova de propinas ou "guaranás", como se diz aqui em Manaus) é cada vez mais gritante que os próprios condutores estão ditando as regras na capital amazonense. E são os maus motoristas que as ditam, os praticantes do famoso "jeitinho" para chegar mais rápido ao seu destino, incluindo-se aí dirigir pela contramão, fazer retorno em lugares proibidos, não respeitar a faixa de pedestres, trancar cruzamentos, fechar garagens com seu carro e ultrapassar ou fazer curvas sem sinalizar, só para citar algumas atitudes. Isso acontece todos os dias, em qualquer lugar de Manaus. E a cheia está aí para piorar ainda mais a situação.

A cena que descrevi acima aconteceu na rua Salvador, em Adrianópolis, entre as avenidas Umberto Calderaro e Mário Ypiranga, por volta das 7h. No último domingo, 3 de junho, presenciei algo mais revoltante ainda na avenida Constantino Nery, na altura do bairro São Geraldo: um sujeito fez retorno com seu veículo passando por cima do canteiro central, o qual já estava bem deteriorado. 

As desculpas para tentar justificar essas práticas infames são muitas, mas nunca condizem com a verdade, que é só uma: a maior parte dos motoristas de hoje são burros, preguiçosos e incrivelmente irresponsáveis, sem contar o descaso com o patrimônio público, como o do cidadão (se é possível considerá-lo assim) protagonista da segunda cena. Para piorar, o governo federal estimula a venda de veículos de todas as formas. Como se nas ruas brasileiras o que mais se carecesse fosse de carro para o povo. Povo mal educado, infelizmente.

Mais carros novos circulando, menos investimentos no sistema viário, mais aborrecimentos para pedestres e bons motoristas. E as novas gerações estão aí para aprender, como os filhos dos pais que, por preguiça pura, dirigem pela contramão na rua Natal, em Adrianópolis, para deixar suas crianças na escola, a poucos metros dali. Sem dúvida, é o futuro da nação.

Comentário: "Esposas em Conflito" (The Stepford Wives, 1975)


Em Stepford, Connecticut, a vida é tranquila. A cidade é pequena, limpa, as pessoas são amistosas. As esposas dos homens mais ricos do local são dedicadas donas de casa, voltadas para serviços domésticos e empenhadas em cuidar dos maridos e filhos. Para a fotógrafa amadora Joanna Eberhart (Katharine Ross), no entanto, tanta tranquilidade e passividade feminina são motivos de espanto e horror, típicos de quem está acostumada com a loucura urbana. Ela acaba de mudar-se da vida agitada de Nova York com o marido advogado, Walter (Peter Masterson), e as duas filhas pequenas, Kim (Mary Stuart Masterson, que depois de adulta ganharia destaque em "Tomates verdes fritos") e Amy (Ronny Sullivan).
 
Logo os Eberhart farão contato com seus vizinhos "domesticamente" corretos, os Van Sant, e Walter será introduzido à Associação Masculina, uma espécie de Clube do Bolinha onde, supostamente, os poderosos de Stepford discutem questões sociais da cidade, como eventos para arrecadação de fundos. Joanna, por outro lado, conhece Bobbie Markowe (Paula Prentiss), outra novata em Stepford que, como a fotógrafa, está a ponto de enlouquecer com a vida extremamente pacata da cidade.

Joanna e Bobbie tornam-se grandes amigas e decidem formar um grupo de discussão reunindo as demais esposas de Stepford. Conhecem Charmaine (Tina Louise), que compartilha das mesmas opiniões que ambas. O encontro do grupo, no entanto, é um desastre total, já que as demais mulheres preferem falar sobre tarefas domésticas. Ao descobrirem por meio de uma antiga moradora (e criadora de um pasquim de fofocas e fatos corriqueiros de Stepford) que no local existiu um dia uma associação feminina atuante, Joana e Bobbie começam a questionar o comportamento passivo das mulheres do lugar, e após uma estranha transformação nas atitudes de Charmaine, que de mulher ativa passa a ser uma dona de casa exemplar a ponto de permitir que o marido destrua sua quadra de tênis, elas começam a desconfiar de que algo muito errado está acontecendo sob a aparente tranquilidade de Stepford. E a descoberta é macabra.

O filme, dirigido por Bryan Forbes, é baseado no livro de Ira Levin (publicado na década de 1970 no Brasil pela editora Record com o título "As possuídas"), escritor de "O bebê de Rosemary" e "Os meninos do Brasil", também adaptados para o cinema. Recentemente, foi feita uma refilmagem, "Mulheres perfeitas", onde o clima sombrio e a metáfora cruel do pavor masculino diante da ascensão das mulheres deu lugar à comédia escrachada e crítica à mídia. Gosto muito do original, por ser um ponto de vista interessante do machismo em franca ameaça com os movimentos feministas. 

Considerado como cult, o filme também é um exemplo do impacto sobre a cultura popular. Até hoje, o termo "Stepford wife" é utilizado para definir mulheres dominadas ou extremamente subservientes ("robotizadas"). Mesmo 35 anos depois, "Esposas em conflito" ainda guarda um certo charme e vale a pena ser revisto.

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...