terça-feira, 5 de junho de 2012

Comentário: "Esposas em Conflito" (The Stepford Wives, 1975)


Em Stepford, Connecticut, a vida é tranquila. A cidade é pequena, limpa, as pessoas são amistosas. As esposas dos homens mais ricos do local são dedicadas donas de casa, voltadas para serviços domésticos e empenhadas em cuidar dos maridos e filhos. Para a fotógrafa amadora Joanna Eberhart (Katharine Ross), no entanto, tanta tranquilidade e passividade feminina são motivos de espanto e horror, típicos de quem está acostumada com a loucura urbana. Ela acaba de mudar-se da vida agitada de Nova York com o marido advogado, Walter (Peter Masterson), e as duas filhas pequenas, Kim (Mary Stuart Masterson, que depois de adulta ganharia destaque em "Tomates verdes fritos") e Amy (Ronny Sullivan).
 
Logo os Eberhart farão contato com seus vizinhos "domesticamente" corretos, os Van Sant, e Walter será introduzido à Associação Masculina, uma espécie de Clube do Bolinha onde, supostamente, os poderosos de Stepford discutem questões sociais da cidade, como eventos para arrecadação de fundos. Joanna, por outro lado, conhece Bobbie Markowe (Paula Prentiss), outra novata em Stepford que, como a fotógrafa, está a ponto de enlouquecer com a vida extremamente pacata da cidade.

Joanna e Bobbie tornam-se grandes amigas e decidem formar um grupo de discussão reunindo as demais esposas de Stepford. Conhecem Charmaine (Tina Louise), que compartilha das mesmas opiniões que ambas. O encontro do grupo, no entanto, é um desastre total, já que as demais mulheres preferem falar sobre tarefas domésticas. Ao descobrirem por meio de uma antiga moradora (e criadora de um pasquim de fofocas e fatos corriqueiros de Stepford) que no local existiu um dia uma associação feminina atuante, Joana e Bobbie começam a questionar o comportamento passivo das mulheres do lugar, e após uma estranha transformação nas atitudes de Charmaine, que de mulher ativa passa a ser uma dona de casa exemplar a ponto de permitir que o marido destrua sua quadra de tênis, elas começam a desconfiar de que algo muito errado está acontecendo sob a aparente tranquilidade de Stepford. E a descoberta é macabra.

O filme, dirigido por Bryan Forbes, é baseado no livro de Ira Levin (publicado na década de 1970 no Brasil pela editora Record com o título "As possuídas"), escritor de "O bebê de Rosemary" e "Os meninos do Brasil", também adaptados para o cinema. Recentemente, foi feita uma refilmagem, "Mulheres perfeitas", onde o clima sombrio e a metáfora cruel do pavor masculino diante da ascensão das mulheres deu lugar à comédia escrachada e crítica à mídia. Gosto muito do original, por ser um ponto de vista interessante do machismo em franca ameaça com os movimentos feministas. 

Considerado como cult, o filme também é um exemplo do impacto sobre a cultura popular. Até hoje, o termo "Stepford wife" é utilizado para definir mulheres dominadas ou extremamente subservientes ("robotizadas"). Mesmo 35 anos depois, "Esposas em conflito" ainda guarda um certo charme e vale a pena ser revisto.

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