Impossível esquecer Sissy Spaceck no papel-título em 1976, na primeira adaptação do livro "Carrie", de Stephen King, dirigida por Brian De Palma. Difícil também não lembrar a sequência perfeita do baile, o clímax do filme no qual a adolescente desajustada e atormentada pelos colegas de escola libera sua fúria em seus poderes telecinéticos para reduzir a escola a escombros e liquidar seus algozes, com um preâmbulo de suspense de fazer prender a respiração e uso da técnica do split screen (divisão da tela) para mostrar o massacre perpetrado pela garota banhada em sangue - resultado de uma brincadeira de péssimo gosto da patricinha Chris Hargensen (Nancy Allen) em conluio com seu namorado encrenqueiro e violento, Billy Nolan (John Travolta).
Ainda assim, tentando controlar essas lembranças, fui assistir à terceira versão de "Carrie, a estranha" (a segunda, lembrem-se, foi feita para a televisão norte-americana em 2002, com Angela Bettis no papel principal e mais fiel ao livro - exceto pelo final ridículo). Depois, em conversa com um amigo cinéfilo, constatei que, de fato, esse remake dirigido por Kimberly Peirce se assemelhou em muito à refilmagem de "Psicose" feita por Gus Van Sant em 1998 - um erro terrível. O prólogo do filme foi diferente, mostrando a gênese de Carrie nas mãos de Margareth White (Julianne Moore, em minha opinião desperdiçada nesse filme. Piper Laurie se saiu muito melhor no original, nada caricata). No entanto, no restante é como se praticamente a obra de De Palma tivesse sido copiada quadro a quadro - tem as garotas jogando volei (apesar de ser na piscina), a primeira menstruação de Carrie (Chlöe Grace Moretz) no banheiro com o detalhe do sabonete caindo ao chão, diálogos praticamente iguais, o garoto na bicicleta que sofre o primeiro revide telecinético da adolescente, o ataque à mãe de Carrie em uma cena previsível a ponto de causar risos em vez de choque...
Poderia ser diferente, como a versão para a tv, sem usar o primeiro roteiro adaptado. Refilmagens já são toscas, com raras exceções que superam o original (remakes de "O bebê de Rosemary" e "Chinatown", por exemplo, são inimagináveis até aparecer outro Gus Van Sant). Em "Carrie", para não detonar 100 por cento o filme, a sequência do baile é bacana, mais violenta porém menos genial que a da primeira versão. Para não ficar tão feio, talvez, algumas situações novas foram colocadas nessa readaptação, relativas às personagens Sue Snell (Gabriella Wilde, no papel que já foi de Amy Irving) e Rita Desjardin (Judy Greer, professora de educação física de Carrie e que se torna sua amiga, rebatizada como miss Collins na primeira versão, quando foi interpretada por Betty Buckley e foi morta no "Baile Negro"), um pouco mais fiéis ao livro. Mas é só. Outro fato meio "destoado" foi a beleza de Chlöe, um tipo muito patricinha para interpretar Carrie - no livro, é uma garota sem atrativos, vitimada pelo bulliyng dos colegas de escola (coisa que Sissy Spaceck e até Angela Bettis - apesar de meio caricata - conseguiram caracterizar muito bem nas duas versões anteriores). Porém, o filme serve pelo menos para ocupar uma tarde ociosa de domingo.