terça-feira, 16 de abril de 2013

Comentário: "O bebê de Rosemary" (Rosemary's baby, 1968)


Lançado em blu-ray há pouco mais de dois meses, “O bebê de Rosemary” (Rosemary’s baby, Estados Unidos, 1968) lidera minha lista dos melhores filmes de terror psicológico da história do cinema. Apostando apenas no clima sombrio e no ponto de vista da personagem principal, o diretor Roman Polanski deixou sua marca nesta obra-prima que até hoje pode assustar aos conseguem envolvimento na história, adaptada do romance de Ira Levin – escritor que colecionaria mais sucessos literários transportados para as telas, como “Os meninos do Brasil”, “Um beijo antes de morrer” e “As esposas de Stepford”.

O casal Rosemary (Mia Farrow) e Guy Woodhouse (John Cassavetes) – ela uma jovem ingênua, ele um ator iniciante e ambicioso – conseguem alugar um apartamento amplo no edifício Bramford, em Nova York, por uma verdadeira pechincha. Nem mesmo a história sinistra do imóvel – palco de casos de satanismo e rituais de canibalismo – ou o fato de a proprietária anterior ter morrido misteriosamente tira o ânimo do casal em começar uma nova vida. 
 
Entre o contato com os novos – e na maior parte idosos – moradores do Bramford, o casal se envolve com os Castevet: Minnie (Ruth Gordon, que levou o Oscar pelo papel) e Roman (Maurice Evans), sempre solícitos após uma tragédia que vitima sua filha adotiva. Em uma determinada noite, Rosemary tem um pesadelo no qual é estuprada por uma criatura de quem só consegue ver os olhos oblíquos e amarelos, violência assistida pelos Castevet, Guy e os demais moradores do Bramford. Dias depois, ela descobre que espera um bebê.

A partir dessa gravidez, Rosemary começa seu calvário: acontecimentos estranhos a fazem acreditar que a criança em seu ventre é alvo de uma conspiração satânica orquestrada pelos Castevet com a colaboração de Guy. Ao contrário das grávidas comuns, a jovem emagrece, come carne crua e sente dores assustadoras. A única pessoa em quem confia nesse momento é Hutch (Sidney Blackmer), escritor e amigo do casal. Mas Hutch subitamente entra em coma, levando a jovem mãe a entrar em um redemoinho de pânico alternado com momentos de tranquilidade, até descobrir a verdade sobre a noite do pesadelo, Guy e sua relação com os Castevet – e do próprio edifício Bramford.

Ao dirigir “O bebê de Rosemary”, Polanski manteve-se o mais fiel possível ao original de Ira Levin. Assim, todo o filme transcorre a partir do ponto de vista da protagonista, tornando o espectador seu cúmplice e levando-o a experimentar todo o temor que a consome. Minha maior diversão, ao rever este filme – mais de 20 vezes, sem enjoar -, é descobrir as “pistas” sobre a trama diabólica da qual a jovem Rosemary é vítima, interpretando detalhes dos pesadelos e pequenos gestos dos demais personagens. A trilha sonora é um espetáculo à parte, pontuando cada cena e contribuindo para o clima de tensão e medo. 
 
Visto hoje, “O bebê de Rosemary” pode parecer, para muitos, ultrapassado. A cena final da revelação deve deixar alguns decepcionados, mas isso fica para quem não gosta de seguir a lógica das histórias – o que é muito comum hoje em dia, com efeitos espetaculares escondendo a fraqueza dos roteiros. Para quem gosta de cinema de verdade, é uma joia eterna. Para se assustar, basta ver a reação de Rosemary diante do berço negro e sua pergunta desesperada: “O que vocês fizeram com os olhos dele?”.


(texto publicado no caderno Plateia, jornal Amazonas em Tempo, em 31/03/2013)

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...