Por William Gaspar*
Este é um daqueles
filmes que eu vi por acaso no Festival Varilux de Cinema Francês e
me apaixonei. “O homem que ri” é simplesmente uma obra para se
assistir um milhão vezes como sempre fosse a primeira vez, pois é
maravilhosa, e aqui divinamente interpretada e com uma fotografia
impressionantemente linda. Não tem como não sair da sessão feliz
com o que assistiu, mesmo sendo completamente trágica.
Umas das sacadas mais
bacanas do filme é que, ao mesmo tempo em que temos uma singela
história, temos uma visão política da época em que ele se passa,
focando na mensagem de que as pessoas preferem rir da desgraça
alheia a olhar para seu próprio eu.
Bom, vamos ao filme. A
adaptação do romance de Victor Hugo (a terceira, pelo que eu li no
“tio” Google) traz a história de dois órfãos, Gwynplaine, um
garoto cuja cicatriz no rosto dá a impressão de que ele está
sempre sorrindo, e Déa, uma garota cega. Em pleno inverno, eles são
acolhidos pelo grande Ursus e passam a viver com ele. Para ganharem
dinheiro, os dois jovens decidem fazer um espetáculo pelas estradas,
onde o sorriso de Gwynplaine desperta a curiosidade de todos que
passam. Aos poucos, o garoto adquire fama e dinheiro, distanciando-o
das únicas duas pessoas que sempre gostaram dele: Déa e Ursus.
A história em si é
simplesmente perfeita. A forma que Jean-Pierre Améris dirige esta
versão é quase um musical teatralizado de forma brilhante. Alguns
vão dizer até que podem ter visto uma visão de "Os
Miseráveis" pela semelhança visual que o filme tem. A história
sozinha já é muito boa e a forma como foi transmitida nessa versão
conseguiu ser melhor ainda. Fiquei realmente bobo.
O trio principal de
atores merece o Oscar ou sei lá o quê, pois são esplêndidos com
tudo que fazem em todos os atos do longa. Marc-André Grondin, que
interpreta o protagonista, conseguiu me surpreender de tal forma que
já quero assistir sem dúvida alguma todos seus filmes anteriores,
principalmente porque vi (no “tio” Google) que ele já ganhou
muitos prêmios por outro filme, e se aqui foi perfeito e nem sequer
levou alguma indicação, imagino onde ele foi indicado. Suas cenas
aqui chegam a ter um peso imenso mesmo quando está fazendo algo
cômico.
Christa Theret, que faz
a linda, maravilhosa, apaixonante, pura, inocente, mulher pra
casar... ufa... Déa, chega a nos passar a sensação de que
realmente é cega em diversos momentos, e assim sendo sofremos muito
com tudo que ocorre com ela, acabando que a observamos, assim como o
protagonista, sendo uma alma pura e perfeita. Gérard Depardieu é o
ator francês que mais conheço e ele raramente me decepciona. Mesmo
muito velho e gordo, o cara ainda é um ator de ponta.
Já falei um pouco no
começo, mas vou reforçar bem agora sobre o visual do filme. Que
coisa impecável! É algo ao mesmo tempo irreal e surreal,
surpreendendo em cada elemento cênico que é destacado pela
maravilhosa fotografia. Acho que Tim Burton vai ser muito lembrado
para os que assistirem esse filme, mas há uma singularidade nele que
vai acabar com qualquer comparação.
* Jornalista profissional