quarta-feira, 15 de maio de 2013

Comentário: "O homem que ri" (L'homme qui rit, 2012)



Por William Gaspar*

Este é um daqueles filmes que eu vi por acaso no Festival Varilux de Cinema Francês e me apaixonei. “O homem que ri” é simplesmente uma obra para se assistir um milhão vezes como sempre fosse a primeira vez, pois é maravilhosa, e aqui divinamente interpretada e com uma fotografia impressionantemente linda. Não tem como não sair da sessão feliz com o que assistiu, mesmo sendo completamente trágica.

Umas das sacadas mais bacanas do filme é que, ao mesmo tempo em que temos uma singela história, temos uma visão política da época em que ele se passa, focando na mensagem de que as pessoas preferem rir da desgraça alheia a olhar para seu próprio eu.

Bom, vamos ao filme. A adaptação do romance de Victor Hugo (a terceira, pelo que eu li no “tio” Google) traz a história de dois órfãos, Gwynplaine, um garoto cuja cicatriz no rosto dá a impressão de que ele está sempre sorrindo, e Déa, uma garota cega. Em pleno inverno, eles são acolhidos pelo grande Ursus e passam a viver com ele. Para ganharem dinheiro, os dois jovens decidem fazer um espetáculo pelas estradas, onde o sorriso de Gwynplaine desperta a curiosidade de todos que passam. Aos poucos, o garoto adquire fama e dinheiro, distanciando-o das únicas duas pessoas que sempre gostaram dele: Déa e Ursus.

A história em si é simplesmente perfeita. A forma que Jean-Pierre Améris dirige esta versão é quase um musical teatralizado de forma brilhante. Alguns vão dizer até que podem ter visto uma visão de "Os Miseráveis" pela semelhança visual que o filme tem. A história sozinha já é muito boa e a forma como foi transmitida nessa versão conseguiu ser melhor ainda. Fiquei realmente bobo.

O trio principal de atores merece o Oscar ou sei lá o quê, pois são esplêndidos com tudo que fazem em todos os atos do longa. Marc-André Grondin, que interpreta o protagonista, conseguiu me surpreender de tal forma que já quero assistir sem dúvida alguma todos seus filmes anteriores, principalmente porque vi (no “tio” Google) que ele já ganhou muitos prêmios por outro filme, e se aqui foi perfeito e nem sequer levou alguma indicação, imagino onde ele foi indicado. Suas cenas aqui chegam a ter um peso imenso mesmo quando está fazendo algo cômico.

Christa Theret, que faz a linda, maravilhosa, apaixonante, pura, inocente, mulher pra casar... ufa... Déa, chega a nos passar a sensação de que realmente é cega em diversos momentos, e assim sendo sofremos muito com tudo que ocorre com ela, acabando que a observamos, assim como o protagonista, sendo uma alma pura e perfeita. Gérard Depardieu é o ator francês que mais conheço e ele raramente me decepciona. Mesmo muito velho e gordo, o cara ainda é um ator de ponta.

Já falei um pouco no começo, mas vou reforçar bem agora sobre o visual do filme. Que coisa impecável! É algo ao mesmo tempo irreal e surreal, surpreendendo em cada elemento cênico que é destacado pela maravilhosa fotografia. Acho que Tim Burton vai ser muito lembrado para os que assistirem esse filme, mas há uma singularidade nele que vai acabar com qualquer comparação. 

* Jornalista profissional

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