quinta-feira, 11 de julho de 2013

Um olhar sobre Parintins

Pela quinta vez fui a Parintins durante o festival folclórico – a terceira a trabalho, depois de um intervalo de dez anos. Em 2008 e 2010, fui a passeio. No último ano, já comecei a ter outro olhar a situação do evento, considerada a maior da região Norte – e não gostei muito do que vi. A festa no bumbódromo é uma coisa. Fora, é uma repetição do que há em Manaus, com forró, brega e funk de mau gosto – aliás, posso dizer, com risco de ser mal interpretado, que a maioria dos visitantes da capital amazonense empestam a cidade, juntamente com a maior parte dos turistas de outros lugares. Quem conhece o festival e Parintins antes, durante e depois do evento, sabe muito bem que estou correto.

Atenhamos-nos, porém, ao festival deste ano (a esculhambação na cidade já foi tratada em outro post meu em julho de 2010), o 48º da ilha tupinambarana, palco do centenário – ainda que questionado – de Caprichoso e Garantido. Uma nova empresa organizou tudo, a Tucunaré Turismo – rebatizada, nos corredores, para Candiru Turismo, tamanho o incômodo causado aos que foram trabalhar na festa. As críticas pularam de todos os lados. E para não parecer injusto, cabe esclarecer que os dois bumbás tiveram papel neste que, sem dúvida, deve ter sido o pior festival de todos os tempos – profissionalmente falando.

Comecemos pela transmissão. Até hoje, praticamente duas semanas após o fim do festival, não consigo entender como foram fechados contratos com emissoras diferentes – uma para cada bumbá. O resultado disso pode ser testemunhado nos comentários das redes sociais por quem conseguiu ver um, mas não conseguiu o outro boi. A hipótese para tal decisão estranha: briga de diretorias, cada uma querendo ser melhor que a outra, para mostrar o seu bumbá como o melhor em tudo – como se isso dependesse da emissora escolhida. Cadê a unidade do festival? Nesse momento, o festival folclórico de Parintins deixou de existir para se tornar o festival folclórico do Caprichoso e o festival folclórico do Garantido. E a ilha que se dane, é só um palco mesmo... Lógica de Zé Mané.

Temos agora um bumbódromo ampliado, com iluminação nova, som novo, espaço para cadeirantes e transmissão em tempo real para portadores de deficiências auditivas. Mais de R$ 40 milhões – corrijam-me se eu estiver esquecendo algo na cifra, por favor – para haver mais espaço para quem possa pagar. Claro, porque o povão mesmo se espreme nas arquibancadas para torcer pelo seu bumbá. Pelo lado de fora, parece monumental. Fora do festival, a estrutura será utilizada para atividades educativas, o que foi devidamente divulgado pelo governo do Estado. Torço, sinceramente, pelo sucesso dessa empreitada. Chega de interior abandonado!

Quem trabalhou na cobertura do festival ficou espantado, mas não com a grandiosidade, e sim com detalhes não levados em conta e que causaram um tremendo incômodo. Os corredores sob as arquibancadas, onde ficaram concentradas as redações da mídia e a organização (segurança, engenharia e outros), viraram labirintos de vigas que poderiam arrebentar a testa dos mais distraídos. Pela falta de um sistema decente de escoamento, esses mesmos corredores viraram piscinas. Água nos banheiros também, pelo menos durante o dia, foi um item ausente. Em frente à sala destinada ao jornal Amazonas em Tempo, o piso teve que ser quebrado para arrumar alguma coisa (até hoje não sei o que diabos era aquilo).

As novidades que poderiam fazer a diferença no bumbódromo foram um tremendo fiasco. O espaço dos cadeirantes ficou um nível um pouco acima do fosso da imprensa, de frente para a arena, onde fotógrafos se espremiam para tentar capturar a melhor imagem – sim, porque o acessofoi restrito; ninguém mais poderia passear livremente pelos camarotes ou pela arquibancada para tentar fazer imagens diferentes, mais marcantes. Ainda com a parafernália de equipamentos colocados em frente, aos cadeirantes foi difícil assistir as apresentações. Arrisco dizer frustrante, até. Involuntariamente, os fotógrafos “cortaram o barato” dessas pessoas. E ainda havia outros desfilando por lá, parando justamente naquele ponto e atrapalhando mais ainda a visão. Sugestão? Vamos respeitar essas pessoas, tornando o setor mais alto, com rampas, para que elas também tenham direito à diversão.

Aí chegamos aos surdos-mudos. Bacana a iniciativa do telão, com uma intérprete de libras “traduzindo” (perdoem-me se não é o termo adequado) as letras das toadas. Só que um único telão, que logo era encoberto pelas gigantescas alegorias dos bumbás, se revelou uma tremenda trapalhada, para não dizer uma gigantesca inutilidade. Que tal instalar outros painéis, mais altos, em vários pontos do bumbódromo? Os R$ 40 milhões não foram suficientes?

Chegamos a nós, da imprensa. A Candiru, ops, Tucunaré Turismo, restringiu muito o acesso dos profissionais para a cobertura. Até compreensível, para evitar a entrada de pessoas que queriam ver o festival de pertinho sem pagar ou ir para a arquibancada das galeras. Mas a papagaiada começou no credenciamento: nos jornais impressos, só foram permitidos dois repórteres e dois fotógrafos, enquanto que o número de colunistas sociais era quatro. Convenhamos: quatro profissionais que se matam de trabalhar para fazer uma boa cobertura e outros quatro que só passam pelos camarotes para puxar o saco e massagear o ego de “celebridades” e dondocas. Onde está a lógica disso? Valorizar o fútil em vez do profissional? V.S.F.!

Antes dos aborrecimentos no fosso – espaço que ainda foi disputado por um e outro profissional de “imprença” que saracoteava mais que o povo da galera -, os primeiros dias antes do festival já indicavam o terror: nossa equipe precisou alugar mesas e cadeiras, porque os “bunitos” da organização não providenciaram tudo, conforme já havia sido acordado em Manaus uma ou duas semanas antes da nossa viagem (apenas para situá-los, chegamos a Parintins dia 21 de junho). Sem entrar em muitos detalhes para não parecer muito rodeio, fomos praticamente relegados a segundo plano. Até para acessar o bumbódromo por um caminho mais rápido houve “burrocracia”, porque o portão mais próximo se tornou exclusividade de acesso para os colegas de uma das emissoras que iria transmitir o festival. Isso não engoli até hoje, tamanha minha indignação.

Com essa esculhambação toda, demos o famoso “jeitinho brasileiro”. Um dos colegas que não foi credenciado a tempo usou a credencial de outro que não foi ao festival, para poder acessar o infame fosso. A fotógrafa de nossa equipe só conseguiu imagens gerais da festa porque tinha uma credencial do camarote da Coca-Cola – e ainda assim foi barrada em vários lugares (como se nos importasse registrar atores da rede Globo enchendo a cara e vendo o festival – duvido, sinceramente, que tenham pago por tudo isso). O outro fotógrafo teve que se acotovelar no fosso com os outros. Os repórteres tiveram que escolher um lado do bumbódromo para ficar, porque transitar entre os dois pontos era uma missão quase impossível. E assim conseguimos trabalhar, até mesmo superando o desânimo com tanta falta de respeito e planejamento decente.

O festival de Parintins está se tornando um produto exclusivo para televisão. A mídia impressa não tem mais o respeito adequado. Não reclamo tratamento VIP, isso pouco me interessa. Deixo isso para aqueles que fazem questão disso, de serem paparicados, quase carregados no colo – e sem merecer, diga-se de passagem. Eu me queixo da falta de estrutura ideal para fazermos nosso trabalho. Se ficar naquele fosso, sem acesso a nenhum outro lugar, é cobrir o festival, melhor parar aqui.

Enquanto os bumbás brigam para serem donos do festival, Parintins vira uma baderna. Ao que parece – e isso meus colegas que moram lá podem confirmar ou desmentir -, organização ali só acontece nessa época para maquiar a cidade para turistas. Não vi placas de sinalização até o dia da festa dos visitantes. Há poucos sinais de trânsito – e para uma cidade com mais de 100 mil habitantes, isso é uma deficiência gravíssima. Tudo o que tratei no post de julho de 2010 eu poderia repetir aqui – a falta de respeito com a população da ilha, principalmente. Dá para se ter uma ideia da arrogância dos bumbás pelo comportamento de um item feminino, que durante entrevista com nosso repórter, visivelmente mal humorada, respondeu evasivamente suas perguntas sem tirar o olhar - e os dedos - de seu celular. Para sorte do bumbá, foi o último ano da “estrelinha”.

Se toda essa esculhambação não tiver fim, podem ter certeza de que o sucesso do festival folclórico de Parintins está com os dias contados. Vai voltar a ser aquela disputa em cima de um tablado, porque ninguém aguenta desaforo e desorganização por muito tempo, haja o dinheiro que houver por trás. Aliás, até hoje não sei quem lucra com esse festival, pois a cidade continua com infraestrutura precária e a maior parte da população vive na informalidade – dado confirmado por uma pesquisa dos estudantes de Comunicação Social da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em Parintins, repassado por um colega.

Uma cidade com um evento desse porte há muito tempo deveria ter deixado de ser sazonal. Os dirigentes dos bumbás vivem bem, claro, mas não se ouve falar das famílias dos criadores de Caprichoso e Garantido. Muita gente sai lucrando nessa época, fora os patrocinadores. Algo de muito errado está por trás desse festival. Será que Parintins vai disputar com Manaus o título de Sucupira do mundo real? Lá, boi já voa. Tirem suas conclusões.

Para não dizerem que só reclamo, tenho que fazer elogios. Quanto à organização, a segurança foi muito eficiente – e isso foi bom porque todo mundo sabe que a rapiocagem de Manaus pega o barco para tocar o terror em Parintins (não é mentira!). Tenho que parabenizar, como sempre, os torcedores das galeras de Caprichoso e Garantido, que ainda guardam a essência do festival com sua garra. Vendo-os, é possível se emocionar e esquecer a canalhice que enfrentamos. Quanto à cobertura, todos os jornalistas que lá estiveram e passaram pelo mesmo sufoco restrições merecem todos os elogios. Em Parintins, agora, não basta ser profissional (ainda que o conceito para a organização, aparentemente, seja registrar caras e bocas). É preciso ter sangue de barata para acabar se tornando um herói da informação.

Comentário: "O cavaleiro solitário" (The lone ranger, 2013)


Por William Gaspar

Fraco. Posso definir assim o filme “O cavaleiro solitário”, faroeste da Disney estrelado por Johnny Depp e Armie Hammer.

Com tudo fraco, a não ser a duração, ele é um filme esquizofrênico, pouco engraçado em suas tentativas de auto-paródia e parece ser um faroeste feito por pessoas que não entendem nada do gênero. O diretor Gore Verbinski e seus roteiristas pegaram uma ideia promissora e colocaram uma bala de prata na cabeça dela (já que não a usaram no filme).

Depois de acertar com sua paródia animada de faroeste, "Rango", Gore Verbinski parece não ter mais munição. "O cavaleiro solitário" não tem nada uniforme, além de oscilar e se debater o tempo todo enquanto tenta encontrar o ritmo certo.

Isso sem falar do papel do Johnny Depp (de quem sou fã incontestável. Só acho alguns papéis superestimados). Exageradamente pintado, ele tentou recriar a fórmula de um certo capitão, mas não teve muito sucesso, apesar da atuação boa. Depp se esforça para achar o tom, mas ele e Hammer não têm química.

Os vilões do filme também são fracos. Um ficando mole no decorrer da trama e outro se mostrando um monstro educado. Nada que marque uma possível franquia. Isso sem falar da participação de Helena Bonham Carter.  Só Deus sabe o que ela fazia neste filme, ou quem ela era. Completamente desnecessária e posta em cenas disformes.

Resumindo, acho que o filme não vale o ingresso, o que explica o fracasso nas bilheterias americanas. Para quem prefere conferir, o filme estreia aqui em Manaus nesta sexta-feira (12). No mais, entre acertos e erros, dou nota 4.

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