sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Coisas da vida e da morte

Décadas atrás, o jornal A Crítica publicava uma coluna chamada "Coisas da vida e da morte", de autoria de um jornalista cujo nome me foge agora. Eu gostava de ler aquelas histórias simples, algumas trágicas e outras divertidas, baseadas em personagens do cotidiano de Manaus.
A lembrança da coluna me voltou agora, com a conclusão de uma história iniciada em 1992. Seria um caso interessante para o jornalista fazer um daqueles contos, pelas proporções que tomou ou mesmo pelo rumo que poderia ter tomado.
Na semana passada, um ex-presidiário chamado Afonso Araújo de Almeida foi assassinado aos 40 anos com 13 facadas no bairro da Glória. Ele havia recebido liberdade condicional após ter sido condenado em 1993 pelo assassinato da estudante de Jornalismo Ana Délia Albuquerque Holanda, aos 24 anos, ocorrido em 25 de fevereiro de 1992. Na ocasião, a vítima e uma amiga estavam na praida da Ponta Negra, à noite, passeando quando foram abordadas pelo cidadão (policial militar à época) e mais um comparsa (cidadão comum), que lhes pediu uma carona. Na boa fé, ela concordou (quem imaginaria que a farda de um policial militar esconderia um criminoso?).
A partir daí, começou uma noite de terror. As duas jovens foram sequestradas, roubadas, estupradas e, com os braços amarrados para trás em seus próprios sutiãs, atiradas de um barranco para dentro do rio Negro. Para assegurar o assassinato, os dois criminosos atiraram pedras enormes sobre elas. Ana Délia acabou morrendo afogada. A amiga conseguiu se soltar e se esconder até que os assassinos foram embora. Assim ela conseguiu chegar ao condomínio Jardim das Américas, nas proximidades da praia da Ponta Negra, onde obteve ajuda.
Graças a isso, os dois criminosos foram identificados, presos e, por conta da comoção que o crime teve na época (Délia ia fazer o terceiro período de Jornalismo, era uma das mais inteligentes da nossa turma e tinha uma filha de 3 anos na época) e pela mobilização dos colegas de faculdade junto com a família das vítimas, em 1993 ambos foram condenados a 28 anos de prisão pelo latrocínio.
Com o tempo, o comparsa do ex-PM, Marcos, foi morto em uma rebelião no presídio em que estava cumprindo pena, há alguns anos. Mesmo tendo fugido da prisão três vezes, Afonso recebeu liberdade condicional em dezembro do ano passado. A história chegou ao fim com seu assassinato, na semana passada, pelas mãos de outro homem, provavelmente outro criminoso com quem talvez tivesse criado uma rixa (o jornal não deu esses detalhes).
É assim. Durante quase 19 anos a história causou comoção, revolta, teve sua justiça, foi esquecida e agora voltou à tona. Fico imaginando, hoje, como ela poderia ter sido diferente caso, naquela noite, os assassinos - um então policial militar e um desocupado - não tivessem escolhido roubar, estuprar e matar. Claro, Ana Délia estaria com 43 anos, talvez fosse uma boa jornalista ou radialista, ou mesmo pesquisadora, já que na época fazia parte de um grupo especial de estudo da Universidade Federal do Amazonas, e com certeza estaria satisfeita com seu papel de mãe com uma filha já maior de 21 anos. Isso todos sabem. O que eu imagino é como tal escolha acabou não somente com a vida dela (e da amiga, que ficou certamente traumatizada pelo estupro e por ter testemunhado um assassinato), mas com a dos próprios assassinos.
Quem entra no mundo do crime desse modo desde já assina uma sentença de morte. Vejo esses casos no tribunal em que trabalho. Vários ladrões acabam mortos por comparsas, boa parte deles jovens com menos de 25 anos. Fico pensando no que Afonso poderia ter sido se tivesse optado por uma vida honesta, trabalhando numa corporação onde até poderia crescer se houvesse esforço próprio. Estaria bem no seu casamento, com filhos e uma vida digna. Marcos, o comparsa, poderia ter conseguido um bom trabalho e estar vivo até hoje. Mas ambos foram movidos pela ganância e - por que não dizê-lo - uma inclinação para fazer o mal. Tornaram-se monstros por terem cedido a instintos irracionais.
Enfim, esse foi o epílogo. Que todos descansem em paz, agora. Todos nós. Afinal, são coisas da vida e da morte que poderiam ter sido mais uma história em uma coluna de jornal...

A dor e a delícia de ser jornalista...

Voltei, depois de um descanso nas ideias, festas de fim de ano e com as minhas férias do tribunal chegando ao fim. Nesse tempo, consegui um freela para a Revista PIM, para um anuário que será publicado no próximo mês. Quatro pautas interessantes me foram passadas na última terça-feira, 11. Até agora, não consegui fechar nenhuma matéria totalmente...
Em março farei um ano fora de uma redação de jornal, sem ter conseguido fazer um trabalho freela em 2010. Eu já havia esquecido como nós, jornalistas, temos uma dificuldade tão grande em obter informações quando o assunto é indústria e economia. Parece que há um medo inexplicável da fonte. Não dá realmente para entender.
Para exemplificar: uma das pautas é sobre responsabilidade social. Uma excelente fonte: Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam). Entrei em contato, pediram que eu enviasse as informações de que preciso por e-mail. Mais prático e mais ágil. Que engano... Não tive retorno até hoje, e o secretário da fonte apenas disse que também está aguardando as respostas para me passar. Essa foi a posição na última segunda-feira. Vamos ver qual vai ser a de hoje...
A maioria das empresas do Polo Industrial de Manaus possuem sua assessoria de imprensa fora do Estado. Por incrível que pareça, com poucas exceções, são esses colegas de além das nossas fronteiras que conseguem mais rápido facilitar o acesso às informações. Explico: há quase uma semana, também, aguardo retorno da Moto Honda, que tem assessoria local. E nada... Qual será a resposta de hoje? Sim, porque pedi da pessoa responsável um retorno, mas creio que meu e-mail provavelmente foi ignorado.
Mas, claro, há que se falar bem dos que deram retorno. Dou como exemplo o pessoal da assessoria da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), que sempre se preocupou em informar como estava o andamento da coleta das informações que pedi. Para eles, eu tiro o chapéu!
O e-mail é uma ferramenta importantissima para nosso trabalho, sobretudo por questões de tempo. Mas muitas empresas o ignoram. Das cinco companhias para as quais mandei, somente duas responderam. As demais... bom, creio que os responsáveis fiquem muito tempo fazendo coisas mais "importantes" na internet.
Quando eu era editor de Negócios e Serviços no Jornal do Commercio Amazonas, eu testemunhei a ira dos repórteres que ficavam dependendo dessas respostas, até mesmo passei por isso nas matérias que escrevi. Coisas da profissão... Mas, cada um sabe a dor e a delícia disso.

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...