domingo, 10 de fevereiro de 2019

LIVROS: "Dois irmãos, uma guerra", de Ben Elton (2012)

Dramas ambientados durante o Holocausto sempre tem uma carga emocional intensa por resgatarem momentos sombrios e absurdos de nossa História, e o romance de Ben Elton (editora Jangada, 496 páginas) não foge a essa característica, mas parte de uma surpreendente premissa ainda não explorada (pelo menos até onde sei) pela ficção: a vida de dois irmãos alemães, um judeu e outro ariano adotado pela família de judeus, e as implicações que surgem desse fato com a ascensão do nazismo.

Inspirado em histórias de sua própria família, Ben Elton apresenta em "Dois irmãos, uma guerra" o casal Frieda e Wolfgang Stengel, ela (nascida Tauber) estudante de Medicina e prestes a se formar, ele um músico que batalha para sobreviver na Berlim boêmia de 1920, em uma Alemanha desolada pela derrota na 1ª Guerra Mundial. Grávida de gêmeos, Frieda perde um dos bebês no nascimento, mas, por sugestão do próprio médico, adota outro recém nascido cuja mãe morrera no parto, naquele mesmo momento. Assim começa a história de Otto e Paulus, que crescem como irmãos num período em que o nacional socialismo começa a ganhar paulatinamente corpo na Alemanha.

Durante os anos seguintes, a família Stengel vai enfrentar as dificuldades cada vez maiores por conta das restrições que os judeus começam a sofrer. Em meio a isso, Otto e Paulus criam fortes laços com Silke Krause, filha da empregada de seus pais, e Dagmar Fischer, herdeira de uma rica família de comerciantes judeus, desde a infância - esta última, alvo da paixão dos dois rapazes. E os dramas que se sucedem vão fortalecer os laços do "Clube dos Sábados", como as quatro crianças resolvem batizar o grupo.

O livro não trata do período do Holocausto em si, mas de seus antecedentes (a narrativa se concentra de 1920 e 1940) e os efeitos sobre a população judia alemã: os boicotes, as exclusões e perdas de direitos, as leis raciais de Nuremberg, as prisões arbitrárias e confinamento em campos de concentração, as torturas e, finalmente, a famigerada Kristallnacht.

A narrativa transita entre a linearidade da história dos Stengel desde o nascimento dos meninos e capítulos passados em Londres em 1956, quando um dos irmãos recebe a notícia da suposta sobrevivência de um dos membros do grupo após a guerra. Esse mistério da identidade tanto do irmão quanto do sobrevivente vai se revelando em meio a uma montagem da história das famílias Stengel e Fischer.

Mas se teve um ponto que me marcou muito nesse romance, foram as cicatrizes profundas que a guerra e a perseguição deixaram nas pessoas envolvidas: escolhas impensáveis, decisões corajosas, traições, mentiras, instinto de sobrevivência, ressentimento, vingança e, acima de tudo isso, a loucura do ser humano provocada por anos de violência sem sentido. As revelações finais mostram tudo isso em momentos comoventes, por vezes dolorosos, que nos fazem questionar a bestialidade humana. Para quem gosta de dramas de guerra, trata-se de uma boa dica!


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