quarta-feira, 17 de julho de 2013

E o Instagram "facebookizou" pra valer

Por Marcos Hiller*

Nos primeiros dias de vida, o Instagram era apenas quatro funcionários, incluindo seus dois cofundadores, e que trabalhavam amontoados nos primeiros escritórios do Twitter no bairro de South Park de San Francisco. E o Instagram, mais uma start-up da Califórnia e que não tem receita, fez brilhar os olhos de Mark Zuckerberg, que desembolsou um bilhão de dólares no ano passado e está debruçado em saber como capitalizar em cima dessa fascinante rede social de fotos - assim como o Google, há alguns anos, comprou o YouTube e o transformou no segundo maior site de buscas do mundo. Por trás da aquisição do Instagram percebe-se uma visível intenção do Facebook em se tornar ainda mais forte nos dispositivos móveis e deixar promissores aplicativos longe das garras do Google.

O Instagram é uma criação concebida puramente para o universo mobile. Quem o usa entende o magnetismo que essa rede social gera. O conceito é simples e genial ao mesmo tempo, pois faz com que pessoas se comuniquem por meio de imagens. A psicologia cognitiva talvez nos ajude a entender o fascínio por essa rede social, pois ela prega que seres humanos gostam mais de imagens do que de textos. Por esse motivo que praticamente todas as marcas do mundo sempre adotam um símbolo ou um mascote para acentuar sua aproximação aos consumidores. O conceito é simples: o Instagram é fundamentalmente uma rede social concebida em torno da fotografia e disponibilizado apenas para uso em celulares (apenas para iPhone da Apple, e agora já disponível também para o “patinho nada feio” Android, o sistema operacional da Google), onde as pessoas adicionam belíssimos efeitos em suas fotos produzidas com a câmera do celular e compartilham com os amigos. O Instagram já tem dezenas de concorrentes, mas nenhum outro aplicativo teve uma ascensão tão rápida.

No entanto, o que alguns fãs do Instagram mais temiam aconteceu. Semanas atrás, ao inserir a possibilidade de se postar vídeos de 15 segundos, o Instagram começa a perder a sua originalidade e suas peculiaridades. Assim como falavam que o Facebook “orkutizou” depois que classes mais emergentes descobriram o site azul de rede social, evidenciamos que o Instagram inicia lentamente um processo de “Facebookização”.

Novas características são incorporadas a cada mês. Essa última mudança então foi muito significativa. Você está lá descendo com o dedo polegar a sua timeline do Instagram e olhando suas fotos, comentando, curtindo e, de repente, um vídeo começa a ser executado. Eu achei esquisito e até me assustei algumas vezes. Parecia que as fotos ganharam vida. Muito em breve podemos esperar games no Instagram? Ou a possibilidade de se cutucar o outro? Só o tempo nos dirá. Mas nada disso me surpreenderia. O que se espera é um processo de "moneitização" do aplicativo. Afinal, hoje ele não gera receita. E assim como fez no Facebook no ano passado, começando a cobrar para que posts ganhem alcance maior (hoje mais de 1 milhão de clientes injetam dinheiro no site de Mark Zuckerberg), é muito previsível que esse movimento neoliberal aconteça também no nosso saudoso Instagram. Aproveite enquanto ele (ainda) é grátis!

* Marcos Hiller é coordenador do MBA Marketing, Consumo e Mídia Online da Trevisan Escola de Negócios e autor do livro Branding: A Arte de Construir Marcas, da Trevisan Editora.

Comentário: "Homem de aço" (Man of steel, 2013)




Por William Gaspar*

Esperança. O símbolo kryptoniano no peito do Superman sempre definiu bem o que a maioria dos fãs sentem em relação às produções relacionadas ao herói. Fazer comparativos aos dois primeiros filmes do “escoteiro” é no mínimo justo e tentar esquecer seu “retorno” é uma tarefa que levaremos para a vida, mas não vou fazer comparações e sim definir a nova trajetória do “Homem de Aço”.

Bom, vamos começar do começo. Chamado para dirigir, Zack Snyder tenta desesperadamente não ser ele mesmo, emulando outros cineastas com seu filme. Comparar os flashbacks em Smallville com o trabalho feito no filme “A Árvore da Vida” é obrigatório, com o alienígena crescido na terra contemplando a beleza da vida e explorando os EUA. São nessas cenas que o público consegue se relacionar com Clark Kent (Henry Cavill), vê-lo não como um alienígena, mas como alguém com sentimentos tão comuns quanto os seus.

Logo a seguir, o Homem de Aço pega alguns brinquedinhos emprestados da super caixa do J.J. Abrams, enchendo a tela com efeitos e brilhos que ofuscariam até a minha querida Enterprise. Isso tudo combinado a um resquício do estilo do próprio Snyder, que filma lutas como ninguém, com seus takes mais longos e físicos, privilegiando o impacto. Aqui, não só Kal-El parte pra porrada, como até seu pai, Joe-El (Russel Crowe, ótimo), abandona a fachada de cientista calmo e nerd para revelar-se um sujeito cheio de recursos e capaz de tudo para defender a família e o planeta. O mix fica completo com aquele visual dessaturado, meio bruto e sisudo, que Nolan tornou tão popular em O Cavaleiro das Trevas.

Explicando a história em fragmentos, com boas elipses (o corte que acontece depois da queda da nave no Kansas é surpreendente) e flashbacks emotivos, O Homem de Aço não é um filme de heróis típico. Entre as cenas emotivas, permite-se explosões e ação no melhor estilo Os Vingadores (um dos capangas do General Zod é o Hulk perfeito) com direito a momentos que lembram a devastação maluca dos Transformers e as lutas do Dragon Ball Z, com deuses se engalfinhando e cidades caindo.


Entre esses momentos épicos e tops, há um filme menor ali, sobre um homem em busca de sua própria identidade, alguém em uma jornada de autoconhecimento que o levará a diversos cantos dos EUA, tendo como bagagem apenas os valores dos pais. O roteiro de Nolan e David S. Goyer é bastante claro na maneira como vê o Superman. Como nas análises clássicas, aqui ele é o messias, o enviado à Terra para nos guiar, incompreendido e temido por nós. Há pelo menos três passagens que não deixam margem a dúvidas: Superman é Jesus Cristo em "O Homem de Aço" (o vitral da igreja, a menção à idade e a partida cruciforme da nave de Zod) e as implicações religiosas desse fato, ainda que pouco exploradas (já que ia encher o saco se explorassem mais), interessam os realizadores. É aí que entra o realismo de Nolan: no interesse pelas implicações filosóficas, sociais e religiosas da descoberta de que não estamos sozinhos no universo (mas isso é papo de nerd. Vamos esquecer).

Seguindo... Com sua atuação, Henry Cavill não deixa espaço para qualquer, eu repito, qualquer comparação que poderia existir com Christopher Reeve. Ele é seu próprio Superman, Clark Kent e Kal-El. Interpreta com emoção e com a ferocidade que determinadas sequências requerem. No meio de tudo isso, arranca suspiros de parte do público aparecendo sem camisa em diversas ocasiões.

Igualmente incrível (e maluco) está Michael Shannon, mais surtado do que nunca. Seu General Zod é obcecado e irredutível, mas tem suas razões para tal, já que é um escravo de seu próprio papel, a representação alienígena da ordem e da proteção. A ele nunca foi dada nenhuma opção de escolha pela sociedade kryptoniana - e isso o torna um vilão dos melhores que já vi em qualquer filme baseado em quadrinhos.

O elenco secundário (lê-se: que ganha menos) é igualmente determinante no sucesso do filme, para situar o herói entre dois mundos. De um lado, Kevin Costner e Diane Lane. Do outro, Russel Crowe e a mulher que interpreta Lara (sabe Deus o nome da atriz), cada um representando um conjunto moral que Superman necessitará para definir seu lugar.

Ah não posso esquecer a gatinha da Amy Adams, que interpreta a icônica jornalista investigativa Lois Lane. Ainda que a personagem esteja perfeitamente alinhada com a criação das HQs, a necessidade de colocá-la no centro da ação é um dos pontos fracos do filme. Provavelmente inseguros se o público se relacionaria efetivamente com Clark, deram a Lois a função de ser a âncora da humanidade no filme. O problema é que isso gera alguns momentos incompreensíveis (como o convite para subir a bordo da nave de Zod. Não sei o que ela tinha que fazer lá).

Um dos momentos mais controversos do filme é a batalha final entre Superman e o General Zod. A decisão de mostrar o super-herói - até hoje um dos grandes símbolos do altruísmo, benevolência e a incapacidade de matar - assassinando seu oponente (Lordes da justiça?).

Com certeza vai ter gente criticando e falando bobagem, mas cá entre nós, heróis assim não fazem mais o estilo dos fãs. Os tempos são outros e como o próprio diretor disse uma vez, a inocência terminou.

Vale lembrar, porém, que não é a primeira vez que Superman mata em uma história. O próprio General Zod e dois capangas figurantes de outra a dimensão foram mortos pelo herói usando kryptonita em Superman #22.

O monstro Apocalipse também foi morto pelo Superman - mas voltou à vida depois - na série A Morte do Superman. Mais recentemente, a versão "Novos 52" do kryptoniano matou parademônios, que foram estabelecidos como criaturas inteligentes.

Nesse mesmo universo, ele desferiu um golpe fatal em uma humana possuída (Superman #3) para impedi-la de destruir Metrópolis - no processo, apenas a entidade que a manipulava morreu, mas Superman não sabia que isso aconteceria. Outras criaturas e personagens foram mortos pelo Homem de Aço em sua loooooga história, mas a grande maioria em arcos ambientados em realidades paralelas ou outras mídias. No game Injustice, por exemplo, o Kal-El do futuro faz inúmeras vítimas. O Superman assassino, portanto, não é uma exclusividade de O Homem de Aço.

Por fim, o espetáculo visual que é "O Homem de Aço" escapa imune e diverte, com um desfecho que marca quem é este novo e sisudo Superman, que chega adaptado ao momento, carregando os valores pelos quais é conhecido, mas alguém que é capaz de reagir e tomar o controle da situação. Ainda que seu "S" represente a esperança, um Homem de Aço para os novos tempos.

* Jornalista

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