sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A web... ah, a web!!!!!!

Há pouco mais de um ano descobri o significado de “deep web”, o lado negro da internet, o espaço virtual onde se compartilha o que há de mais indigno, selvagem, bizarro, pervertido e cruel do ser humano na rede. São os sites de pedofilia, racismo, snuff movies, assassinato e todo o possível e impensável do comportamento humano. Observando as redes sociais, vi que a deep web está a um passo de deixar de existir ou de ser uma lenda urbana: para que esse conceito se esse lado obscuro está por todos os lados e a linha que separava o útil/fútil da perversidade está acessível a qualquer um agora?

Vejamos se estou errado: podemos começar sobre a banalização dos selfies. Recentemente, uma notícia compartilhada no Facebook indicava os selfies mais bizarros e inconvenientes já vistos nas redes sociais. Era gente fazendo selfie em velório, em locais de incêndio, em enterros... Quando não são os autorretratos, são as fotos de gosto duvidoso, como a garota fazendo poses em túmulos (até aí, poderia se dizer que era um trabalho artístico, uma digamos licença poética, não fossem os termos vulgares utilizados pela aspirante a modelo de filmes pornôs) ou aquela senhorita (qual mesmo o nome dela?) que tirou fotos nos locais arrasados pelo furacão Katrina em 2007.

Outro dia, no trabalho, comentei que esse excesso de selfies inconvenientes e fora de foco está se tornando babaquice. Claro que pelas costas devo ter sido chamado de reacionário, antipático, frustrado, mal amado, essas coisas. Foda-se quem vestiu a carapuça e não prestou atenção nas palavras “excesso”, “inconvenientes” e “fora de foco”. Claro, é legal registrar e compartilhar momentos com amigos, familiares, em baladas, viagens, roupas novas, com colegas de trabalho, ao lado de artistas que admira, em jantares, almoços e confraternizações. Faz bem à alma e ao ego. A merda começa quando o ego acaba sendo muito valorizado. Daí surgem os selfies “after sex”, as fotos em velórios (lembram-se do velório do então candidato à presidência da República, Eduardo Campos?), os registros durante a exibição de filmes no cinema (coisa que enterrou de vez minha paixão por esses lugares) e por aí vai.

O que tem isso a ver com a deep web? A falta de noção caracteriza o lado obscuro. A pessoa banaliza o egoísmo e o sofrimento alheio, deixa de ajudar alguém ferido para registrar o fato e compartilhar o mais rápido possível na busca de uma popularidade virtual que talvez não tenha na vida real a velha história de “quanto mais 'likes' e 'curtir', melhor”. Aí desaparece o limite do racional. E tudo começa com o excesso de selfies absurdos.

Aí chegamos à rede social como um todo. As ferramentas que em teoria deveriam ser úteis acabam criando verdadeiros idiotas no sentido de perderem sua individualidade e o contato com a realidade. O Facebook serve para compartilhar ideias, fotos, opiniões, desabafos, indiretas e piadas é uma imensa mesa de bar virtual, então não adianta torcer o nariz e chamar de “muro das lamentações”. Tem sua utilidade enquanto não é dominado pelo povo sem noção candidato a ingressar na deep web. Contra esse, existem as possibilidades de excluir e bloquear. O problema maior está na dependência criada de tal modo que tudo se transforma em verdade, não há desejo em se aprofundar na informação. 

Existe o atendimento a um anseio que uma simples frase ou uma foto montada se torna a Verdade, quando nas entrelinhas há a distorção. Exemplo recente é a fotografia compartilhada na qual uma mulher aponta uma arma na direção de uma bebê que carrega no colo. Qualquer olho astuto perceberia que se tratava de uma montagem quase perfeita. Na foto original, ela mostra para a criança um papagaio em sua outra mão. Na montagem, a ave foi substituída por um revólver. Bastou uma pesquisa para revelar a armação. Entretanto, a maioria dos internautas tomou aquilo como verdade e os compartilhamentos condenaram a vítima. Algo parecido e com resultado trágico aconteceu em Santa Catarina, quando uma mulher foi linchada sob acusação difundida no Facebook de que seria responsável pelo desaparecimento de crianças para rituais de bruxaria.

As redes sociais se tornaram júris morais. Então, na dúvida, melhor primeiro checar se o que está sendo divulgado é verdadeiro. Até os "três dias de luto por Marcos Archer", supostamente decretados pela presidente Dilma Rousseff, foram tomados como verdade, e no final das contas eram meros boatos. Todo cuidado é pouco.

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...