domingo, 19 de maio de 2013

Comentário: "A chave de Sarah" (Elle s'apelant Sarah/Sarah's Key, 2010)

Julie Zérac (Kristin Scoth-Thomas) no Museu do Holocausto: segredos em família
Em julho de 1942, Sarah Starzinsky (Mélusine Mayance) e seus pais foram presos pela polícia francesa que arrebanhava todas as famílias judias na Paris ocupada pelos nazistas para enfurná-los durante dois dias em condições deploráveis no Velódrome H’iver (Velódromo de Inverno), primeira parada antes do envio da capital francesa ao campo de extermínio de Auschwitz, no sul da Polônia invadida pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a pequena leva consigo a chave do armário onde trancara o irmãozinho Michel, em uma atitude desesperada de salvá-lo de um destino até então desconhecido.
Imagem real dos judeus aprisionados no Velódrome H'iver, em 1942

É a história da menina judia, contada em “A chave de Sarah” (Elle s’apelant Sarah/Sarah’s key), do diretor Gilles Paquet-Brenner, que irá marcar, mais de 60 anos depois, a vida da jornalista Julie Zérac (Kristin Scoth-Thomas), empenhada em escrever uma reportagem sobre o episódio que mostrava o colaboracionismo francês para a execução do Holocausto. Suas pesquisas acabam mostrando que a tragédia de Sarah e sua família acaba, no final das contas, tendo uma ligação direta com a própria história de Julie, casada com o arquiteto Bertrand Zérac (Frédéric Pierrot) e mãe de uma adolescente, e agora prestes a descobrir uma gravidez inesperada em plena maturidade. 
 
O apartamento dos pais de Bertrand, Julie descobre, era ocupado pelos Starzinsky até serem presos e deportados. A partir dessa descoberta, a vida da jornalista se firma em uma obsessão na busca do destino de Sarah e seu irmão Michel – o casal Starzinsky, eventualmente, foi assassinado em Auschwitz com outros 75 mil judeus franceses durante a Segunda Guerra Mundial.

A família Starzinsky capturada em Paris: episódio vergonhoso
A chave de Sarah” expõe, além do colaboracionismo francês com as perseguições nazistas, os traumas que ficaram para os sobreviventes – a exemplo de “A escolha de Sofia” (1980), de Alan Pakula – e para quem se envolve na história. Na busca pelo destino de Sarah, Julie acaba descobrindo vários segredos envolvendo a família do marido.

O filme não traz elementos comuns a outros com o mesmo tema. Somente as cenas do Velódrome, onde os 13 mil judeus franceses foram aprisionados, e do campo de transição de onde foram gradualmente enviados para Auschwitz – exibidas no prólogo e entrecortadas com a narrativa da busca de Julie - tratam diretamente do Holocausto. A reflexão aqui cabe não apenas ao papel dos franceses e suas autoridades com a Solução Final, mas também à necessidade de que a enormidade de um dos crimes mais monstruosos do século 20 não seja esquecida. Em uma das cenas, dois jovens jornalistas demonstram total desconhecimento a respeito do episódio do Velódrome, não documentado pelos nazistas. O esclarecimento vem da própria Julie: “não foram os alemães”. Ou seja, a barbaridade até então estranha ao comportamento francês começa a ser revelada. E isso vai afetar profundamente a vida de Julie.

Publicado no caderno Plateia, jornal Amazonas em Tempo de 19/05/2013

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