Lançado
em blu-ray há pouco mais de dois meses, “O bebê de Rosemary”
(Rosemary’s baby, Estados Unidos, 1968) lidera minha lista dos
melhores filmes de terror psicológico da história do cinema.
Apostando apenas no clima sombrio e no ponto de vista da personagem
principal, o diretor Roman Polanski deixou sua marca nesta obra-prima
que até hoje pode assustar aos conseguem envolvimento na história,
adaptada do romance de Ira Levin – escritor que colecionaria mais
sucessos literários transportados para as telas, como “Os meninos
do Brasil”, “Um beijo antes de morrer” e “As esposas de
Stepford”.
O
casal Rosemary (Mia Farrow) e Guy Woodhouse (John Cassavetes) – ela
uma jovem ingênua, ele um ator iniciante e ambicioso – conseguem
alugar um apartamento amplo no edifício Bramford, em Nova York, por
uma verdadeira pechincha. Nem mesmo a história sinistra do imóvel –
palco de casos de satanismo e rituais de canibalismo – ou o fato de
a proprietária anterior ter morrido misteriosamente tira o ânimo do
casal em começar uma nova vida.
Entre
o contato com os novos – e na maior parte idosos – moradores do
Bramford, o casal se envolve com os Castevet: Minnie (Ruth Gordon,
que levou o Oscar pelo papel) e Roman (Maurice Evans), sempre
solícitos após uma tragédia que vitima sua filha adotiva. Em uma
determinada noite, Rosemary tem um pesadelo no qual é estuprada por
uma criatura de quem só consegue ver os olhos oblíquos e amarelos,
violência assistida pelos Castevet, Guy e os demais moradores do
Bramford. Dias depois, ela descobre que espera um bebê.
A
partir dessa gravidez, Rosemary começa seu calvário: acontecimentos
estranhos a fazem acreditar que a criança em seu ventre é alvo de
uma conspiração satânica orquestrada pelos Castevet com a
colaboração de Guy. Ao contrário das grávidas comuns, a jovem
emagrece, come carne crua e sente dores assustadoras. A única pessoa
em quem confia nesse momento é Hutch (Sidney Blackmer), escritor e
amigo do casal. Mas Hutch subitamente entra em coma, levando a jovem
mãe a entrar em um redemoinho de pânico alternado com momentos de
tranquilidade, até descobrir a verdade sobre a noite do pesadelo,
Guy e sua relação com os Castevet – e do próprio edifício
Bramford.
Ao
dirigir “O bebê de Rosemary”, Polanski manteve-se o mais fiel
possível ao original de Ira Levin. Assim, todo o filme transcorre a
partir do ponto de vista da protagonista, tornando o espectador seu
cúmplice e levando-o a experimentar todo o temor que a consome.
Minha maior diversão, ao rever este filme – mais de 20 vezes, sem
enjoar -, é descobrir as “pistas” sobre a trama diabólica da
qual a jovem Rosemary é vítima, interpretando detalhes dos
pesadelos e pequenos gestos dos demais personagens. A trilha sonora é
um espetáculo à parte, pontuando cada cena e contribuindo para o
clima de tensão e medo.
Visto
hoje, “O bebê de Rosemary” pode parecer, para muitos,
ultrapassado. A cena final da revelação deve deixar alguns
decepcionados, mas isso fica para quem não gosta de seguir a lógica
das histórias – o que é muito comum hoje em dia, com efeitos
espetaculares escondendo a fraqueza dos roteiros. Para quem gosta de
cinema de verdade, é uma joia eterna. Para se assustar, basta ver a
reação de Rosemary diante do berço negro e sua pergunta
desesperada: “O que vocês fizeram com os olhos dele?”.
(texto publicado no caderno Plateia, jornal Amazonas em Tempo, em 31/03/2013)
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