Mia (Jane Levy), possuída, é mantida no porão da cabana |
Em 1981, Sam Raimi
lançou “A morte do demônio” (Evil dead) para ganhar destaque no
gênero terror “gore” (extremamente sangrentos) - muito em
evidência naquela década. O argumento era o mais simples possível:
cinco jovens alugam uma cabana isolada em uma floresta para se
divertirem em um final de semana. Ali, no porão, encontram uma
publicação chamada Livro dos Mortos e uma gravação do morador
anterior da casa, por meio da qual, acidentalmente, acabam liberando
entidades malignas que os possuem um a um, levando-os a se
massacrarem. Banhos de sangue, violência, decapitações e
esquartejamentos causaram furor aliado à manipulação criativa de
câmera, tornando o filme um marco do gênero – de fato, um
clássico da época dos “slash movies” como “Sexta-feira 13”,
“Pássaro sangrento” e “Demons” e um modelo repetido
exaustivamente por anos a fio.
Sheryll (Ellen Sandweiss) no original de 1981 |
A refilmagem, agora
dirigida por Fede Alvarez. e produzida por Raimi (e Bruce Campbell,
protagonista da primeira versão), em cartaz desde sexta-feira (19)
na capital, mantém o argumento original com um toque a mais – os
cinco jovens isolam-se na cabana pertencente à família de dois
deles, David (Shiloh Fernandez) e Mia (Jane Levy) - irmãos, como
Ashley (Campbell) e Shelly (Ellen Sandweiss) no original - em uma
tentativa de livrar esta última do vício das drogas. Outros pontos
comuns mais evidentes com o original são a própria cabana, com seu
balanço da varanda, e o seu porão fechado a correntes. Os famosos
movimentos de câmera que se tornaram marca registrada do primeiro
filme ficam restritos a poucos momentos.
As semelhanças acabam
aí. Nessa nova versão, existe um prólogo que tenta explicar, ainda
que de forma obscura, a presença do mal. Também há uma exploração
maior das relações entre os personagens. Fica claro que David está
tentando se aproximar de Mia após a morte da mãe de ambos. Para
tentar livrá-la das drogas, ele conta com a ajuda da namorada
Natalie (Elizabeth Blackmore) e os amigos Olivia (Jessica Lucas),
enfermeira, e Eric (Lou Taylor Pucci) - o qual irá encontrar o livro
macabro e, ao ler algumas passagens, acidentalmente invocar os
espíritos malignos adormecidos na cabana.
O elenco da primeira versão de "A morte do demônio": trash gore |
Quem esperar um remake
das cenas antológicas da primeira versão, como o esquartejamento de
uma das garotas possuídas, o estupro na floresta e a decapitação
de outro personagem, pode ficar decepcionado. A violência é menos
crua, ainda que as cenas sejam realmente fortes porém mais
“refinadas” - enquanto a primeira versão abusava dos closes de
mutilação, a nova tem algo de certa forma estilizado.
Elenco da nova versão, de 2013: roteiro mais elaborado e efeitos "clean" |
Inevitável, para os
que conhecem o original, não fazer as comparações,mas colocando-se
isso de lado, o novo “A morte do demônio” cumpre bem seu papel
de deixar o espectador tenso, com repulsa e até mesmo divertido.
Pelo menos até a meia hora final, onde uma reviravolta com os
personagens de David e Mia acaba estragando tudo, em um claro lapso
de roteiro e continuidade que não convence o olhar mais atento –
sem contar que em certos momentos temos a impressão de estarmos
vendo personagens de algum filme da franquia dos mortos-vivos, pela
forma como se movimentam – ou no caso da cena final, uma espécie
de arremedo de Jason Voorhees, o assassino imortal da série
“Sexta-feira 13”.
“A morte do demônio”
de 2013 tem mais efeitos realísticos, um enredo mais sólido e um
final que talvez não agrade os fãs do original. Na dúvida, melhor
ficar com o de Sam Raimi.
(Publicado no caderno Plateia, jornal Amazonas em Tempo, edição de 23/04/2013)
Semelhanças e
diferenças (COM SPOILERS)
Enredo: em 1981, a
história se limitava a mostrar um grupo de amigos (Ashley/Bruce
Campbell), sua irmã Sheryll (Ellen Sandweiss), sua namorada Linda
(Betsy Baker) e o casal Scott (Hal Delrich) e Cheryl (Sarah York) que
alugavam uma cabana isolada para passarem o final de semana. No filme
de Alvarez, as situações são parecidas e ainda entra em cena o
cachorro Grandpa.
As possessões: os
espíritos malignos começam a possuir cada um dos personagens na
mesma ordem que no filme original, mas enquanto naquele os demônios
despertam com a execução de uma gravação, neste o personagem Eric
lê as frases evocativas escritas no Livro dos Mortos, iniciando toda
a tragédia. Curiosamente, na segunda versão podemos ouvir frases
da primeira, em suas vozes originais (como no início da possessão
de Mia), e uma das gravuras da publicação macabra lembra o cartaz
original do filme de 1981.
O local: as cabanas dos
dois filmes são idênticas, até mesmo com o balanço da varanda,
que no primeiro filme sacudia sozinha, ajudando no clima sinistro do
lugar. No porão, com uma escada oculta por um alçapão, são
encontrados centenas de gatos mortos usados no ritual do prólogo,
elemento inexistente na primeira versão.
As mortes: no filme de
Raimi, a única forma de eliminar os demônios era o desmembramento
do corpo possuído. Na segunda versão, mais duas alternativas
aparecem: queimar o hospedeiro ou enterrá-lo vivo. David decide enterrar a irmã possuída. Dessa forma, expulsa o espírito maligno e Mia retorna, sem uma mutilação sequer. Foi aí que o filme descambou para o absurdo inaceitável...
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