Sexta-feira, 9 de novembro de 2012. Na escola estadual Senador
João Bosco Ramos de Lima, no bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus, uma confusão
armada por estudantes evangélicos (não se informou de qual igreja) vira notícia
e chega a ser manchete hoje de um dos jornais locais. A questão era a seguinte:
o estabelecimento educacional realizou um projeto chamado “Preservação da
Identidade Étnico-Cultural Brasileira”, centrado na cultura agro-brasileira, mas a turminha achou que estava sendo
obrigada a fazer trabalhos sobre “satanismo e homossexualismo” (sic). Propuseram um trabalho sobre missões evangélicas na África, totalmente fora do contexto temático, o que não foi aceito pela escola.
"O que tem de errado no projeto (da escola) são as outras
religiões, principalmente o Candomblé e o Espiritismo, e o homossexualismo (sic
de novo), que está nas obras literárias. Nós fizemos um projeto baseado na
Bíblia". Essas palavras vieram de uma estudante da escola. Além do mais,
estudantes se recusaram a ler obras literárias brasileiras (“O guarani” e
“Macunaíma”, para citar dois referidos por um professor entrevistado) que,
segundo eles, falavam de homossexualismo (sic mais uma vez). Então vou tecer
alguns comentários sobre a atitude desses estudantes:
1) o candomblé faz parte da cultura de nossos antepassados
(os meus, pelo menos, que sou negro). Achar que isso é coisa do demo, contra as
leis de Deus etc., é muito perigoso. Vamos buscar a essência de cada religião e
encontraremos o mesmo Deus, não importam os rituais, se há santos ou não. Há
denominações diferentes. A religião deve agregar as pessoas, não jogá-las umas
contra as outras, mas há pseudolíderes indo pelo lado oposto. O candomblé é do
mal? Pode haver correntes do mal, como em qualquer outra religião, inclusive
essa que fecha os olhos de seus seguidores ao respeito às diferenças religiosas
e até mesmo sociais e raciais. A religião que o homem criou e vem estabelecendo
ao longo dos séculos é vergonhosa. Foi uma das razões pelas quais eu me afastei
de todas e resolvi seguir o livre arbítrio dado pela força divina para
discernir o bem do mal, coisa que falta, infelizmente, a esses alunos, que
seriam muito bem vindos em uma organização similar à Juventude Hitlerista na
época da Europa nazista. Não é exagero, isso eu posso garantir. Assim se formam os pequenos ditadores e
futuros genocidas. Todos sabem muito bem como terminou aquela babaquice toda sobre "os judeus são a nossa desgraça". Imagine se institucionaliza-se o "todo praticante de candomblé é satanista" ou "todo espírita tem conclave com o demônio".
(O demônio, aliás, é tão citado por esses grupos fanáticos que questiono se o dito-cujo não deve estar feliz por juntar seu rebanho tão facilmente neste plano)
2) pelo pouco que conheço, vejo a doutrina espírita como a
única que tem essência pacífica (relação ser humano-ser humano e ser humano-natureza), filosófica e fundamentalmente cristã, baseado na lei da
causa e efeito, não importando suas crenças em reencarnação, mundos invisíveis
etc. Também ali há Deus e Jesus Cristo, e pelo que li até agora, não vi nada
desabonador aos olhos do Pai. Não sou espírita, mesmo porque alguns dos seu
argumentos eu questiono, mas seus princípios na busca de uma unidade humana são
perfeitos. Esses alunos mostraram sua total falta de tato pra lidar com o mundo,
seguindo certamente o exemplo de seus pais e “líderes”, pois se fecharam em sua
própria mediocridade ao virar a cara para o irmão diferente.
3) coitados dos que não conhecem pelo menos algumas obras
literárias por terem essa visão tão limitada e preconceituosa. Se fizessem
realmente projeto baseado na Bíblia, como propuseram em opção ao tema lançado
pela escola, deveriam fazer também trabalhos sobre incesto, ganância,
fratricídio, homossexualidade e adultério. Há essas referências no Livro
Sagrado, ele não trata dessas situações, então se for pela presença dos temas,
vamos todos queimar todos os livros do mundo. A argumentação usada pela aluna
só denota pura preguiça de estudar, essa é a verdade. Depois não se sabe de
onde vem tanta ignorância.
(Só queria saber se os pais desses alunos, que apoiaram tal
manifestação de intolerância, assistem Big Brother, guardam revistas
pornográficas, têm amantes ou falam de seus pares pelas costas, espancam seus
filhos, enganam seus vizinhos e ainda se acham acima do bem e do mal e
protegidos pela “glória de Nosso Senhor”, o qual com certeza não é o Criador)
Não expresso minha indignação por serem evangélicos, mesmo
porque existe tolerância, sim, de vários grupos de evangélicos que interagem
com outras religiões. Esses acabam sofrendo com a generalização. Eu a
expressaria do mesmo jeito se tais bizarrices fossem proferidas por católicos,
ateus, espíritas, budistas e quaisquer outros religiosos. Esse pessoal confunde
evangelização com militarização em prol de uma guerra santa, o que por si só já
vai contra os princípios da religião. Só me resta lamentar que tal mentalidade
exista em pleno século 21, tantos séculos após a Idade das Trevas. E pelo
jeito, com tantos outros exemplos que aparecem, vejo que a regressão da raça
humana é fato inevitável.
Quem planta, colhe. Cada um que, depois, carregue a cruz
pelos seus atos estúpidos. A minha eu sei que irei carregar, com orgulho e consciente.
Para quem não sabe que história é essa, eis o link - http://www.d24am.com/noticias/amazonas/evangelicos-se-negam-a-fazer-projeto-sobre-cultura-africana/73155
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