domingo, 2 de setembro de 2012

Minha vida de foca: os Mamonas Assassinas

Cobrir shows para o caderno Radar era uma das minhas pautas frequentes no Jornal do Norte. Em janeiro de 1996, lá fui eu cobrir o show dos Mamonas Assassinas no Studio 5. Eu não gostava do estilo do grupo, apesar das letras engraçadas e tolas. Continuo não gostando até hoje. Mas eles eram notícia, estouravam nas rádios, o sucesso era estrondoso e não havia como negar isso.

Esse trabalho de cobertura é legal, mesmo sendo de um estilo musical que não lhe agrada (mas depois de um tempo fica enfadonho, portanto deduzi que não era o tipo de pauta que me animava). Fui ao Studio 5 com a repórter fotográfica Ana Cláudia Jatahy. Gente saindo pelo ladrão, principalmente crianças, o público que os cinco rapazes do Mamonas Assassinas mais atraia. Entrevistei algumas, vi uma parte do show, observei o comportamento do público, a organização, a produção e a interatividade de Dinho e seus amigos com a plateia.

O show fora numa sexta-feira ou sábado, não lembro bem. No dia seguinte, fui ao jornal escrever a matéria. Não pude deixar de usar sarcasmo (contido, claro) para contar como fora a apresentação. Letras sem pé nem cabeça, tolas até, mas que encantavam aquela garotada. Fazer o quê? Pensando bem, ainda eram melhores que essas porcarias que fazem sucesso agora. Os Mamonas Assassinas faziam música para divertir. Não existe mais isso hoje.

O tempo passou. Quase dois meses depois, chego em um domingo para o plantão no jornal e a editora Tania Celidonio me recebe com a bomba: na noite anterior, o avião com os cinco integrantes dos Mamonas Assassinas caira na serra da Cantareira, em São Paulo, quando voltavam de sua apresentação em Brasília. Curioso como eu fizera a matéria do show e agora fora escalado para fazer um retrospecto da carreira meteórica do grupo até o acidente. E lá fui eu, com o amigo Ricardo Nixon, ouvir algumas pessoas para aquele velho feijão-com-arroz que se segue à morte de alguma celebridade e pesquisar toda a sua história. A novidade é que nós regionalizamos o impacto do desaparecimento prematuro dos jovens artistas, em vez de somente reproduzir matérias de agências.

Foi uma comoção muito grande. Em tom de brincadeira, muitos colegas falaram que eu estava sendo castigado por ter detonado (exagero, claro, pois nunca tive intenção de bancar o crítico) a apresentação do grupo (pior ainda foi o show de Maurício Mattar no mesmo Studio 5, que reuniu pouco mais de 20 mulheres, em um dos maiores fiascos que já testemunhei. Mesmo assim, o cara foi uma simpatia com aquele minúsculo fã-clube). O que importava, entretanto, era o encanto que aqueles cinco rapazes bobos levaram àquela geração. Vendo tanta porcaria que faz sucesso hoje, devo confessar que éramos felizes, mas não sabíamos. Aí é para lamentar realmente a perda daqueles jovens talentos.

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