terça-feira, 30 de novembro de 2010

Como enlouquecer um RH

Aproveitando o fim de ano, eis uma piada que, além de divertida, nos faz refletir sobre a dificuldade de agradar gregos e troianos! E essa história rodou mundo, podem acreditar!

I COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS.

Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos

Data:1 de dezembro

Assunto: Festa de Natal



Tenho o prazer de informar que a festa de Natal da empresa será no dia 21 de dezembro, com início ao meio-dia, no salão de festas privativo da Churrascaria Grill House. O bar estará aberto com várias opções de bebidas. Teremos uma pequena banda tocando canções tradicionais de natal…sinta-se à vontade para se juntar ao grupo e cantar!

A árvore de Natal terá suas luzes acesas às 13:00.

A troca de presentes de amigo secreto pode ser feita a qualquer momento, entretanto, nenhum presente deverá exceder R$ 20,00, a fim de facilitar as escolhas e adequar os gastos a todos os bolsos.

Boas festas para vocês e suas famílias,

Patrícia



II COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS.

Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos

Data: 2 de dezembro

Assunto: Festa de Natal



De maneira alguma nosso memorando de 01 de dezembro pretendeu excluir nossos funcionários judeus!

Reconhecemos que o Chanukah é um feriado importante e que costumam coincidir com o Natal, mas isso não aconteceu este ano. De qualquer forma, passaremos a chamá-la de “Festa de Final de Ano”.

A mesma política se aplica a todos os outros funcionários que não sejam cristãos e aqueles que ainda celebram o Dia da Reconciliação.

Não haverá árvore de Natal.

Nada de canções de natal nem coral.

Teremos outros tipos de música para seu entretenimento.

Felizes agora?

Boas festas para vocês e suas famílias,

Patrícia



III COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS.

Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos

Data: 3 de dezembro

Assunto: Festa de Natal



Com relação ao bilhete que recebi de um membro do Alcoólicos Anônimos solicitando uma mesa para pessoas que não bebem álcool… você não assinou seu nome!

Fico feliz em atender o pedido, mas se eu puser uma placa na mesa “Exclusivopara AA”, vocês não serão mais anônimos… Como faço então?

Nenhuma troca de presentes será permitida, uma vez que os membros do sindicato acham que R$ 20,00 é muito dinheiro e os executivos acham que R$20,00 é muito pouco para um presente.

NENHUMA TROCA DE PRESENTES SERÁ PERMITIDA, certo?

Patrícia



IV COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS .

Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos

Data: 7 de dezembro

Assunto: Festa de Natal



Eu não sabia que no dia 20 de dezembro começa o mês sagrado do Ramadan para os muçulmanos, que proíbe comer e beber durante as horas do dia. Talvez a Churrascaria Grill House possa segurar o serviço de buffet até o fim do dia – ou então, embalar tudo para que vocês levem para casa nas marmitas. O que vocês acham disso?

Novidades: neste meio tempo, consegui que os membros do Vigilantes do Peso sentem o mais longe possível do buffet de sobremesas; as mulheres grávidas sentem-se o mais perto possível dos banheiros; teremos assentos mais altos para pessoas baixas e comida com baixa-caloria estará disponível para os que estão de dieta.

Nós não podemos controlar a quantidade de sal utilizada na comida. Desta forma, sugerimos para estas pessoas com pressão alta provar o gosto primeiro.

Haverá frutas frescas de sobremesa para os diabéticos. O restaurante não dispõe de sobremesas sem açúcar.

Nossas profundas desculpas.

Esqueci de alguma coisa?

Patrícia



V COMUNICADO PARA TODOS FILHOS DA PUTA QUE TRABALHAM NESTA EMPRESA .

Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos

Data: 8 de dezembro

Assunto: Festa de Natal DO CARALHO



Vegetarianos!?!?!??! Sim, vocês também tinham que dar sua opinião de merda ou reclamar de alguma coisa!!! Nós manteremos o local da festa na Churrascaria Grill House; quem não gostar, foda-se!

Então, como alternativa, seus putos, vocês podem sentar-se quietinhos na mesa mais distante possível da tal “churrasqueira da morte” – como vocês se referiram de forma bastante depreciativa ao utensílio.

E vocês terão também sua mesa de saladas de merda, incluindo tomates hidropônicos da casa do caralho & arrozinho grudento pra comer de pauzinho. Aqueles que, naturalmente, ainda não gostaram, podem enfiar tudo no cu!

Ah, espero que vocês todos tenham uma bosta de festa de final de ano!

E que dirijam muito, muito bêbados e morram todos, todinhos esturricados por aí. Escutaram?

A Vaca Louca (como já estão me chamando), diretamente da puta que os pariu.



VI COMUNICADO PARA TODOS OS funcionários

Dr. Pacheco – Diretor de Recursos Humanos INTERINO

Data: 10 de dezembro

Assunto: Patrícia Gomes e Festa de Final de Ano

Tenho certeza que falo por todos desejando para a Patrícia um rápido restabelecimento para sua crise de estresse e continuarei a encaminhar suas mensagens para ela no sanatório.

Por conta deste fato, a diretoria decidiu cancelar a Festa de Final de Ano e dar folga remunerada para todos na tarde do dia 23 de dezembro.

Boas Festas,

Jonas

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Teledramaturgia em crise?


Alguns tweets trocados ontem à noite com as jornalistas Tricia Cabral e Cristiane Batista, mais alguns comentários no próprio Twitter e em meu Facebook a respeito da novela “Vale Tudo” confirmam o que eu mais suspeitava: a teledramaturgia brasileira, que se tornou produto de exportação, consagrou carreiras e posicionou a rede Globo no seu padrão de qualidade, está descendo a ladeira, acelerando a cada dia.

A reprise de um grande sucesso como “Vale Tudo” é diferente daquelas costumeiramente vistas no “Vale a Pena ver de Novo”. No canal Viva, a telenovela está sendo reexibida na íntegra, segundo eu verifiquei, sem aqueles cortes do programa vespertino global. O que também pesa a seu favor na audiência é a sua atualidade e, mesmo, a curiosidade de rever atores 22 anos mais jovens. .

Os comentários a que me referi revelavam saudades de outras telenovelas marcantes, como “Cambalacho”, “Rainha da Sucata”, “Que Rei sou Eu?”, “Vereda Tropical” e outras das décadas de 1970 a 1990, e também referências à trama de 1988 sobre desonestidade, corrupção e esperança de um país. Pudera: tínhamos tramas muito legais e atores de gabarito que as sustentavam. Esses estão partindo aos poucos, e dos que ainda estão na ativa, poucos são os que ganham papeis de destaque – nem todos tem a sorte de Fernanda Montenegro, Suzana Vieira e Renata Sorrah, por exemplo.

É bom rever Glória Pires, Antônio Fagundes, Regina Duarte, Beatriz Segall, Reginaldo Farias e outros do time de peso da dramaturgia em ação, já que o espaço hoje vem sendo ocupado por rostos bonitos mas inexpressivos e atuações sofríveis, que muitas vezes acabam esquecidas por conta do açougue televisivo de carnes em abundância escapando de trajes mínimos – quando estes existem. Sim, quem acha excelente a atuação de Marcos Pasquin e Humberto Martins? Alguém?

Da nova safra do final da década de 1980 e início de 1990, poucos escapam. Eu coloco nessa lista Giulia Gam, que anda meio apagada ultimamente. Os bem mais novos vieram de “Malhação”, uma série que, creio eu, mais idiotiza do que distrai.

Enfim, a lista de perdas é grande – Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Gracindo, Sandra Bréa, Norton Nascimento e outros. Fico feliz de ver que a grande Cleyde Yáconis está ali, firme, perfeita como atriz completa. Tem muito a ensinar a esses modelos que se metem a atuar (bem o disse Glória Pires, há alguns anos).

Quanto às tramas, bom... Refizeram “Ti-ti-ti” colocando um humor meio forçado para meu gosto, com abusos do ar de malandragem nos diálogos. As demais novelas repetem fórmulas antigas e abusam de clichês. Não há reviravoltas surpreendentes (por que não matam o personagem principal?), fica tudo ao gosto do público, o que lhes tira a autenticidade - quem não se lembra do casal de lésbicas de “Torre de Babel”, apagadas da trama porque a “família brasileira” não concordava com aquilo (mentalize: aí a mãe de família põe chifre no marido, que por sua vez caça travestis de madrugada, e o filho de ambos participa de rachas e depreda o patrimônio alheio)?

Aqui e ali ainda aparecem boas surpresas, como “Senhora do Destino” e uma ou outra novela do Manoel Carlos com suas Helenas ou de Glória Perez. De qualquer modo, há muito tempo deixei de gostar de telenovelas. Impossível voltar a gostar – com essa safra péssima de atores novos e tramas superficiais, não dá. O jeito é entrar na máquina do tempo. Mesmo sabendo há duas décadas quem matou Odete Roitmann (nova geração: assista para saber quem, como e o motivo), vale a pena ver de novo!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Vítima da Justiça sem rumo (ou "O randevu Judiciário")

Na última quarta-feira, 17, testemunhei pela primeira vez, nos meus três anos e meio como funcionário do Judiciário amazonense, uma prisão feita em pleno cartório. Um cidadão processado, salvo engano, por porte ilegal de arma, apareceu acompanhado de sua mãe para saber informações sobre seu processo, pois recebera uma intimação.

Uma consulta no sistema leva à localização dos autos, e consta que o rapaz tem sua prisão preventiva decretada. Sem que ele saiba, para evitar sua evasão, o juiz determina que os policiais do Fórum subam ao cartório e efetuem a prisão do réu, o que acontece sob o olhar surpreso e depois desesperado da mãe do jovem. Mas uma conversa com ela expôs os motivos daquela detenção: posto em liberdade provisória, o cidadão deixara de comparecer às audiências desde sua saída da cadeia, nunca sendo localizado em seu endereço, segundo os oficiais de Justiça encarregados de cumprir o mandado, fazendo com que o Ministério Público requeresse - e o juiz decretasse - sua prisão preventiva para assegurar o andamento processual. E somente naquele dia, aproveitando seu comparecimento, ele foi novamente preso - e o mandado de prisão havia sido encaminhado pelo menos um mês antes à delegacia responsável pelo seu cumprimento.

Tem ocasiões em que é difícil manter-se alheio a essas situações, sobretudo quando vemos uma mãe desesperada sem entender a razão pela qual seu filho estava sendo algemado diante dos seus olhos. Mesmo tranquilizada pela nossa diretora, que explicou a razão da prisão, a mulher não se conformava. Foi então que ela contou a história, mostrando a que ponto chegam as falhas no Judiciário.

Segundo aquela senhora, o oficial de Justiça responsável a havia encontrado em casa, enquanto o rapaz estava no trabalho. Ela o pôs em contato com o jovem por telefone, recebendo a informação de que o funcionário da Justiça iria no dia seguinte ao seu trabalho entregar-lhe pessoalmente o mandado de intimação para audiência. Isso nunca aconteceu. O oficial devolveu o mandado ao cartório certificando que não encontrara o destinatário da intimação. E pronto. Estava feita a armadilha para o réu, que acabou sendo preso por conta da má-fé de um funcionário do Judiciário - um preguiçoso, certamente, se não for de marca pior.

Essa história deve se repetir em outros cartórios, em outros Judiciários pelo Brasil afora. Só mostra como o aparelho da Justiça segue ainda meio sem rumo. O Conselho Nacional de Justiça meteu o bedelho em tudo para tentar arrumar a casa. Mais atrapalhou que ajudou. Impuseram uns procedimentos que só irão causar mais lentidão e burocracia no Judiciário, caso sejam realmente seguidos. Criaram umas metas que até que deram certo em agilizar situações que vinham se arrastando há anos, mas por outro lado causaram insatisfação aos trabalhadores do poder, que trabalham uma hora a mais, de graça, sem necessidade alguma, pois a carga horária não influi na agilidade dos processos, e sim o dinamismo do pessoal. E nisso não há investimento, apenas um descontentamento que, mais dia, menos dia, vai resultar em greve. O que aconteceu com o rapaz é uma prova disso. Além do mais, a merda - com o perdão da expressão - começa na gênese do processo judicial, que é o inquérito. Informações não são confirmadas, dados não são pesquisados, e isso causa um randevu na vida de muita gente inocente (eu sou um exemplo disso, pois nunca consigo tirar uma certidão cível, uma vez que um elemento homônimo tem vários processos nessa área, e mesmo com os dados sendo diferentes eu preciso provar que não sou eu). Você não imagina quantas situações assim acontecem todos os dias ali, de pessoas que precisam provar, por conta dessas falhas, que são homônimas de quem responde processos.

Enquanto essa baderna prossegue, o CNJ tenta arrumar a casa, mas sem grandes avanços. Não adianta cobrar se não existe investimento. Os grandes senhores não perceberam isso, ainda. E talvez nunca percebam, acomodados em seus gabinetes.

Ah, sim! Quanto ao rapaz, dois dias depois da prisão, foi interrogado e sentenciado a uma pena alternativa, sendo novamente posto em liberdade. Quando compareceu hoje para tomar ciência da sentença, recebeu minha orientação: aparecer novamente para saber se o processo já seguiu para a vara de penas alternativas e saber onde iria cumprir a pena. Era o mínimo que eu podia fazer para evitar novos transtornos ao cidadão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"Procura-me sob uma pedra e me encontrará"

Há uma citação no filme “Stigmata” que diz mais ou menos o seguinte: procura-me sob uma pedra e me encontrará; busca-me em um pedaço de madeira e me achará. Não são essas as palavras exatas atribuidas a Jesus Cristo, mas “bateram” bem com minha ideia do Cristianismo e da crença em Deus.

Sim, Deus existe, disso não tenho dúvida, pois não se pode conceber a vida como um “acidente químico” que dura um instante para logo após simplesmente apagar. Já deixo claro isso para não levantar ecos de heresia ou ateísmo. Nada disso. Só tenho uma visão diferente das coisas.

Creio que todas as religiões, se têm o mesmo Deus, devem ter algo para ensinar. Foi assim que parti rumo a uma busca, uma análise do que se tem a oferecer pelas seitas. Fui criado no Catolicismo, na visão do Deus tirano que castiga, dividindo nosso destino entre Céu e Inferno, aterrorizando com a danação eterna os que não seguem a doutrina. Vi pessoas rezando, se arrependendo, comungando e depois saindo da igreja para fazer sacanagem, enganar, levantar falso testemunho, deixar de estender a mão ao próximo... Demais para mim. Deixei de ser católico.

Essa visão de compensação divina e danação eterna segue na maioria das religiões evangélicas – veja bem, as RELIGIÕES, não a versão moderna da venda de indulgências e enriquecimento ilícito de seus “pastores”. Nem preciso ser mais explícito nisso.

Conheci algumas igrejas evangélicas, e a que me chamou atenção foi a Adventista, cujo culto tive a oportunidade de conhecer por meio de um grande amigo. Gostei. Sem gritos, sem aquelas coisas de fanáticos, um lugar de paz, boa pregação. Seguem uma doutrina voltada, sim, para o próximo. Ainda assim, não era o que eu procurava. Falta um algo mais.

Conheci o Espiritismo por meio de leituras, conversas com espíritas e assistindo filmes com essa temática. Foi com o qual, até então, havia me identificado mais, por conta da visão de causa e efeito, das explicações para Deus, Cristo, amor ao próximo, carma, reencarnação, família e relações humanas. No entanto, se a doutrina espírita mostra-se tão segura sobre conhecimentos de vida e morte e as implicações, por que muitos dos seus membros permanecem gananciosos, mentirosos, soberbos, adúlteros? Não é isso que eles devem compreender para estarem cada vez mais próximos de Deus, combater seus vícios e resistir as tentações? Exatamente como alguns católicos e evangélicos.

Enfim, em qualquer religião existe a banda podre que pode comprometer a imagem do conjunto. Admiro os que conseguem exercer sua fé com sinceridade, não somente “batendo beiço” nas orações. Quanto a mim, reles mortal pecador, sempre estou me arrependendo das burradas que faço, não sou perfeito, mas controlo meus vícios e fúrias de algum modo, sem prejudicar o próximo (embora alguns próximos até o mereçam). Voltando à frase citada no filme “Stigmata”, reproduzida no início do post, prefiro seguir sua essência: você conversa com Deus onde estiver, não precisa de edificações, pois foram ditas sagradas pelo homem em nome do Criador. Em muitas dessas edificações pululam os vendilhões da fé e os pedófilos, salvo aqueles que realmente são pessoas de caráter que sabem exercer sua religiosidade sem hipocrisia.

Pareço ter medo de seguir uma religião, confesso, pois penso que a arrogância religiosa faz cristãos perseguirem judeus, católicos massacrarem protestantes, evangélicos banirem espíritas e assim por diante, tudo por incapacidade de tentar a compreensão mútua e o conhecimento do que é diferente. Prefiro tirar um pouco do que cada uma oferece de bom, seguir o meu caminho sem fazer o mal – isso é o mais importante, creio. Então, que respeitem minha posição do mesmo modo que respeito as outras, mesmo que eu critique. Afinal, quero tentar ser um bom cristão, melhor em atos do que em rituais. E sem rótulos.

Um olhar sarcástico sobre a tecnologia

História que recebi por e-mail.  Genial!


FAMÍLIA DESTE SÉCULO
(provavelmente do Luiz F Veríssimo)


Haroldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:

- Moça, vocês têm pen drive?
- Temos, sim.

- O que é pen drive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um.

- Bom, pen drive é um aparelho em que o senhor salva tudo o que tem no computador.
- Ah, como um disquete...
- Não. No pen drive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes.
O disquete, que nem existe mais, só salva texto.
- Ah, tá bom. Vou querer.
- Quantos gigas?
- Hein?
- De quantos gigas o senhor quer o seu pen drive?
- O que é giga?
- É o tamanho do pen.
- Ah, tá. Eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso sem fazer muito volume.
- Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de coisas que ele pode arquivar.
- Ah, tá. E quantos tamanhos têm?
- Dois, quatro, oito, dezesseis gigas...
- Hmmmm, meu filho não falou quantos gigas queria.
- Neste caso, o melhor é levar o maior.
- Sim, eu acho que sim. Quanto custa?
- Bem, o preço varia conforme o tamanho. A sua entrada é USB?
- Como?
- É que para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada compatível.
- USB não é a potência do ar condicionado?
- Não, aquilo é BTU.
- Ah! É isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB.
- USB é assim ó: com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador. O outro tipo é este, o P2, mais tradicional, o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo.
- Hmmmm! Enfiar o pino no buraquinho, né?
- He he he! O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P2.
- Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra do disquete? 
Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso. O meu primeiro computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?
- Os de hoje nem têm mais entrada para disquete. Ou é CD ou pen drive.
- Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.
- Quem sabe o senhor liga pra ele?
- Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo, tem tanta coisa nele que ainda não aprendi a discar.
- Deixa eu ver. Poxa, um Smarthphone! Este é bom mesmo! Tem Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, filmadora, radio AM/FM, TV, dá pra mandar e receber e-mail, torpedo direcional, microondas e conexão wireless.
- Microondas? Dá para cozinhar nele?
- Não senhor. Assim o senhor me faz rir. É que ele funciona no sub-padrão, por isso é muito mais rápido.
- E Bluetooth? Estou emocionado. Não entendo como os celulares anteriores não possuíam Bluetooth.
- O senhor sabe para que serve?
- É claro que não.
- É para um celular comunicar com outro, sem fio.
- Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para ligar para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria...
- Não, já vi que o senhor não entende nada, mesmo. Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista de telefones, por exemplo.
- Ah, e antes precisava fio?
- Não, tinha que trocar o chip.
- Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...
- Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.
- Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?
- Momentinho... Deixa eu ver... Sim, tem chip.
- E faço o quê, com o chip?
- Se o senhor quiser trocar de operadora, portabilidade, o senhor sabe.
- Sei, sim, portabilidade, não é?, claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? Imagino, então que para ligar tudo isso, no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar nuns duzentos botões...
- Nããão! É tudo muito simples, o senhor logo apreende. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isso. Agora é só teclar, um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está chamando.
Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares para um outro planeta:
- Oi filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pen drive é de quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o teu pen drive. De noite eu levo para casa.
- Que idade tem seu filho?
- Vai fazer dez em março.
- Que gracinha...
- É isso moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.
- Certo, senhor. Quer para presente?
Mais tarde, no escritório, examinou o pen drive, um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro. Capaz de gravar filmes? Onde iremos parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa. "Máquina infernal", pensa.
Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofisticado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha a infelicidade de ter mais de quarenta, saberá compreender. 
Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como funciona.
 O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês. Seleciona umas palavras e um 'heavy metal' infernal invade o quarto e os ouvidos de Haroldo. 
Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:
- Pronto, pai, baixei a música. Agora eu levo o pen drive para qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo.
- Teu celular tem entrada USB?
- É lógico. O teu também tem.
- É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir pelo celular?
- Se o senhor não quiser baixar direto da internet...
Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo em Clarinha e disse:
- Sabe que eu tenho Bluetooth?
- Como é que é?
- Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é?
- Não enche, Haroldo, deixa eu dormir.
- Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador, 
toca-discos tocava discos e a gente só tinha que apertar um botão, para as coisas funcionarem?
- Claro que lembro, Haroldo. Hoje é bem melhor, né? Várias coisas numa só, até Bluetooth você tem.
- E conexão USB também.
- Que ótimo, Haroldo, meus parabéns.
- Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido. Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.
- Ué? Por quê?
- Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e tudo o que sei já está superado.
- Por falar nisso temos que trocar nossa televisão.
- Ué? A nossa estragou?
- Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, slowmotion e reset.
- Tudo isso?
- Tudo. Boa noite, Haroldo, vai dormir.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Doutora Lúcia (para rir, que é o melhor remédio!)

Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Meu nome é Júlia. É verdade que a gente pode engravidar em um banheiro público?
Drª.Lúcia: - Sim! Acho melhor você parar de trepar lá!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Aqui é a Geisy e eu queria saber porque a fantasia dos homens é transar com nossa melhor amiga?
Drª.Lúcia: - Nada disso! A fantasia deles é comer sua irmã mais nova, ou a mais velha, ou a do meio, ou a sua prima. A melhor amiga também, ou qualquer outra amiga...
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Eu sou a Vera e queria saber porque os homens vão embora logo depois de transar com a gente no primeiro encontro?
Drª.Lúcia: - Porque o encontro acabou. Caso contrário, seria casamento!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Me chamo Luciane e eu tenho um amigo que quer fazer sexo comigo, mas ele tem um pênis de 20cm. Acho que vai ser doloroso, o que faço?
Drª.Lúcia: - Manda ele pra cá que eu testo pra você!!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Eu sou a Rosa e eu queria um conselho! Como faço para seduzir o rapaz que eu amo?
Drª.Lúcia: - Tire a roupa! Se ele não te agarrar, caia fora que é gay!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Terminei com meu ex porque ele é muito galinha e agora estou com outro. Mas ainda gosto do ex e as vezes ainda fico com ele! O que devo fazer?
Drª.Lúcia: - Quem é mesmo a galinha nesta história?
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Aqui é a Rose e eu queria saber porque os homens se masturbam mesmo quando são casados?
Drª.Lúcia: - Minha amiga...jogo é jogo...treino é treino!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Quero saber se a primeira vez dói. Tenho 21 anos e ainda não transei porque tenho medo de doer e não aguentar...
Drª.Lúcia: - Dói tanto que você vai ficar em coma e nunca mais va levantar!... Deixa de ser fresca e dê de uma vez...ô Cinderela!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Aqui é a Bruna! Eu queria saber se posso tomar anticoncepcional com diarréia...
Drª.Lúcia: - Olha...eu tomo com água, mas a opção é sua!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Me chamo Jeferson e eu gostaria de saber como faço pra minha esposa gritar por uma hora depois do sexo!!!
Drª.Lúcia: - Limpe o pau na cortina!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Sou virgem e rolou pela primeira vez um lance de fazer sexo oral. Terminei engolindo o negócio e quero saber se corro o risco de ficar grávida. Estou desesperada!!!
Drª.Lúcia: - Claro que corre o risco de ficar grávida! E a criança vai sair pelo seu ouvido!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Meu nome é Suzi e eu gostaria de saber qual  diferença entre uma mulher com TPM e um pitbull?
Drª.Lúcia: - O batom, minha filha!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Aqui é o Sílvio e eu gostaria de saber porque esses furacões recebem o nome de mulheres?
Drª.Lúcia: - Porque quando eles chegam são selvagens e molhados e, quando se vão, levas sua casa e seu carro junto com eles!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Aqui é o Fred! Me tire uma dúvida...o que são aquelas saliências ao redor dos mamilos das mulheres?
Drª.Lúcia: - É Braile e significa "chupe aqui"...
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Quero saber como enlouquecer meu namorado, só nas preliminares.
Drª.Lúcia: - Diga no ouvidinho dele..."minha menstruação está atrasada"!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Sou feia e pobre. O que devo fazer para alguém gostar de mim?
Drª.Lúcia: - Ficar bonita e rica!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Aqui é a Jaque! É o seguinte...o cara com quem estou saindo é muito legal, mas está dando sinais de ser alcoólatra. O que eu faço?
Drª.Lúcia: - Não deixe ele dirigir!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Aqui é o Gabriel, me diga, porque não se pode confiar nas mulheres?
Drª.Lúcia: - Como alguém pode confiar em algo que sangra por cinco dias e não morre?
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Aqui é a Léia, me diga, porque as mulheres esfregam os olhos de manhã, quando acordam?
Drª.Lúcia: - Porque elas não tem um saco para coçar!
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Ouvinte: - Bom dia Dr.a Lúcia! Porque os homens adoram transar por trás?
Drª.Lúcia: - Para poder continuar assistindo tv e tomar cerveja sem que vocês vejam
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Fim !!!!!!!!!!!!!!!!!!! do programa !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ressurreições que não dão certo...



É inevitável para quem curte cinema fazer comparações: da versão colorida e da P&B, da continuação, do remake, da versão para a TV... Eu, então, sempre critiquei negativamente os remakes de grandes filmes que têm aparecido, com poucas exceções. Para mim, uma refilmagem (até mesmo aquelas novas versões de adaptações de livros ou peças teatrais) acaba eliminando o charme dos filmes originais, principalmente se a "nova leitura" muda aspectos explorados no original.

Cinéfilo é assim, não adianta. Refazer um filme trash, pequeno, sem destaque, muito inexpressivo, é uma coisa. Nos grandes filmes, é diferente. Mexer com "Psicose", refeita como "homenagem" a Hitchcock, rendeu críticas nada agradáveis a Gus Van Sant. A nova versão da peça "Disque M para Matar" foi pelo mesmo caminho. "Guerra dos Mundos" se segurou nos efeitos especiais de tirar o chapéu, mas não tinha o charme da produção original melhor inspirada em Orson Welles. Recentemente, tivemos "Horror em Amityville", "A Névoa" ("A Bruma Assassina"), "Piranha"... E já vem por aí "O Mágico de Oz". Falta de criatividade em roteiros? Só pode ser... Essa conversa de mostrar para as novas gerações em uma nova leitura é balela...

São os efeitos ultrapassados que dão o charme a esses filmes antigos. É como se fosse o registro da própria evolução do cinema. Refilmá-los parece uma tentativa de apagar aquela história ou mesmo macular a carreira do cineasta, sobretudo se ele for de grande destaque e com trajetória marcante na sétima arte. Daí nossa crítica aos remakes. Poucos são os que não recebem opiniões negativas.

Imaginem refilmar "E o vento levou...", "O bebê de Rosemary" e "Crepúsculo dos deuses". São obras primas do cinema mundial. Isso para falar nos norte americanos. Veja o que eles fizeram com as grandes produções europeias e do oriente... E, como costumam dizer por ai, por pura preguiça de ler legendas. Nesse caso eles como que minimizam o potencial estrangeiro em realizar ótimas produções. Não sei como ainda não se atreveram a refilmar a famosa Trilogia das Cores... Vai ver o filão não é financeiramente compensatório.

Nosso Brasil pode ser um caso à parte. Falei do cinema internacional que sempre foi bem evoluido. Aqui a história foi bem outra. Nossas produções da década de 1970, em sua maioria, tinham pobreza técnica. Ainda assim, não fizeram feio. Algumas mereceriam, sim, remakes. Parece contraditório ao que escrevi antes, mas não é. Basta ver adaptações de Nelson Rodrigues feitas na década de 1950 e as de 1970. Começamos bem, como tive a oportunidade de certificar ao ver "Bonitinha, mas ordinária", de 1956 (salvo engano), com Jece Valadão e Odete Lara. A nova versão, de 1978, com Lucélia Santos, José Wilker e Vera Fischer, beirou a pornografia pura e simples, ficando muito superficial. NR não merecia isso...

Cinema, jornalismo e mitologia tupiniquim

Esta semana, a pedido de um amigo, respondi um questionário interessante para um trabalho de conclusão de curso a respeito de jornalismo e cinema, mais especificamente a visão cinematográfica do jornalismo e de seus profissionais. Questões respondidas com minha objetividade de sempre.

Tema muito interessante para uma monografia. Cinema foi sempre minha paixão, mais até que o jornalismo, que acabou sendo a segunda opção escolhida. A arte de contar histórias sempre me fascinou, em imagens então... Quando vi o tema que relaciona os dois assuntos, refleti sobre isso, e à exceção de "Íntimo e pessoal" e "A montanha dos Sete Abutres", os demais filmes que têm o jornalismo como pano de fundo mostram uma visão muito fantasiosa da profissão - embora que o filme protagonizado por Kirk Douglas, "A montanha...", tem um quê de alegórico exatamente para criticar o sensacionalismo da mídia de forma dura.

O jornalismo mostrado é sempre imparcial, movido pela busca da verdade acima de tudo em razão do compromisso social e blá, blá, blá... Quem trabalha ou trabalhou em redação de jornal sabe que o buraco é mais embaixo. A imparcialidade que existe é definida pelo ponto de vista do empresário que (e isso me aborrece pacas) se diz jornalista também. Imparcialidade, na visão empresarial, rima com capital, com grana, com acordo de cavalheiros, e por aí vai. Matérias de fundamental importância, que envolvem denúncias, muitas vezes são barradas por conta desses interesses. Aquela cooperativa de saúde fez merda e você quer denunciar? Tente, com alguma sorte 20% do material original é publicado - se o for, porque o grupo é anunciante do jornal, e jornal vive de anúncios, também. O governo está enganando o povo? Denuncie, mas se prepare. Aquela juiza está infernizando a vida de uma família? Vamos lá, capte a história, ouça todas as partes envolvidas, e ainda assim você vai ser acusado de querer favorecer "A" ou "B", então o melhor é não publicar nada.

Sobre essas imagens fake se moldam os "ídolos" do jornalismo brasileiro (preste atenção, "brasileiro", não  amazonense), endeusados com todas as pompas. Pelos bastidores de jornais se conhecem histórias de negociatas que beiram o absurdo, coisas que tornam a atividade uma fábrica movida pela extorsão.

E o profissional, então? Tem sempre aquele que pega (às vezes até por pedir) um "guaranazinho", uma gíria bem apropriada para a famosa propina, para não publicar tal e tal coisa. Ou o que faz ouvidos moucos por pura conveniência. Ou o que aproveita a pauta para pedir favores na cara dura. E a lista aumenta...

Cinema é fantasia demais. Quando é da indústria da cultura de massa, pior ainda. Para não ter raiva com tantos floreios, prefiro me recostar, assistir, refletir e, se for o caso, esquecer...

Isso não significa, no entanto, desânimo para os que começam agora ou labutam há tempos na atividade e são, reconhecidamente, profissionais de caráter e ética. Pena que podemos contá-los tão facilmente. Mas a verdade é isso aí, não o jornalismo made in Hollywood.

Não se faz mais sacanagem como antigamente...



Lá pelo final da década de 1970 e início da seguinte, comecei a vasculhar o guarda roupa de meus irmãos mais velhos, com aquela sanha de querer descobrir as coisas, típicas do menino de 6 anos, abelhudo até não aguentar mais. Eis que nessa época descobri um pequeno "tesouro" em preto e branco, traços bacanas, recheados de sacanagem por vezes explícita, mas que me levou logo a perceber os primeiros traços do que seria o mundo adulto - ainda que proibido até para meus irmãos, marmanjos já adolescentes.

Os nomes que faziam parte daquele tesouro eu recordo até hoje: havia "Playcolt", "Conde Dinho", "Frígida" e os "Quadrinhos Eróticos", que ainda tinham uma versão de terror. Eram histórias de ação e muito sexo, bem ousadas para uma época de censura por todos os lados. 

Hoje essas pequenas joias estão esquecidas, são itens de colecionador. "Playcolt" era a melhor, contando as aventuras de um agente parecidissimo com o Alain Delon, que se envolvia com uma mulherada às vezes não convencional, como uma transexual chamada Aretha - sim, uma loiraça que tinha um "acréscimo" em sua anatomia. Bem me recordo de algumas dessas histórias divertidas.

Há algum tempo tento descobrir onde adquirir essas preciosidades. Tentei pelo Twitter, Orkut e outros meios, sem sucesso. Parece que a minha geração não deu valor e as seguintes ignoraram o destino dessas histórias. Encontrei em buscas pela internet outras pessoas que citam essas histórias em quadrinhos, narram episódios ou já colocaram seu estoque à venda no Mercado Livre. Não tive essa sorte, mas ainda não desisti.

Para mim, aquelas histórias eróticas marcaram. Não pela sacanagem em si, mas por mostrar um mundo que eu logo iria chafurdar para depois criar outras histórias (coisas de criança) e até mesmo incentivar meu hábito pela leitura (minha mãe conta que aprendi a ler com 5 anos e com muita rapidez, o que me levou a pular a primeira série do antigo primário diretamente para a seguinte). A questão do sexo já é outra história.


Difícil ver histórias tão bem elaboradas como aquelas. Tinha margem até para o cafona, como uma cama voadora em uma das histórias de "Playcolt". Agora é pornografia pura. O que chegou mais perto foi a fantástica e bizarra "Black Kiss", de Howard Chaykin, de 1991, uma mistura de terror, comédia e sexo, abusando de violência para contar a história de duas "irmãs" gêmeas que se envolvem com um viciado em drogas que foge da polícia, acusado do assassinato da mulher e da filha. Essa eu comprei (os quatro volumes) e guardo como item raro de colecionador há 19 anos! Pretendo até escanear a história para disponibilizar o download...

Para constar, ainda procuro exemplares de "Playcolt", "Frígida", "Conde Dinho", "Máfia" e "Quadrinhos Eróticos", todos daquela época, para meu acervo!!! Quem puder me dar uma indicação, agradeço!

domingo, 14 de novembro de 2010

Devaneios sobre um par de sapatos


Domingo, quase duas horas da tarde, tempo nublado, mas o calor está cruel e nem me atrevo a imaginar, sequer sondar, qual a temperatura naquele momento. Quase cabisbaixo, refletindo sobre a vida enquanto retorno do almoço para meu trabalho, deparo com aquelas duas peças no gramado defronte a uma casa: um par de sapatos femininos, pretos, lado a lado, um deles emborcado.

E naquele momento, sem mais nada para pensar, e no restante do caminho ao trabalho, dali a alguns meros metros, comecei a imaginar a procedência das duas peças, atiradas ali, uma visão incomum para um domingo nublado e fervente.

Quem seria a dona dos sapatos? Batizei-a de Rebeca. Um nome simples, presente em várias línguas sem dificuldade de pronúncia por conta dos floreios idiomáticos de cada país. Foi minha imediata referência à Rebeca de Daphne DuMaurier, de Hitchcock ou do Novo Testamento. Enfim, naquele momento os sapatos pretos pertenciam a Rebeca.

Morena, loura, cabocla, japonesa, alta, baixa, magra, gordinha, adolescente, madura, que fosse. Rebeca deixara ou esquecera seus sapatos ali, naquele gramado, numa rua com pouco movimento, certamente há horas, provavelmente durante a madrugada. Talvez estivesse tão feliz com a sua companhia afetiva naquele momento que largou-os para fazer o trajeto – seja ele qual tenha sido - com os pés no asfalto, mãos dadas com sua paixão, rindo, pulando, dançando em plena rua, quem sabe?

Ou então aqueles sapatos poderiam ter sido usados contra seu – ou talvez sua – amante, em uma discussão acalorada causada por ciúmes, logo resvalando para uma conversa mais amena e reconciliação, com felicidade tal que os tais adereços já eram dispensáveis no momento e dignos de esquecimento.

Enfim, imaginei várias Rebecas com base naquele simples par de sapatos largados no gramado. De algum modo, ambos deviam ter algum significado, pois não estariam ali simplesmente por estar, deixados propositalmente para serem aos poucos desgastados pela influência do tempo.

Foi então que uma ideia me ocorreu, já praticamente às portas do meu trabalho, ante tantos pensamentos sobre a Rebeca sem rosto e sem forma, mas com a essência que eu insistia em criar. E se não fosse nada daquilo?

E se Rebeca fosse, na verdade, um nome usado por alguém que se chamaria – hipoteticamente – Sebastião, João, Eduardo, Roberto? Logo ali, mais adiante, fica um ponto de prostituição. Certamente o travesti estaria correndo da polícia, de arruaceiros ou, mesmo, perseguindo algum cliente caloteiro. Os sapatos eram o obstáculo a uma correria empreendida, largados naquele trecho apenas para facilitarem uma corrida.

É... os devaneios param por aqui. Preciso é parar de fantasiar e cair na real.

Rebeca que se exploda com seus sapatos perdidos!

sábado, 13 de novembro de 2010

Réquiem para Monteiro Lobato


De vez em quando vasculho a internet em uma onda de nostalgia para ler sobre programas da minha infância, com a curiosidade típica de saber o que aconteceu com as pessoas que deles participaram. O "Sítio do Pica Pau Amarelo" é o meu preferido, pois me traz de volta toda aquela inocência, aquele período puro, onde nada era problema, somente novidade, uma época que, relembrada, sempre traz um sorriso autêntico de saudosismo.

No caso do "Sítio", nessas minhas viagens ao passado descobri que o ator Ivan Senna, que interpretava o João Perfeito, faleceu em maio do ano passado (http://centraldenoticias.wordpress.com/2009/05/25/obituario-ivan-senna/). Na foto acima, ele aparece à esquerda do Visconde de Sabugosa (André Valli, que também já nos deixou). A cada ator daquela maravilhosa série que partia, eu sentia que ia um pedaço da infância. As mortes das eternas tia Nastácia e dona Benta - respectivamente Jacira Sampaio e Zilka Sallaberry - me levaram às lágrimas. O mesmo quando morreu o Valli. Foram personagens marcantes para mim e com certeza para muitos na minha faixa etária.

Não há como não comparar o atual "Sítio" com o antigo. A versão atual não tem mais aquela ingenuidade. Não gosto porque mostra algo que me deixa triste: as crianças de hoje deixaram de ser tão puras. Desde cedo são bombardeadas com a violência dos desenhos atuais, dos videogames, dos filmes para adultos em que elas entram sem serem barradas e com a conivência dos pais...

Os desenhos que assistiamos quando criança tinham violência? Sim, tinham, mas uma violência caricata, exagerada ao extremo para ser imediatamente suavizada com nossas gargalhadas. A de hoje faz a criança querer reproduzir aquilo com o coleguinha, na escola... Quem sabe não foi por isso que aquele garotinho matou o colega a queima roupa, com um revólver que havia trazido de casa?

Dizer que elas têm a conivência dos pais para assistir filmes para adultos não é exagero. Comentei recentemente no Twitter, um dia após assistir o (maravilhoso) "Tropa de Elite 2", que fiquei pasmo pelo fato de haver uma criança de pelo menos 7 anos de idade na plateia... acompanhada dos pais. Da minha geração não o são, pois desta os filhos ainda são criados do mesmo modo como o fomos pelos nossos genitores.

Em nossa infância, não havia todo esse lixo que hoje temos, com grupos de pagode armados de gostosonas seminuas, letras sofríveis e coreografias libidinosas demais; nem pseudo funkeiros que divulgam a homofobia, o machismo, a promiscuidade e a violência gratuita. O que quer que pudesse haver nesse sentido, nossos pais tinham o controle. Aprendemos a respeita-los e desse modo passar adiante essa necessidade de respeito.

Como passei de uma lembrança de infância a uma observação sobre o comportamento infantil hoje? É porque fico pasmo de ver crianças manipulando seus pais, fazendo escândalos nos lugares públicos para ter alguma coisa, terem péssimo comportamento com a família e com estranhos, até mesmo agredindo seus genitores. Por isso, tento enxergar onde está a culpa disso tudo, então me lembrei do "Sítio", que me lembrou de minha infância, da forma como meus pais me criaram e da cultura de massa.

E ainda querem censurar Monteiro Lobato... Tenha dó!!!!

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...