quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Teledramaturgia em crise?


Alguns tweets trocados ontem à noite com as jornalistas Tricia Cabral e Cristiane Batista, mais alguns comentários no próprio Twitter e em meu Facebook a respeito da novela “Vale Tudo” confirmam o que eu mais suspeitava: a teledramaturgia brasileira, que se tornou produto de exportação, consagrou carreiras e posicionou a rede Globo no seu padrão de qualidade, está descendo a ladeira, acelerando a cada dia.

A reprise de um grande sucesso como “Vale Tudo” é diferente daquelas costumeiramente vistas no “Vale a Pena ver de Novo”. No canal Viva, a telenovela está sendo reexibida na íntegra, segundo eu verifiquei, sem aqueles cortes do programa vespertino global. O que também pesa a seu favor na audiência é a sua atualidade e, mesmo, a curiosidade de rever atores 22 anos mais jovens. .

Os comentários a que me referi revelavam saudades de outras telenovelas marcantes, como “Cambalacho”, “Rainha da Sucata”, “Que Rei sou Eu?”, “Vereda Tropical” e outras das décadas de 1970 a 1990, e também referências à trama de 1988 sobre desonestidade, corrupção e esperança de um país. Pudera: tínhamos tramas muito legais e atores de gabarito que as sustentavam. Esses estão partindo aos poucos, e dos que ainda estão na ativa, poucos são os que ganham papeis de destaque – nem todos tem a sorte de Fernanda Montenegro, Suzana Vieira e Renata Sorrah, por exemplo.

É bom rever Glória Pires, Antônio Fagundes, Regina Duarte, Beatriz Segall, Reginaldo Farias e outros do time de peso da dramaturgia em ação, já que o espaço hoje vem sendo ocupado por rostos bonitos mas inexpressivos e atuações sofríveis, que muitas vezes acabam esquecidas por conta do açougue televisivo de carnes em abundância escapando de trajes mínimos – quando estes existem. Sim, quem acha excelente a atuação de Marcos Pasquin e Humberto Martins? Alguém?

Da nova safra do final da década de 1980 e início de 1990, poucos escapam. Eu coloco nessa lista Giulia Gam, que anda meio apagada ultimamente. Os bem mais novos vieram de “Malhação”, uma série que, creio eu, mais idiotiza do que distrai.

Enfim, a lista de perdas é grande – Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Gracindo, Sandra Bréa, Norton Nascimento e outros. Fico feliz de ver que a grande Cleyde Yáconis está ali, firme, perfeita como atriz completa. Tem muito a ensinar a esses modelos que se metem a atuar (bem o disse Glória Pires, há alguns anos).

Quanto às tramas, bom... Refizeram “Ti-ti-ti” colocando um humor meio forçado para meu gosto, com abusos do ar de malandragem nos diálogos. As demais novelas repetem fórmulas antigas e abusam de clichês. Não há reviravoltas surpreendentes (por que não matam o personagem principal?), fica tudo ao gosto do público, o que lhes tira a autenticidade - quem não se lembra do casal de lésbicas de “Torre de Babel”, apagadas da trama porque a “família brasileira” não concordava com aquilo (mentalize: aí a mãe de família põe chifre no marido, que por sua vez caça travestis de madrugada, e o filho de ambos participa de rachas e depreda o patrimônio alheio)?

Aqui e ali ainda aparecem boas surpresas, como “Senhora do Destino” e uma ou outra novela do Manoel Carlos com suas Helenas ou de Glória Perez. De qualquer modo, há muito tempo deixei de gostar de telenovelas. Impossível voltar a gostar – com essa safra péssima de atores novos e tramas superficiais, não dá. O jeito é entrar na máquina do tempo. Mesmo sabendo há duas décadas quem matou Odete Roitmann (nova geração: assista para saber quem, como e o motivo), vale a pena ver de novo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...