domingo, 27 de maio de 2012

Comentário: "Sob o domínio do medo" (Straw Dogs, 1971/2011)

Dustin Hoffman
David Sumner (Dustin Hofrman) é um matemático americano que se muda com a esposa Amy (Susan George) para Cornwall, no interior da Inglaterra, em busca de tranquilidade para escrever um livro. Para tanto, alugou por um ano uma casa isolada. Paz, no entanto, é o que ele não terá. A jovem e indócil mulher o perturba com suas brincadeiras e exige atenção do marido, sempre distraído com cálculos e mais cálculos no quadro negro de seu escritório. Para piorar, há a hostilidade de alguns nativos com o "americano esquisito": são os rapazes que trabalham na construção de sua garagem coberta, entre eles um antigo namorado de Amy, Charles (Del Henney) - com quem ela flerta perigosamente -, cujo tio Tom (Peter Vaughan) é um beberrão encrenqueiro, assim como seus outros parentes.

As implicâncias com David vão se acumulando, sem que o matemático revide. Essa passividade deixa Amy à beira de um ataque de nervos, ainda mais depois que ele não toma nenhuma atitude após a gata de estimação do casal aparecer estrangulada e pendurada dentro de seu guarda-roupa, barbaridade atribuida pela mulher aos rapazes da garagem. Seu caráter pacato só é deixado de lado por provocações ao reverendo local, Barney Hood (Colin Welland), acirradas por bebidas a mais tomadas no pub da aldeia, em uma discussão sobre responsabilidades: para o religioso, David deveria expressar algum pesar na consciência por conta da bomba atômica (a Segunda Guerra havia terminado pouco mais de 20 anos antes), criada a partir de profissionais de sua área; já Sumner retruca sobre o "mar de sangue" sobre o qual se ergueu a Igreja. É o máximo de ousadia a que ele se permite. Assim é que tolera os abusos, inclusive ser levado para uma caça pelos seus contratados e abandonado na floresta por eles. A tragédia começa a tomar forma: enquanto David aguarda o aparecimento dos companheiros de caça, Charles e outro dos encrenqueiros estupram Amy enquanto ela está sozinha em casa.

Susan George
Na aldeia também vive um doente mental chamado Henry Niles (David Warner), repudiado por Tom e sua família. O rapaz acaba sendo o estopim para uma crise entre os encrenqueiros e os Sumners, ao matar acidentalmente Janice (Sally Thomsett), a filha adolescente (e muito atrevida) de Tom. Em sua fuga após causar a morte da jovem, é atropelado por David, que o leva para sua casa. Tom, Charles e outros três homens cercam o imóvel e exigem a entrega de Henry. O matemático, temeroso de que seja cometida uma injustiça contra o rapaz, nega, apesar dos protestos de Amy. Começa então uma sequência de intimidações e ataques dos cinco agressores que irá levar David a romper seu ponto de equilíbrio, transformando-o de um homem pacífico em um defensor ferrenho de seu espaço, capaz inclusive de matar.

O original de Sam Peckinpah (ou Bloody Sam, como ficou conhecido por causa de seus filmes violentos), adaptado de um livro de Gordon Williams, foi considerado inovador por mostrar cenas de violência estilizadas, sendo uma de suas melhores obras. Há ainda um quê de misoginia, pois, na conclusão mais imediata, os flertes de Amy, mulher liberal que se recusa inclusive a usar sutiãs, foram a causa da aproximação dos encrenqueiros. De qualquer modo, muitos cineastas adotaram seu estilo nos anos seguintes, sendo que considero seu maior discípulo o diretor John Woo ao realizar "A outra face", com cenas de suspense de tirar o fôlego. Não é à toa que a falta de criatividade dos roteiristas de hoje levaram a um remake (o mesmo aconteceu com outro filme seu, "Os implacáveis", com Steve McQueen e Ali McGraw, refilmado como "A fuga", como casal Alec Baldwin e Kim Basinger).

James Marsden e Kate Bosworth

Na refilmagem de Rod Lurie, James Marsden (o Ciclope de X-Men) e Kate Bosworth (a Lois Lane de "Superman returns") assumem os papeis que foram de Dustin Hoffman e Susan George, respectivamente, agora transmutados em um roteirista em busca de sossego para escrever um roteiro sobre a batalha de Stalingrado, de 1943, e uma atriz de televisão. James Woods interpreta Tom, agora um técnico de futebol americano turrão (mais um na lista de seus personagens desbocados e agressivos). O papel do ex-namorado de Amy e algoz dos Sumner coube a Alexander Skarsgard (aquele do clip "Paparazzi", que joga Lady Gaga da sacada e é vítima de sua revanche), e a ação agora se passa em uma cidade do interior do Mississipi. O restante da história permaneceu inalterado - as provocações, a morte acidental da filha de Tom que resulta na caça ao doente mental (agora chamado Jeremy Niles e interpretado por Dominic Purcell, de "Blade: Trinity") e no cerco à casa dos Sumners.

Não gosto de refilmagens. Por mais que se alegue ajustar histórias aos tempos atuais (não vejo necessidade disso, creio que é pura falta de criatividade), refilmar um enredo de ótimo resultado soa como uma heresia. Há casos e casos, no entanto. O novo "Sob o domínio do medo" não é tão ruim. O mesmo aconteceu com "Sob o domínio do mal" e até mesmo "Halloween", razoavelmente bem sucedidas ao lado de desastres como "Horror em Amityville", "Psicose", "Piranha" e outras barbáries cinematográficas. Impossível não deixar de comparar com o original, mas deu para assistir tranquilamente.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Comentário: "Absentia" (2011)


Sempre fui fã de filmes de terror. Posso dizer, sem medo de parecer exagerado, que gosto do gênero "desde pequenininho". Isso inclui também os trash e gores que proliferaram na década de 1980 e acabaram perdendo a graça em um sem número de imitações ao longo dos anos. Acho ótimo, então, quando encontro obras que têm originalidade e uso eficiente das técnicas cinematográficas para criar um clima de tensão que faz a diferença entre um filme e outro.

Nessa categoria passei a incluir "Absentia", filme dirigido por Mike Flanagan em 2011. Cortes bruscos em momentos de tensão, sombras e muitas elipses tornam essa obra uma das mais arrepiantes que assisti. É o medo do desconhecido, do monstro sugerido nas penumbras, nos frames rápidos e propositalmente embaçados de imagens chocantes como de um cadáver retorcido e, sobretudo, o enigma que perdura sobre uma lenda a respeito de um mundo subterrâneo onde pessoas são escravizadas e sofrem todos os tipos de abusos.


Em um subúrbio de Los Angeles, Tricia (Courtney Bell), após muita relutância, finalmente decide, após sete anos do desaparecimento de seu marido Daniel (Morgan Peter Brown), declarar sua morte presumida. Com o passar do tempo, substituir os cartazes com a foto de Daniel pregados em vários locais acabou sendo um costume, uma maneira de acabar com todas as cópias que restaram, como confessa a sua irmã mais nova, Callie (Katie Parker), que aparece para visitá-la. É a aceitação do fato de que o esposo não voltará mais para casa. Além disso, Tricia espera um bebê, fruto de um relacionamento recente e ainda incerto com o detetive Ryan Mallory (Dave Levine), o apoio da jovem esposa durante os anos de investigação sobre o desaparecimento de Daniel. 


 Ao decidir-se pela certidão de óbito presumido do marido, Tricia começa a ter alucinações com Daniel, atribuídas por ela a um sentimento de culpa por declará-lo morto e ter a iniciativa de recomeçar a vida com Mallory. Mas Callie também começa a ter tais visões após o reaparecimento súbito de Daniel, machucado e em estado de perturbação, e para a jovem tudo indica que há algo de sobrenatural no desaparecimento do seu cunhado, podendo estar relacionado ainda a um túnel nas proximidades do subúrbio, uma passagem pichada e sombria onde a penumbra parece ter vida, e ainda a uma série de desaparecimentos similares de pessoas e animais das redondezas.

Se não houver por parte do espectador muita exigência de explicações óbvias (o que tem contribuido para desvalorização injusta do cinema independente, em qualquer gênero), "Absentia" é uma boa opção de filme para ser assistido na escuridão e no silêncio de seu quarto. É um filme para pensar, analisar e tirar suas próprias e angustiantes conclusões. É um estilo de narrativa que gosto, a exemplo de "O bebê de Rosemary", "A bruxa de Blair" e "O exorcismo de Emily Rose", só para citar alguns: o clima da história em si assusta, por isso o surgimento de sombras e sons estranhos tem um efeito melhor que faces deformadas e corpos mutilados. É um sinal de que ainda é possível fazer bom cinema sem precisar ficar refém do (mau) gosto da indústria cultural.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Comentário: "The Innkeepers" (2011)

Em "The Innkeepers", de Ti West, o centenário Yankee Paddle Inn vai fechar as portas. Enquanto seu proprietário está nas Bahamas, onde não quer ser incomodado, seus dois únicos empregados, Claire (Sara Paxton) e Luke (Pat Healy), passam o tempo tratando de supostas assombrações do estabelecimento. É o último final de semana de funcionamento do hotel antes de seu fechamento para futura demolição, e os derradeiros hóspedes são uma esposa furiosa com o marido, que traz a tiracolo o filho pequeno, a atriz Leanne Reese-Jones (Kelly McGillis), e, por fim, um idoso misterioso que faz questão de ficar hospedado em um dos quartos do terceiro andar, já interditado e sem mobílias, pagando a diária em dinheiro.


Luke criou um site sobre assombrações do Yankee Paddle e conta com a ajuda de Claire para buscar evidências de fantasmas no prédio. No entanto, a jovem fica obcecada com a história de Madeline O'Malley, hóspede que cometera suicídio décadas antes após ser abandonada pelo noivo. Para evitar danos à imagem do hotel, os proprietários haviam escondido seu corpo no porão. Então, para Claire, o espírito de Madeline estaria ainda assombrando os corredores do local, e é o que ela pretende provar, mesmo com os alertas de Leanne, a qual se revela também uma médium, sobre mexer com o mundo dos mortos.


No começo, o filme pode parecer arrastado e sem graça, mas aos poucos começa a sobressair uma atmosfera sinistra de sinais "do outro lado", capazes de causar arrepios. Em minha opinião, é um bom filme, mas há quem não goste do gênero "casas assombradas", onde não acontecem mortes sangrentas em close, substituídas pela tensão psicológica. Em alguns momentos, "The Inkeepers" lembra, guardadas as devidas proporções, algumas sequências do Overlook Hotel de "O iluminado" (1980) ao mostrar os corredores estreitos e vazios do Yankee Paddle Inn, onde parece haver sempre algo à espreita - para Claire, o espírito solitário de Madeline O'Malley; para Leanne, é algo mais ameaçador que está para chegar. As respostas, no desenrolar da história, serão assustadoras e fatais. Para quem assiste, no entanto, aparentemente não há essas respostas, mas prestando-se muita atenção nas palavras de Leanne para Claire, fica mais fácil montar o quebra-cabeça.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Comentário: "Fringe" (2008-2012)

Nenhuma série mexeu tanto com minha cabeça quanto "Fringe", obra de J. J. Abrams (responsável por "Lost" - sucesso que não fiz questão de acompanhar - e o bacana "Cloverfield"). Este ano já foi anunciada a quinta e última temporada dessa história que poderia muito bem ser declarada como a sucessora legítima de "Arquivo X", mas muito além dos limites das teorias de conspiração da antecessora.


Enquanto as aventuras dos agentes Fox Mulder e Danna Scully tratavam de paranormalidade e contatos imediatos de até quarto grau com envolvimento dos altos escalões do governo norte americano, "Fringe" avançou no tratamento com o realismo fantástico. As semelhanças entre as duas séries acabam ficando somente na atividade dos protagonistas: tanto neste quanto naquele, os fatos misteriosos são testemunhados e investigados por agentes do FBI - no caso, a agente Olivia Dunham (Anna Torv, que acabou me surpreendendo), auxiliada por um cientista literalmente maluco, Walter Bishop (John Noble, cujas eventuais tiradas non sense ajudam a aliviar um pouco o clima de tensão de cada episódio), e o filho deste, Peter Bishop (Joshua Jackson), inteligentíssimo mas com uma queda para a contravenção. Esse trio improvável acaba convocado para atuar na divisão Fringe do FBI (o equivalente da segunda década do século 21 aos Arquivos X da década de 1990).

Em vez de alienígenas e conspiradores, Dunham e os Bishops encaram uma teia de acontecimentos aparentemente distintos, mas que são chamados de "o Padrão" por, no final das contas, terem suas relações. Aí entra uma "ficção quase real", inspirada nos avanços da ciência e da tecnologia: teletransporte, controle mental, telecinesia, bioterrorismo, transmorfos e, principalmente, universos paralelos. Esse último elemento deixa qualquer fã de ficção científica, no mínimo, perturbado.

A trama de "Fringe" começa com um incidente ocorrido durante o voo 627, entre Hamburgo (Alemanha) e Boston, palco dos acontecimentos que irão ocorrer nos episódios seguintes. Um passageiro diabético injeta insulina em seu corpo, no entanto seu corpo começa a degenerar e, como uma praga, contamina os demais passageiros e tripulantes. Ao aterrissar graças ao piloto automático, a aeronave traz um conteúdo macabro: todos os seus ocupantes estão mortos e reduzidos a esqueletos. Chamada para investigar o caso, Olivia Dunham e seu parceiro (e amante oculto) John Scott (Mark Valley) acabam sendo levados a um depósito de contêineres, onde, em perseguição a um suspeito, John acaba sendo vítima de uma explosão. Para tentar salvar a vida do parceiro, Olivia consegue a libertação do cientista Walter Bishop, uma possível ajuda para elucidar o caso do voo 627, preso há 17 anos em um hospício após um acidente de laboratório que causou a morte de sua auxiliar. No entanto, dado o estado de confusão mental do homem, ela recorre a Peter Bishop, que vive de aplicar golpes em Bagdad, Iraque. Começa então a parceria entre os três na investigação dos fatos bizarros aparentemente ligados a uma empresa de desenvolvimento de tecnologia chamada Massive Dynamics, que vai culminar, no final da primeira temporada, com Olivia Dunham observando a cidade de Nova York do alto de uma das torres gêmeas do World Trade Center, em um universo paralelo no qual as estruturas nunca foram atingidas no Onze de Setembro.

Para quem nunca assistiu a série e gosta de tramas complexas, "Fringe" é uma boa dica. Um dos motivos do fascínio também é a química perfeita do trio de protagonistas. Eu não conhecia Anna Torv até assistir a série, assim como John Noble. A exceção fica por conta de Joshua Jackson, famoso pela série "Dawson's Creek" e filmes como "Lenda urbana", "Imagens do além" e "Segundas intenções". Agora, o rapaz encontrou um trabalho à altura de seu talento.

"Fringe" está sendo exibido pelo canal Warner Channel.

sábado, 12 de maio de 2012

Povo imundo tem a desgraça que merece

Trabalhadores da Prefeitura de Manaus retiram lixo do igarapé do bairro São Jorge
(Foto: Clovis Miranda/Semcom/PMM)

Esta semana a atenção de todos foi chamada por fotos da cheia no Amazonas, com cidades do nosso interior sendo lentamente cobertas pelas águas dos rios. Na capital amazonense, a situação não é muito diferente, guardadas as devidas proporções, mas fotografias como essa que reproduzo aqui, de autoria do repórter fotográfico Clovis Miranda, da Secretaria Municipal de Comunicação da Prefeitura de Manaus, revelam o auge de um problema que nos afeta há décadas, apesar de todos os esforços para resolvê-lo ou minimizá-lo: a falta de educação (para não dizer de civilização, mesmo) de parte da população.

No Facebook, uma colega jornalista comentou que, durante a operação de retirada do tapete de entulhos que praticamente ocultou os igarapés da cidade (principalmente garrafas pet e até mesmo eletrodomésticos velhos), vários moradores dos diversos cortiços às margens dos cursos d'água aproveitaram o trabalho dos garis para jogar seu próprio lixo na água, a fim de que fosse coletado. É a mentalidade do porcalhão preguiçoso: gosta de viver na imundície, polui tudo e não age corretamente para dar a destinação correta ao lixo que produz. Mais fácil para esse tipo de gente é sujar tudo, pois, em sua visão, há quem seja pago para fazer a limpeza pública. Só não passa por essa mente distorcida que sujeira acumulada pode ser carregada para outros lugares por animais de rua, transeuntes desastrados ou vândalos, chuva, vendavais ou veículos que trafegam na área (acidental ou propositalmente). O destino muitas vezes é o igarapé que recebe o esgoto da cidade. Os igarapés transbordam na cheia e o lixo contribui para, durante uma tempestade, afetar as estruturas dessas casas, causando seu desabamento e todas as fatalidades típicas de acontecimentos dessa natureza.

Fica difícil executar qualquer trabalho de conscientização ambiental quando nos deparamos com atitudes sem noção. As escolas podem incluir a questão nos seus currículos, as autoridades podem espalhar outdoors, caixas de coleta seletiva, espalhar folders, camisas de campanha educativa, mostrar com as tragédias quais as atitudes corretas a serem tomadas para o descarte do lixo e o respeito ao meio ambiente. Aí, a mentalidade do porcalhão acaba prevalecendo: as crianças são repreendidas pelos pais que não dão a mínima para o meio ambiente, outdoors são ignorados, caixas de coleta são destruídas por vândalos (quando não são roubadas), folders são jogados em via pública para se juntarem ao lixo acumulado, camisas viram pano de chão (ou usadas por flanelinhas para serem descartadas em via pública) e as potenciais vítimas de sua própria imundície preferem cobrar ajuda da prefeitura. Como se a administração municipal tivesse obrigação de bancar a babá dos imundos.

A equação fica de difícil resolução, pelo que se vê. E os fatores não são pessoas pobres, de baixa instrução. Se formos acompanhar friamente todos os elementos que participam dessa "Operação Sujismundo", veremos pessoas "bem nascidas", até mesmo ricas, dando sua parcela de contribuição, desde os molecotes e patricinhas que vão para a balada e jogam latas ou garrafas de bebida pela janela de seus carros até os que participam de raves e deixam o lixo acumulado a poucos metros dos lugares onde deveria ser jogado, passando pela dondoca que, do seu iate de milhares de reais, joga sacos, copos descartáveis e enlatados no rio.

A questão de respeito ao meio ambiente deixou há muito tempo de ser de classe social. Agora, com tantas campanhas de esclarecimento, com iniciativas para mudar esse quadro, o problema é de simples uso da inteligência, de QUERER ser educado. Quanto menos racional/educado se for, mais imundo você é. Quem se recusa a ser educado, merece ser arrastado pelos entulhos que joga na rua. Povo porcalhão merece a tragédia que ajudou a iniciar. A solução? Vamos radicalizar! Quando a legislação endurecer, até com prisão desses porcos, aí talvez as coisas comecem a melhorar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Comentário: "Amarga sinfonia de Auschwitz" (Playing for time, 1980)

Em uma das cenas de "Amarga sinfonia de Auschwitz", Fania Fenelon (Vanessa Redgrave) grita para as outras prisioneiras que está cansada de rótulos e é apenas um ser humano. É um dos diversos momentos de destaque desse telefilme de sucesso de 1980, baseado nas memórias de Fania Fenelon (1908-1983), judia francesa e cantora deportada para Auschwitz no início de 1944, após ser denunciada também por ser membro da Resistência durante a ocupação nazista.
Vanessa Redgrave interpreta a cantora e membro da Resistência Fania Fenelon

Ao entrar no universo de vida e morte de Auschwitz, o mais famoso campo de extermínio da Segunda Guerra Mundial, no sul da Polônia ocupada pelos nazistas, Fania passa a fazer parte da orquestra de mulheres (judias ou não) do local, que faz apresentações para seus carrascos e para os prisioneiros judeus recém chegados ao lugar e selecionados para a morte nas câmaras de gás. Os dilemas em nome da sobrevivência são muitos. Alma Rosé (Jane Alexander), a regente da orquestra, é uma mulher judia rigorosa com as companheiras a ponto de parecer em alguns momentos estar alheia à carnificina diária promovida pelos nazistas, e com quem eventualmente Fania tem diálogos duros sobre suas ações. Transportada juntamente com Fania para o campo, Marianne (Melanie Mayron) também entra para o grupo, mas recorre à prostituição para obter comida. Por se considerar meio judia pelo fato de sua mãe ser católica, Marianne dá-se o direito de usar meia estrela de Davi em sua roupa, como se fosse uma garantia ainda que insuficiente de sobrevivência, pelo que é criticada pelas demais prisioneiras.
Jane Alexander como Alma Rosé

O filme revela uma atmosfera meio que surreal do campo de Auschwitz, célebre pelas altas cifras de mortes de judeus, ciganos, opositores do regime nazista, homossexuais e outras minorias perseguidas. A líder do campo Maria Mandel (Shirley Knight, que apareceu recentemente como Phyllis, a sogra de Bree Van De Kamp, personagem de Marcia Cross em "Desperate housewives") é uma carrasca brutal que espanca os prisioneiros e toma para si o filho pequeno de uma judia condenada à câmara de gás. No entanto, é uma mulher que pessoalmente procura um par de sapatos que sirva para a recém chegada Fania, colocando-os em seus pés, e não esconde sua dor ao ser obrigada a entregar à morte o menino que tirara da mãe prisioneira. O dr. Mengele (Max Wright, conhecido pelo papel de William Tanner na telessérie da década de 1980, "Alf, o E.Teimoso") revela sentimentos de compaixão e amor, a despeito de o personagem real historicamente ser conhecido pelas experiências bárbaras realizadas em Auschwitz e também responsável pelas seleções para o extermínio. Sobressaindo-se a esse lado humanizado da figura do carrasco, seu caráter evidenciado pela História volta a surgir, ao determinar que a orquestra feminina ensaie uma apresentação musical para um grupo de prisioneiros formado por doentes mentais sob o pretexto de estudar as suas reações à música. Logo depois, todas as pessoas seriam executadas nas câmaras de gás.
Shirley Knight como Maria Mandel

É nessa luta pela sobrevivência que conflitos morais são colocados em evidência pelas prisioneiras em sua luta diária para terem suas vidas poupadas. Há momentos de grande esperança: em uma das cenas, um dos prisioneiros judeus aproxima-se de Fania e lhe mostra a palma da mão, onde está escrito "Os aliados desembarcaram na Normandia"; em outra, as prisioneiras comemoram a fuga de uma judia influente, Mala, interpretada por Maud Adams, de "007 contra Octopussy", crentes de que ela e seu amante Edek (Lee J. Nelson) poderiam revelar ao mundo as barbáries de Auschwitz. No entanto, tais esperanças logo são destruídas: aviões que sobrevoam a região são abatidos pela artilharia antiaérea nazista, e Mala e Edek são recapturados e enforcados em frente ao barracão das prisioneiras. O pesadelo se arrasta até a morte de Alma Rosé, envenenada por uma guarda nazista que preferiu matá-la a deixá-la sair de Auschwitz para o front onde cantaria para soldados alemães (pela afronta aos superiores, a guarda foi fuzilada). Única garantia de vida para todas as mulheres da orquestra, sua perda significava incerteza para o grupo, que passa a ter sua liderança disputada entre Fania e a polonesa Olga (Christine Baranski, que apareceu como mãe do nerd Sheldon em "The Big Bang Theory"). Parte das mulheres sobreviveu até o dia da libertação.
O elenco da orquestra de Auschwitz

Na história real de Fania Fenelon, Auschwitz foi evacuado com a aproximação dos aliados e as prisioneiras foram levadas a Bergen Belsen, onde a libertação chegaria em abril de 1945. Das cerca de 80 componentes do grupo, 47 sobreviveram ao Holocausto. Maria Mendel foi presa, condenada por crimes contra a humanidade e executada em Cracóvia, Polônia, em 1948. Fania escreveu suas memórias e morreu de câncer em Paris, em 1983. Sua história não é somente um retrato da brutalidade das perseguições na Europa nazista representada por Auschwitz e seu duro leque de dilemas, mas também de esperança e luta.


Onde baixar: Filmes Cult

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...