domingo, 30 de setembro de 2012

Jericoacoara, uma aventura para os fortes!

Manhã em Jericoacoara

A vila de Jericoacoara, no município de Jijoca, a aproximadamente 330 quilômetros de Fortaleza, possui algumas das mais belas praias do Nordeste e do mundo. Com apenas cinco ruas (Principal, São Francisco, do Forró, das Dunas e da Igreja), todas de areia, sem nenhum asfaltamento, cortadas por diversos becos, esse lugar pitoresco, de clima agradável e tranquilo, é cercado por dunas e formações rochosas litorâneas fantásticas, das quais se destaca a Pedra Furada, de deixar a pessoa sem fôlego (literalmente, pois do ponto de parada dos bugues a caminhada é bem longa).

Subindo a Duna do Por do Sol

Anoitecer em Jericoacoara

Baixa da maré

Rua Principal de Jericoacoara

Noite iluminada
Para chegar a esse paraíso cujo potencial turístico foi descoberto na década de 1970, a aventura não é para os fracos. A viagem de Fortaleza para Jijoca, em ônibus de luxo, leva cerca de quatro horas e meia. Dali para a vila de Jericoacoara leva mais uma hora e 15 minutos, aproximadamente, em uma jardineira (um tipo de pau de arara mais arrumado, porém nada confortável). Pela empresa Fretcar, que oferece essa rota direta, a passagem custa R$ 58 (valor de setembro/2012) por trecho (R$ 35,10 de Fortaleza para Jijoca e R$ 22,90 para sacolejar de Jijoca para Jericoacoara), com saída da rodoviária da capital cearense no bairro de Fátima, com passagens pelo aeroporto e pela avenida Beira Mar para pegar os turistas que compraram pacotes.

A rodovia CE-085, por onde vai o ônibus para Jijoca, está em muito bom estado de conservação, garantindo assim uma viagem tranquila. O transfer para a jardineira acontece imediatamente após a chegada do veículo a Jijoca. Dali em diante, é só aventura. O transporte passa por várias rotas de areia, corta a vila de Preá, onde há uma praia belíssima e de ondas fortes, e finalmente segue por várias dunas até chegar a Jericoacoara. Nesse caminho, é preciso aguentar os sacolejos e a areia levada pelo forte vento, que chega até a doer um pouco na pele. Mas a visão do paraíso compensa tanto sacrifício.

Orla de Jericoacoara
Chegando a Jericoacoara, ou Jerico, como chamamos para não enrolarmos tanto a língua, procurar hospedagem não é problema, pois pousada é o que não falta. As mais simples cobram diária de R$ 70 em quarto duplo, com direito a café da manhã, wi-fi grátis e televisão. Não foi nosso caso, pois ficamos sem a TV, o chuveiro tinha a água bem fraquinha (se usasse a descarga, então, era preciso esperar a caixa encher, sob pena de tomar banho sob gotículas) e o único ventilador não girava (as duas camas ficavam em lados opostos do quarto). Uma das camas estava com a grade quebrada e havia rachaduras no chão, provocadas com certeza pelo desmoronamento lento do solo onde foi construída a pousada. Mas, tudo bem. O negócio era aventurar, não “luxar”, e seriam somente dois dias.

Em Jerico há muitos restaurantes, mas é bom sempre pesquisar os lugares mais vantajosos, financeiramente falando. Só para se ter uma ideia, o restaurante onde almoçamos logo na chegada (chegamos com atraso de uma hora por conta do engarrafamento na saída da rodoviária de Fortaleza para o aeroporto e de lá para a avenida Beira Mar para apanhar turistas), um prato com 100 gramas de carne de sol custava R$ 12,90. Isso o mais barato. Para duas pessoas, havia restaurante cobrando R$ 56 a carne de sol, mas achamos o restaurante Marisol, na rua do Forró, onde a mesma refeição saiu a R$ 35, bem servida e deliciosa. Ali também funciona uma pousada que cobra R$ 80 a diária do apartamento duplo com ar condicionado (tivéssemos achado esse antes...). Não tinha o charme rústico daquela que escolhemos, mas era bem mais arrumadinha e confortável.

Vamos aos atrativos! De qualquer das cinco ruas da vila se chega à Duna do Por do Sol, à praia principal e à praia da Malhada. Nesta última há formações rochosas dignas de registro fotográfico, e por sua longa extensão é que se pode chegar à Pedra Furada (outra opção é subir o morro da cidade, numa caminhada que leva de 20 a 30 minutos, com muita disposição para aguentar o sol forte).

A Duna do Por do Sol é o local onde as pessoas se reúnem para admirar e registrar o início da noite. O vento lá em cima é forte e faz a areia doer um pouco no corpo, então é aconselhável proteger os olhos, principalmente, e ter cuidado com chapéus, pois, uma vez arrastados, dificilmente serão recuperados (o mesmo vale para dinheiro e objetos leves). Soubemos por um dos bugueiros que nos levou a um passeio no dia seguinte que a duna está condenada ao desaparecimento. Com o crescimento da vila e novas construções, a areia trazida de outras praias pelo vento, “alimentando” a duna, teve seu trajeto interrompido, então toda aquela areia que o visitante sente atingir seu corpo lá em cima é da própria duna, sendo levada para o mar. Para acelerar esse processo, visitantes sem noção alguma de preservação descem a encosta frontal da duna, levando mais areia consigo para a praia (em Natal, esse tipo de atitude levou à interdição do Morro do Careca, na praia de Ponta Negra, para evitar que a areia fosse levada para o mar, fazendo gradualmente desaparecer esse cartão postal do Rio Grande do Norte. Tal atitude deveria ser tomada em Jerico, pelo menos para evitar descidas pela frente da duna).

Por do sol
A praia principal é usada também como lugar de prática de esportes e festas diversas. As ondas são fracas graças à força do vento que sopra a partir da terra, o que torna o banho mais agradável e seguro para aqueles que não gostam de ondas fortes. Logo depois, em direção leste, fica a praia da Malhada, onde há muitas pedras, exigindo cuidado na escolha de onde parar para tomar banho. 

Árvore da preguiça
Esse foi nosso primeiro dia em Jerico, onde chegamos na tarde de 27 de setembro. No dia seguinte, conseguimos um passeio de bugue (ou buggy) para o litoral leste (tem também para o litoral oeste, onde há as dunas móveis, mas pelo tempo e pelos recursos financeiros escolhemos o outro). Negociamos para o bugueiro passar pela Pedra Furada (há outra rota para esse destino): mais R$ 10 por pessoa e pronto! Em geral cobram R$ 40 por passageiro na baixa estação. É bom procurar alguém credenciado à Associação dos Bugueiros de Jericoacoara, por segurança.

Para chegar à Pedra Furada o bugueiro nos deixou numa certa parte da praia. Devido às formações rochosas, o resto do trajeto é feito por caminhada de uns 30 minutos de duração. Vale a pena andar tanto, pois dá para se refrescar nas pequenas piscinas que surgem na praia com a maré baixa, e no trajeto nos admiramos com as esculturas naturais na areia.

Pedra Furada
Depois da Pedra Furada, começou a aventura para os fortes: praia de Preá, passando antes pela árvore da preguiça, entortada pela força dos ventos, a caminho da Lagoa Azul. Ali é outro espetáculo: águas bem azuis e rasas. Na outra margem fica um restaurante onde há redes armadas dentro da água e um trampolim. Dá para atravessar o lago a pé, mas não é indicado levar objetos, pois há desníveis no fundo que podem fazer a pessoa cair e derrubar tudo na água. Melhor ir sem nada ou de jangada (o jangadeiro cobra R$ 2,50, mas é bom dar dinheiro certinho porque o espertalhão nunca tem troco e ganha a mais nas costas dos turistas).
Lagoa Azul
Depois da Lagoa Azul fica a Lagoa do Paraíso, igualmente linda e de águas azuis, mas com a diferença de que há formação de pequenas ondas por conta dos ventos fortes e uma tirolesa, além de passeios de jangada. Um único restaurante explora o lugar, por isso ou você fica sem comer ou desembolsa no mínimo R$ 45 por uma cavala para duas pessoas (mas é uma delícia, então vale a pena). Foi o ponto final do passeio, onde almoçamos e voltamos para Jerico cortando dunas e mais dunas, admirando a beleza natural do lugar. Depois de um passeio de bugue, com tantos sacolejos, difícil alguém ficar inteiro, mas geme de dor com o maior prazer.

Lagoa do Paraíso
A noite em Jerico é agradável. Não há postes de iluminação pública, o que dá aquele ar primitivo delicioso. Os restaurantes sempre estão cheios, a praça da rua Principal fica cheia de crianças e jovens, dá para passear com segurança pela praia (desde que não se vá a lugares muito ermos). A dica para quem não quer pagar outra fortuna como no almoço é procurar as barraquinhas e carrinhos de venda de comida, onde um bom prato individual (e muito gostoso) pode sair por R$ 5. Melhor que os R$ 56 de carne de sol (fora 10% da taxa de serviço) ou os R$ 8 dos pratos executivos de restaurante (fora os mesmos 10% de taxa). O vento afugenta o calor e o gostoso é deitar e olhar para as nuvens passando pela lua, dando a impressão de que nosso satélite está correndo nos céus.

Vista a partir da Duna do Por do Sol
 Voltamos para Fortaleza no sábado, 29, na jardineira das 15h, que nos deixou em Jijoca para transferência ao ônibus de luxo. Se tivéssemos mais algum dinheiro, teríamos curtido o litoral oeste, mas fica para um futuro retorno, talvez com o tão falado aeroporto em construção nas proximidades. Por um lado, se tal terminal aeroviário realmente sair do papel, vai facilitar mais o acesso, mas por outro, vai contribuir para o fim do sossego naquele paraíso, já quebrado por bagunceiros e oportunistas.

Duna do Por do Sol


Rota dos bugues


Lagoa do Paraíso
Então, essa experiência em Jericoacoara nos serviu para mostrar que, não se querendo luxo demais e tendo espírito de aventura, é possível curtir bastante sem gastar uma fortuna. A dica é apanhar o ônibus na rodoviária de Fortaleza (saem em dois horários diários: às 8h e às 15h), procurar pousada tão logo se chegue em Jerico (é bom pesquisar na internet e telefonar para saber. Um funcionário da pousada e restaurante Marisol informou que, pelas agências, a diária de R$ 80 pula para R$ 120, só para se ter ideia) e, se quiser evitar fuzarca e desordem de gente que bebe para cair e criar confusão, nunca ir em finais de semana (o ideal é ir numa quarta ou quinta-feira para voltar no sábado).

Outra dica valiosa: como em Jerico não existe agência bancária, leve o máximo de dinheiro possível para pequenas despesas (comprar refrigerante, água de coco e afins). Boa parte do comércio local aceita cartões de crédito e débito.

Por tudo isso, Jericoacoara é uma aventura inesquecível!!!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

De Icaraí a Cumbuco

Na região metropolitana de Fortaleza, Caucaia é um município que ganhou destaque por ser um dos lugares que teve maior geração de empregos no Ceará, informação essa colocada em outdoors ao longo das estradas que levam à sede municipal. Também possui um litoral que reúne três belas praias, uma ao lado da outra: Icaraí, Tabuba, onde há o lago do rio Barra Nova, e Cumbuco.

Para qualquer das três praias, basta pegar o ônibus intermunicipal na avenida Duque de Caxias, Centro de Fortaleza, logo após o cruzamento com a Avenida do Imperador. O valor da passagem, dependendo da linha e do destino final, varia de R$ 2,50 a R$ 3,70 (valores de setembro/2012), em uma viagem que dura em média 40 minutos. O turista mais resistente pode fazer uma caminhada de Icaraí até Cumbuco pelo litoral.

Icaraí

Icaraí


Chegando a Barra Nova
 A primeira parada é Icaraí. Descendo na avenida Central nesse distrito, basta pegar qualquer rua perpendicular para sair na praia. Uma parte dela não é adequada para banho, não por poluição ou algo parecido, mas pela força das ondas, que arrastam muitas pedras. Ao longo desse trecho foi feito um muro de contenção e é bacana observar as ondas arrebentando contra a estrutura na maré alta. Passado o muro, é possível entrar no mar, mas todo cuidado é pouco com as pedrinhas e conchas, que no repuxo da onda podem até machucar os pés. Mas não é difícil achar um local melhor para banho.

Logo após Icaraí chegamos à praia de Tabuba, demarcada pelo rio Barra Nova, onde se forma um lago represado pelo oceano, totalmente raso e palco da prática de kitesurf. Aliás, essa atividade dá um colorido especial ao litoral cearense e é praticada muito mais em Cumbuco em razão de essa praia ter poucas ondas mas vento bastante forte, favorecendo as manobras radicais e espetaculares dos kitesurfistas.
Tabuba

Tabuba

Tabuba

A força da natureza em Tabuba

Tabuba

Barra Nova
Logo após o rio Barra Nova, onde há o restaurante Rei do Caranguejo, a extensão de Tabuba impressiona pelas evidências da força das marés que vão erodindo as dunas. Ao longo da praia podemos ver esses efeitos: palmeiras presas somente pelas raízes, outras tombadas e cobertas pela areia, pedaços de calças e imóveis que desabaram pela ação da natureza.

Ainda em Tabuba, é preciso tomar cuidado com as pedras que ficam encobertas na maré alta. Enquanto o nível do mar está baixo, é possível fazer um cantinho para reunir os amigos e família e curtir banho de mar.
Cumbuco

Cumbuco

Cumbuco

Cumbuco

Cumbuco
Finalmente, após a longa enseada deserta, chega-se a Cumbuco, facilmente identificável pelas jangadas e pela grande presença de kitesurfistas. Ali há mais restaurantes para os visitantes, algo que se vê em menor número em Icaraí e Tabuba. Também é possível conseguir um passeio de bugue até uma série distante de dunas. Nesta época, é possível conseguir passeio até R$ 100 por grupo, montar cavalos e passear de jangada por um custo médio de R$ 10 por pessoa. Na hora do almoço, o bom é pesquisas preços. Conseguimos uma carne de sol bem servida para duas pessoas por R$ 30. Em outro ponto, o mesmo prato custava R$ 38.

De qualquer das praias é possível voltar a Fortaleza indo para a avenida paralela às praias. A dica é voltar pelos microônibus (ou, como chama aqui, vans), cuja passagem é mais barata que a do ônibus de linha convencional e a viagem é bem mais rápida.

O que há de se lamentar ainda é a falta de conscientização dos visitantes. Ao longo das três praias encontramos garrafas plásticas, copos, embalagens, garrafas quebradas (principalmente nas pequenas dunas) e até mesmo preservativos. Falta de consideração com uma natureza que nos dá tanto para apreciar em troca apenas de respeito.

sábado, 15 de setembro de 2012

As belezas de Lagoinha

Lagoinha
Para chegarmos a Lagoinha, precisamos embarcar na rodoviária de Fortaleza, no bairro de Fátima, com destino a Paraipaba, onde fica a praia, em uma viagem de duas horas, passando ainda por Caucaia e São Gonçalo do Amarante. A viagem é tranquila (as rodovias cearenses, pelo menos na região metropolitana de Fortaleza, são muito boas), feita pela empresa Fretcar, com ônibus-leito confortáveis. Valor da passagem: R$ 8,45 (há ainda uma taxa de embarque paga somente na ida).

Outro ângulo da praia

Chegando a Paraipaba, é preciso ainda pegar um lotação (cujo valor vaira de R$ 3 a R$ 5 por pessoa, dependendo da negociação) para ir a Lagoinha, 12 quilômetros adiante. A vila é bonita e tranquila, com ruas de pedra, ventiladíssima. Descemos uma escada de acesso à praia e já somos brindados com uma visão fantástica do litoral. 
Antes da maré alta

Há muitas barracas na praia, com bons preços. Uma carne de sol (aliás, eles escrevem por aqui "carne DO sol") para duas pessoas na barraca do Dudé, onde ficamos, saiu por R$ 30 (na Praia do Futuro o menor valor que achamos foi R$ 34,90, e não foi tão bem servida quanto a de Lagoinha). Jangadas e palmeiras ajudam a compor o belo cenário do local, mas o vento forte é igualmente marcante. A areia é arrastada pela corrente de ar e chega até a doer no corpo, então como dicas posso dizer que o ideal é caminhar mais perto do mar, onde a areia é úmida, e almoçar dentro dos restaurantes, e não nas mesas com guarda sol. Também é preciso muito cuidado com chapéus, bonés e até mesmo ao tirar o dinheiro da carteira, pois o vento é impiedoso e o que mais se vê pela praia são pessoas correndo atrás de seus adereços (dizem por aqui que é possível até achar dinheiro levado pelo vento, preso na vegetação da praia).

Lagoinha me encantou. Mas, como em Morro Branco, há o problema da falta de conscientização: garrafas plásticas, sacos, embalagens de salgadinhos e sorvetes são somente algumas das porcarias deixadas por turistas ou moradores locais. Não fosse por esse triste detalhe, que poderia ser combatido com ação dos próprios comerciantes do local, esse paraíso seria totalmente perfeito!

O paraíso de Morro Branco


Praia de Morro Branco

Morro Branco fica em Beberibe, a cerca de duas horas de Fortaleza, tempo esse de viagem de ônibus que sai do terminal da empresa São Benedito, na avenida Domingos Olímpio, Centro da capital cearense, passa por Aquiraz e Cascavel até chegar ao seu destino final. Este mês, a passagem está custando R$ 8,50. Há uma razão especial por eu ter me apaixonado por esse lugar: a tranquilidade.

A vila de Morro Branco tem ruas de pedras. O asfalto existe somente na estrada de acesso que termina na praia. Ali existem duas praias, aliás: a de Morro Branco, propriamente dita, onde ficam os restaurantes, e a Praia das Fontes, ao lado, mais extensa e ideal para caminhadas, pois em sua extensão há fontes de águas naturais (daí o nome) em que se pode aliviar o calor (além, claro da água do mar). Há ainda a opção dos bugues, mas particularmente o contato direto com a areia é mais revigorante (e econômico, pois o olho dos caras cresce demais)!

Praia das Fontes
Mas há outro fator que torna Morro Branco tão especial: as falésias de Beberibe, esculpidas pela natureza e de onde os moradores locais retiram as areias coloridas para fazer artesanato (como aquelas garrafinhas com lindos desenhos em areia). É um parque grande, repleto de labirintos que chegam à Praia das Fontes e com o ponto alto em um farol, onde se chega com muito fôlego para subir as trilhas.
Parque das Falésias

Pelo menos enquanto estive lá (e foram duas vezes), não há baladas e agitos. A vila é pacata, daquelas em que se dorme cedo ouvindo o barulho das ondas quebrando na praia, ou se conversa até altas horas da noite nas calçadas ou na pracinha próxima à central de artesanato, com uma vista maravilhosa do litoral. Legal mesmo deve ser a reunião na Praça da Mentira, onde se encontram pescadores e outros contadores de história. E o vento que vem do mar? Não é necessário ventilador ou ar condicionado.

Há pousadas para todos os gostos em Morro Branco, mas tanto em 2011 quanto agora, fiquei na Pousada Brasília, com preço mais em conta (R$ 80 para suíte dupla com televisão, frigobar e café da manhã) e bem simples, mas nem por isso menos aconchegante. O lugar pertence à dona Mazinha, brasiliense que o administra há décadas com seu filho.

Nem tudo é perfeito, porém. Nas proximidades da praia, há muito lixo jogado - principalmente garrafas plásticas, copos descartáveis e embalagens de comida. Na escada de acesso ao litoral, vemos muitos sacos plásticos jogados na vegetação. Em parte, eles são arrastados pelo vento. E olhem que as barracas na praia possuem lixeiras.

Não exagero quando digo que Morro Branco é como a Santana do Agreste criada por Jorge Amado: um bom lugar para esperar a morte... E muito feliz!


domingo, 2 de setembro de 2012

Minha vida de editor: um homem chamado Tábata

Em 2007, eu era editor do caderno de Cidades no Amazonas em Tempo e uma das minhas repórteres era a Michele Gouvêa, hoje chefe de reportagem do jornal. Nós dois passamos por um estresse que agora rende boas risadas, mas na época o negócio não foi nada engraçado.

Recebi uma ligação da portaria do jornal, avisando que uma pessoa chamada Tábata queria fazer uma denúncia. Michele foi escalada para captar a história. A surpresa foi que Tábata, na verdade, era o "nome de guerra" de um rapaz (vamos chamá-lo de Roberto) que estava denunciando atitudes preconceituosas contra sua pessoa em uma secretaria municipal, onde trabalhava. Ele(a) dizia que estava sendo perseguido(a) e ameaçado(a) de demissão por causa de sua orientação sexual. Coisa muito grave, mesmo!

Fizemos tudo como manda o figurino. A Márcia Daniella, que era assessora da secretaria denunciada naquela época, nos deu a resposta: Tábata era alvo de reclamações do público porque estaria tratando as pessoas com arrogância, e por isso lhe foi chamada a atenção diversas vezes, sem nenhum tipo de discriminação gerada por sua orientação sexual. Ouvidos os dois lados, Michele fez a matéria, editei e publiquei.

No dia em que a matéria saiu, Tábata/Roberto ligou e pediu para falar com Michele. Essa repórter é a coisa mais doce que já conheci, que nem a Rúbia Balbi nos tempos do Estadão, mas vi a garota "pirar o cabeção" e discutir com Tábata/Roberto. Ela me disse que a criatura havia reclamado da matéria, que queria fazer outra reportagem para ser manchete. Óbvio que isso não aconteceu.

Mas a coisa não parou por aí. Depois eu fui a bola da vez. Tábata/Roberto ligou e pediu para falar comigo.

- Olha, seu César. Estou ligando só para dizer que minha manchete vai sair no jornal A Crítica, porque o Amazonas em Tempo mentiu. E também estou querendo só te avisar que vou processar o jornal por causa dessa matéria. (só faltou dizer "quero que Deus ilumine cada canto dos teus 'caminhu'")

- Tudo bem, seu Roberto (eu não conseguia usar o nome "Tábata"). Faça o que achar que lhe é de direito - eu respondi, praticamente mastigando meus próprios dentes.

Dito isso, bati o telefone, fulo da vida. Praguejei até não aguentar mais. Michele veio ver o que acontecia e contei do abuso. Como havíamos constatado, tal pessoa não tinha o juizo perfeito.

Claro que ele(a) nunca processou o jornal. Acho até que nem o jornal A Crítica publicou alguma coisa. Eu lembro que liguei para lá e falei com alguém (acho que o Paulo André Nunes ou o Saulo Borges), avisando o que acontecera, para preveni-los caso Tábata/Roberto realmente os procurasse para atacar o jornal  Hoje o episódio só é lembrado quando eu encontro a Michele e apenas digo isso:

- Quem quer falar contigo é a Tábata!

Vamos rir para não chorar!


Minha vida de repórter: os abusados e os arrogantes

De vez em quando, na vida de repórter, você dá de cara com alguém abusado, daqueles que gostam de perguntar "sabe com quem está falando?" ou se acham com o direito de meter o bedelho em assuntos fora de seu domínio. Encarei vários assim, mas em nome da boa relação tive que engolir "sapos".

Ainda no Jornal do Norte, já não tão foca, tive esse tipo de experiência com Nelson Ned, aquele cantor nanico que, para recuperar sua carreira decadente, virou evangélico e passou a renegar o passado de luxúria. Só se esqueceu de que arrogância também é pecado. Fui escalado para cobrir duas apresentações naquela noite de 1996, e uma delas era a desse cidadão. No entanto, comecei pelo outro show, programado para iniciar mais cedo. Acontece que demorou demais e, quando nossa equipe chegou ao Nostalgia Clube, no bairro Cachoeirinha, zona sul de Manaus, local de apresentação de Nelson Ned, ele já estava terminando seu falatório. O jeito era esperar. Quando acabou tudo e ele saiu do palco, fomos ao seu camarim para conversar. Cumprimentei-o educadamente. O objetivo da matéria, expliquei, era mostrar como o novo modo de vida havia modificado o cantor. Ele simplesmente, do seu metro e parcos centímetros de altura, somente me olhou e disse:

- Não vou falar nada. Contei tudo em minha apresentação.

Tentei argumentar, pedi desculpas pelo atraso por causa da pauta anterior, mas não teve jeito. Aquele boneco de ventríloquo afirmou que não iria repetir tudo e ponto final. Tive vontade de mandá-lo pegar toda aquela arrogância e socar naquele lugar onde o sol não bate, mas suspirei, chamei o fotógrafo e demos meia volta. Gastar meu verbo com esse tipo de gente? Não, obrigado. E o desgraçado ainda falou (eu não ouvi. O Rodrigo Pacheco Araújo, que acompanhou nossa equipe naquela noite, ouviu e me contou depois), quando cruzamos a porta do camarim:

- Que cara folgado!

Essa atitude arrogante mereceu uma nota de escracho na edição seguinte do jornal. Por onde anda esse sujeito hoje, não sei nem quero saber. Já não era grande coisa, sem trocadilhos, talvez agora não seja nada.

Outro caso de que me lembro aconteceu no jornal Amazonas em Tempo, por volta de 2001. O editor me passou uma pauta no bom estilo drama humano: um radialista (faz tempo, então esqueci seu nome) estava passando por necessidades, sem trabalho e doente, então fomos lá falar com o homem. Ele deveria ter uns 50 e poucos anos e sua pele era completamente amarela. Usava óculos escuros porque tinha fotofobia. Morava em uma casa inacabada de tijolos em um bairro da periferia de Manaus. Por causa da hepatite, seu fígado estava praticamente destruído. Não conseguia mais trabalho devido ao seu estado. Situação terrível, mesmo.

Escrevi a matéria, saiu no dia seguinte. Qual não foi minha surpresa ao receber uma ligação do referido cidadão. Reproduzo suas exatas palavras:

- Olha, César. A matéria ficou legal, mas se fosse paga, eu teria que pagar de novo, porque tu não colocou o número da minha conta para o pessoal depositar dinheiro.

Fiquei boquiaberto. Em nenhum momento da entrevista ele falou de conta, de campanha para ajuda nem nada disso. Ao espanto seguiu-se a irritação. Como no caso do Nelson Ned, por pouco não disse ao cidadão o que deveria fazer com a sua conta bancária. Ele teve que se contentar com o que havia sido publicado. A essa altura do campeonato, deve ter morrido.

E assim nossa vida nada fácil vai seguindo. Não foram os primeiros arrogantes e abusados a cruzarem os caminhos dos jornalistas, e provavelmente não serão os últimos. Haja paciência, então!

Minha vida de foca: os Mamonas Assassinas

Cobrir shows para o caderno Radar era uma das minhas pautas frequentes no Jornal do Norte. Em janeiro de 1996, lá fui eu cobrir o show dos Mamonas Assassinas no Studio 5. Eu não gostava do estilo do grupo, apesar das letras engraçadas e tolas. Continuo não gostando até hoje. Mas eles eram notícia, estouravam nas rádios, o sucesso era estrondoso e não havia como negar isso.

Esse trabalho de cobertura é legal, mesmo sendo de um estilo musical que não lhe agrada (mas depois de um tempo fica enfadonho, portanto deduzi que não era o tipo de pauta que me animava). Fui ao Studio 5 com a repórter fotográfica Ana Cláudia Jatahy. Gente saindo pelo ladrão, principalmente crianças, o público que os cinco rapazes do Mamonas Assassinas mais atraia. Entrevistei algumas, vi uma parte do show, observei o comportamento do público, a organização, a produção e a interatividade de Dinho e seus amigos com a plateia.

O show fora numa sexta-feira ou sábado, não lembro bem. No dia seguinte, fui ao jornal escrever a matéria. Não pude deixar de usar sarcasmo (contido, claro) para contar como fora a apresentação. Letras sem pé nem cabeça, tolas até, mas que encantavam aquela garotada. Fazer o quê? Pensando bem, ainda eram melhores que essas porcarias que fazem sucesso agora. Os Mamonas Assassinas faziam música para divertir. Não existe mais isso hoje.

O tempo passou. Quase dois meses depois, chego em um domingo para o plantão no jornal e a editora Tania Celidonio me recebe com a bomba: na noite anterior, o avião com os cinco integrantes dos Mamonas Assassinas caira na serra da Cantareira, em São Paulo, quando voltavam de sua apresentação em Brasília. Curioso como eu fizera a matéria do show e agora fora escalado para fazer um retrospecto da carreira meteórica do grupo até o acidente. E lá fui eu, com o amigo Ricardo Nixon, ouvir algumas pessoas para aquele velho feijão-com-arroz que se segue à morte de alguma celebridade e pesquisar toda a sua história. A novidade é que nós regionalizamos o impacto do desaparecimento prematuro dos jovens artistas, em vez de somente reproduzir matérias de agências.

Foi uma comoção muito grande. Em tom de brincadeira, muitos colegas falaram que eu estava sendo castigado por ter detonado (exagero, claro, pois nunca tive intenção de bancar o crítico) a apresentação do grupo (pior ainda foi o show de Maurício Mattar no mesmo Studio 5, que reuniu pouco mais de 20 mulheres, em um dos maiores fiascos que já testemunhei. Mesmo assim, o cara foi uma simpatia com aquele minúsculo fã-clube). O que importava, entretanto, era o encanto que aqueles cinco rapazes bobos levaram àquela geração. Vendo tanta porcaria que faz sucesso hoje, devo confessar que éramos felizes, mas não sabíamos. Aí é para lamentar realmente a perda daqueles jovens talentos.

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...