domingo, 14 de julho de 2013

Comentário: "Carrie, a estranha" (Carrie, 1976)

Uma brincadeira que termina em um verdadeiro banho de sangue em "Carrie"

Em uma época em que a criatividade anda em baixa e a indústria cinematográfica investe pesado nos remakes, os fãs do escritor Stephen King aguardam a nova versão de “Carrie, a estranha”, primeiro livro do rei da literatura de horror norte-americana e também o pioneiro em suas adaptações para as telas. Enquanto o filme dirigido por Kimberly Peirce não estreia por aqui – a previsão é final de novembro deste ano -, vale a pena revisitar a primeira adaptação dirigida por Brian De Palma em 1976 (dois anos após o lançamento do livro).

Carrie White, interpretada por Sissy Spaceck (então com quase 30 anos, mas perfeita como uma adolescente de 14), é uma estudante que sofre bullying em sua escola e é dominada pela mãe, a fanática religiosa Margareth White (Piper Laurie). Solitária e introvertida, a garota descobre ser telecinética – capaz de mover objetos com a força da mente. E isso ocorre de uma forma brutal: quando ela tem sua primeira menstruação, durante o banho na escola após a aula de educação física. Desconhecendo a origem do sangue – uma ignorância forçada pela mãe, para quem tudo relacionado à sexualidade era pecaminoso -, a jovem pensa estar morrendo e é ridicularizada pelas colegas, que lhe atiram absorventes higiênicos e gritam obscenidades. Em meio a essa situação, uma lâmpada explode: é o primeiro sinal de poderes que se externam após um grande trauma.

O episódio do banheiro aproxima Carrie da professora de educação física, senhorita Collins (Betty Buckley), que se compadece da ignorância da garota, lhe faz ganhar a simpatia da colega Sue Snell (Amy Irving) e a inimizade da estudante Chris Hargensen (Nancy Allen), que recebe, juntamente com as outras alunas agressoras, uma punição pela brincadeira de mau gosto. A chegada da menstruação de Carrie será, para Margareth White, a confirmação do que ela chama de “maldição do sangue”. Mas caberá a Chris Hargensen, com cumplicidade do namorado Billy Nolan (John Travolta), o papel de mentora da humilhação para Carrie no baile de formatura da escola, quando os poderes da garota serão usados em uma vingança sangrenta.

Carrie em duas versões: Sissy Spaceck e Chlöe Moretz
 Os méritos do filme de De Palma nunca foram superados. Dono de um apuro técnico em seus filmes, ele criou sequências antológicas na versão de 1976, não repetidas nem na versão para a televisão, de 2002 (exibida eventualmente pelo SBT), ou na continuação de 1999, “A maldição de Carrie” (The rage: Carrie 2). O desenrolar de cenas tensas em câmera lenta, as diversas simbologias que aparecem ao longo do filme (como a cruz branca no asfalto em frente à casa de Carrie) e, sobretudo, o uso do split screen (tela dividida) na sequência do baile dificilmente terão páreo. Mesmo com Chloë Grace Moretz no papel-título e Julianne Moore como Margareth White, a nova versão só deve primar – se seguir a tendência de outros remakes – pelos efeitos especiais mais realistas, sobretudo porque, como os trailers divulgados já revelaram, o novo filme será mais fiel ao livro que a versão de De Palma. Na película original, a destruição se limita ao ginásio da escola. Na obra de King, assim como na versão de 2002 (que manteve a narrativa fragmentada do livro) e na de Peirce, a fúria de Carrie também se abate sobre a cidade de Chamberlain, onde se passa a história. Vem chumbo grosso por aí. Ou não.

(Publicado no caderno Plateia, jornal Amazonas em Tempo, junho/2013)

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