sábado, 25 de agosto de 2012

Minha vida de repórter: os cães do diabo

Foi em 1999. O Jornal do Norte havia fechado as portas alguns anos antes, mas eu já havia saído de lá no final de 1996, em uma das primeiras demissões em massa que marcaram a derrocada de um veículo que trouxera a proposta de inovar, mas que em razão da péssima administração, foi para o buraco. Eu estava somente trabalhando na assessoria de imprensa da Universidade Federal do Amazonas (onde fiquei até pedir exoneração em 2004) e eventualmente me metendo em algum projeto novo de jornais (até que parei, cansado de levar calote) e freelas, quando o meu amigo Ricardo Nixon me chamou para um teste como repórter de Cidades no jornal Amazonas em Tempo (a primeira de várias idas e vindas nesse jornal que marcou muito minha vida profissional).

O editor de Cidades era o jornalista Augusto Banega, meu amigo até hoje e que fez parte do time de profissionais que me fizeram crescer profissionalmente. E foi assim que cheguei ao Amazonas em Tempo para um teste. E já comecei pagando mais um mico. Já não era mais foca, era um repórter "praticante", por assim dizer.

A pauta não poderia ser mais bizarra: uma senhora no conjunto Dom Pedro II estava sendo denunciada pelos vizinhos por criar pelo menos uns 15 cachorros em sua residência. Nada contra quem ama os bichinhos (eu os adoro também), mas o problema apontado pela vizinhança era a falta de cuidados. Os animais não eram devidamente cuidados, o fedor e o barulho incomodavam demais. Foi minha primeira pauta no Amazonas em Tempo e a primeira de muitas em que fui acompanhado de um profissional que se tornaria um amigo de aventuras na profissão, o repórter fotográfico Danilo Mello.

Chegamos à tal casa, sob o sol das 15h. O imóvel fica na principal avenida do conjunto, próximo à superintendência da Polícia Federal. Bati palmas ao portão, os cães já começaram a fazer a balbúrdia infernal. Verdadeiros cães do diabo! A mulher veio: gorda, cara de barraqueira. Educadamente falei sobre a denúncia feita pelos vizinhos e que gostaria de conversar com ela a respeito.

- Aqui não tem cachorro nenhum, não! Não tem nada aqui! - ela começou a dizer, alterada, descendo as escadas e fazendo menção de abrir o portão menor de entrada, na verdade uma grade. No terreno, os cachorros latiam, mas não era possível vê-los distintamente por causa do portão da garagem. Talvez a mulher fosse mouca ou retardada, até hoje não sei, mas os animais estavam ali, latindo como loucos, e a dita cuja continuou repetindo aos gritos que não havia cães em sua casa.

Tentei argumentar com ela, mas não teve jeito. A criatura virou as costas e voltou para dentro da casa, xingando Deus e o mundo. Lembro que havia uma jovem com ela, talvez sua filha, irmã, amante... sei lá. A garota ficou meio constrangida com aquilo tudo.

Enquanto eu tentava conversar com a mulher, Danilo procurava tirar fotos dos cães do diabo pela fresta do portão da garagem. Sem sucesso. Apelei para a opção de falar com a vizinhança. Curiosamente, nas duas casas vizinhas de cada lado do canil improvisado não havia ninguém. Procurei uns cidadãos que estavam observando tudo de longe, em um boteco. Confirmaram os problemas que a vizinha e seus cães do diabo causavam. Até carrapato era encontrado nos genitais das pessoas! No entanto, não quiseram dar entrevista.

Como última opção, procuramos os vizinhos da rua de trás. Uma senhora falou algumas coisas, confirmando a história do incômodo causado pelo barulho e pela falta de higiene nos cuidados com os bichinhos. Mas não quis se identificar.

Resultado: voltamos para o jornal com uma captação pífia e sem fotos. Talvez o Danilo estivesse acostumado com essas furadas (ele estava ali, salvo engano, havia quase dois anos), mas eu fiquei aborrecido. O que escrevi só rendeu dois míseros parágrafos. Frustrado, achei que ia perder a vaga. Mas, de algum modo, Banega resolveu me contratar. Fui conversar com a então diretora, Menga Junqueira, e pronto! Estava contratado. Porém, a princípio, trabalhei como repórter do caderno Arte Final, editado pelo Aldísio Filgueiras, junto com a Tricia Cabral. E ali começou uma relação de amor e ódio com o jornal Amazonas em Tempo, que dura até hoje! Mas uma coisa é certa: ali foi onde cresci profissionalmente e fiz amigos de longa data. E aprendi que vida de repórter é sujeita a essas pautas furadas, mais dia ou menos dia.

E agora estou me lembrando dos entrevistados malucos do jornal O Estado do Amazonas. Mas fica para a próxima!

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