domingo, 26 de agosto de 2012

Comentário: "Precisamos falar sobre o Kevin" (We need to talk about Kevin, 2011)

Tilda Swinton e Ezra Miller em cena do filme
Ler a sinopse de "Precisamos falar sobre o Kevin", filme de Lynne Ramsay lançado em 2011, foi o suficiente para minha busca pelo download do filme. A mãe de um jovem que comete assassinato em massa em sua escola tenta compreender o que poderia ter levado o filho a um ato tão selvagem. Dois nomes no elenco já chamaram minha atenção: Tilda Swinton ("Queime depois de ler", "As crônicas de Nárnia" e "Constantine") e John C. Reilly ("Boogie Nights" e "Magnólia"), atores competentes e dignos de premiações.

Na cena inicial, vista de cima, uma multidão se aglomera em algum lugar não especificado, todos jogando um líquido vermelho (sangue? tinta?) uns nos outros, e no meio dessa confusão humana emerge Eva (Tilda Swinton), carregada pela multidão, pregada em uma cruz imaginária. Logo se vê que se tratava de um sonho. Eva desperta em sua pequena casa e descobre que o imóvel foi todo manchado de tinta vermelha. Obra da vizinhança que a repudia e hostiliza, chegando ao ponto da agressão física: ao conseguir um emprego em uma agência de viagens, a satisfação de Eva é eliminada por uma mulher que a esbofeteia ao ver tamanha felicidade da mulher.

Toda essa hostilidade será explicada no decorrer do filme, que alterna a condição atual de Eva com fragmentos de sua vida a partir do nascimento de Kevin. Nessas idas e vindas temporais da trama, Eva tentará compreender sua relação com o menino, tumultuada desde o princípio. Kevin chora constantemente, a ponto de a mãe preferir o barulho ensurdecedor de uma britadeira que sufoca os gritos do bebê. 

À medida que o tempo passa, o menino vai se tornando arredio com a mãe, mas convive bem com o pai Franklin (John C. Reilly). O garoto parece ter o propósito de atormentar Eva: defeca nas fraldas recém trocadas que ainda usa por volta dos 4 anos para obrigá-la a trocá-lo constantemente, lambuza com tinta toda a decoração das paredes do quarto de Eva, feita com mapas, ignora a mãe e chega ao absurdo de permitir um acidente doméstico que causa a perda de um dos olhos da irmã menor, Celia, não sem antes matar o hamster da menina (as duas últimas situações não ficam explícitas, mas com muita atenção se compreende o que realmente ocorreu). 

Já adolescente, Kevin (Ezra Miller) parece dar uma trégua a Eva, apesar de provocá-la constantemente, como na sequência em que ela o flagra se masturbando no banheiro. Em vez de ficar constrangido, ele continua o ato encarando-a com ódio. A situação foge ao controle quando, na véspera do seu 16º aniversário, Kevin mata e fere dezenas de colegas a flechadas em sua escola, consumando a tragédia com a destruição de sua própria família.

Em vez de se prender ao massacre, o filme é uma busca de Eva pela compreensão de uma maldade que viu desde o início estampada nos olhos do filho. Desse modo, ficou claro que buscou como opção uma segunda gravidez, da qual nasceu Celia (Ursula Parker), para revolta inicial do marido, o qual sempre foi conivente com as atitudes do filho, buscando botar panos quentes no clima negativo entre mãe e filho. Nesses retrospectos, ela tenta lidar com a culpa ao mesmo tempo em que busca recomeçar a vida depois da tragédia.

"Precisamos falar sobre o Kevin" acabou sendo um filme impactante para mim. Perturbador e traumatizante, até. Mas é um ótimo trabalho sobre a maldade inata do ser humano e a nossa própria impotência diante de tanta perversidade.

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