Manaus ganhou destaque na mídia com o caso do adolescente agredido e baleado por policiais em agosto do ano passado. Coisa triste, retrato de um país que não consegue combater a criminalidade pelo fato de ela estar presente justamente no meio que tem por obrigação proteger a população e manter a ordem.
Aí vem o outro lado da moeda: em matéria no jornal "A Crítica", um promotor informa que, segundo a família do rapaz agredido e ferido, o mesmo não era "nenhum santinho". Consta, inclusive, que o jovem de 14 anos já teria um homicídio de outro adolescente nas costas. O nobre promotor apenas retratou uma nova situação exposta pelos familiares, mas, certamente, para muitos o delinquente apenas teve o que mereceu.
Não adianta falar em direitos humanos ou que, por mais criminoso que fosse, o rapaz não merecia ser abordado e praticamente massacrado daquela maneira. Chegamos a um ponto tal de convivência com a certeza da impunidade que beira a selvageria. Não confiamos na eficiência da segurança pública, daí a justiça pelas próprias mãos e atitudes mostradas como a dos policiais serem até mesmo aplaudidas.
Esses dois lados da história são ruins. De um lado, policiais que podem abordar e agredir qualquer um pela mínima suspeita. Sinceramente, não creio que sejam punidos. Expulsá-los da Polícia Militar só vai aumentar os números da criminalidade. De repente podem se tornar pistoleiros, seguranças de traficantes. O bom seria que pagassem pelo que fizeram e seguissem adiante em uma vida honesta. Há esperança para tudo. Mas há muita coisa nisso que renderia uma bela série de reportagens - falta de incentivo, maus critérios para seleção, inexistência de condições de trabalho e assim por diante.
Do outro lado, o fato de o jovem supostamente já ser enredado no mundo do crime. Temos certeza da impunidade, porque o adolescente infrator é protegido por lei e pela maioridade penal. Em breve, se realmente for um criminoso, estará de volta à "ativa", transtornando sua família e aumentando a insegurança. E seu destino será, com certeza, o de vários adolescentes arrastados para a criminalidade: uma sepultura de indigente, no mínimo. Por isso acontecem os aplausos a uma atitude como aquelas dos policiais.
Despreparo para lidar com o crime, de um lado, e impunidade que pode incentivar a criminalidade, do outro. Por isso aquele famoso adolescente de São Paulo tem tantas passagens por delegacias e continua encantando com o submundo do crime. Há algum tempo, houve uma discussão sobre a diminuição da maioridade penal. Por que esse silêncio todo agora?