Dentro da minha meta de conhecer meu país todo, escolhi dessa vez o Amapá por conta de sua proximidade com Belém, por onde havia começado a viagem. Claro que nem tudo saiu como planejado, pois deixei de ir a alguns lugares, culpa do tempo chuvoso que deixou as águas do rio Amazonas agitadas - e apesar de morar praticamente cercado de rios e saber nadar, não tenho o hábito de viajar de barco, portanto de imediato já decidi retornar durante o verão amazônico, com mais sol e poucas chuvas.
Macapá, a capital amapaense, me agradou à primeira vista. É uma cidade média, de pouco mais de 500 mil habitantes, pouco verticalizada, com todos os problemas comuns a uma cidade brasileira mas com uma tranquilidade maravilhosa que me permitiu caminhar com segurança por suas ruas. Como Macapá tem traçado todo quadrangular, as ruas são muito parecidas umas com as outras (exceto as principais que possuem coretos que dividem as duas pistas), então usei o método de sempre adotar um ponto de referência por onde eu passasse (um estabelecimento comercial, uma praça, uma determinada casa). E, claro, ajuda do Google Maps.
E o aeroporto da capital? Pequeno, com três pontes apenas, mas novinho, muito bonito e aconchegante. Uma lição no aeroporto de Belém, que parece ter sido largado de lado (uma vergonha para uma cidade de 2 milhões de habitantes e uma das maiores do país).
Vamos a Macapá!
ORLA
Minha primeira parada depois que meu amigo Raimundo Barros foi me apanhar no aeroporto, vindo de Belém (35 minutos de voo em média) - somos contemporâneos da Universidade Federal do Amazonas e, depois de formado, em 2000 ele voltou à sua terra natal, e fazia 22 anos que não nos víamos. A orla é o ponto principal para caminhadas e passeios de bicicletas, além de em vários pontos haver restaurantes, bares e lanchonetes. O Araxá é uma parte desse complexo que reúne a gastronomia local.
Ao longo da orla há mirantes, ciclovia, parques onde os frequentadores podem descansar e apreciar a vista do rio Amazonas. A Casa do Artesão Amapaense ainda estava com obras de revitalização em andamento, mas o prédio principal estava funcionando para compra de artesanato - os feitos com manganês são os mais lindos, com seu brilho característico na superfície negra. Esse trabalho visa integrar toda aquela região que abrange até o trapiche Eliezer Levy, que infelizmente estava temporariamente fechado.
Falando em gastronomia, o carro chefe local é o camarão no bafo, feito apenas com sal e chicória. Uma verdadeira delícia acompanhada por farofa (a farofa de soja é a que mais recomendo como acompanhamento), ao custo médio de R$ 50 (abril/2022). O açaí pode ser adquirido na orla diretamente com os produtores na Rampa do Açaí (como minha cota de compras esgotou nesses dias em Macapá, com camarões que comprei no Shopping Popular da cidade - 25 reais o quilo do camarão regional cru, uma pechincha - e as cervejas artesanais e o queijo de Marajó que havia comprado em Belém, não sobrou espaço para comprar o açaí - apesar de ser um produto que é facilmente encontrado no Amazonas, é interessante experimentar nos Estados vizinhos, pois há pequenas diferenças de textura e até mesmo de sabor).
FORTALEZA DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ
Macapá é uma cidade com raras edificações históricas, e a Fortaleza de São José de Macapá, na orla, se destaca como ponto turístico. Construída no século 18 dentro dos projetos de defesa do então império, ela foi tombada como patrimônio histórico e cultural, passando por reformas. Mas ficou evidente que uma nova revitalização é necessária: algumas placas estão apagadas, ficando difícil para o visitante identificar claramente o que está sendo visto. Além disso, segundo meus amigos macapaenses, um parque ao redor da fortaleza acabou praticamente abandonado nos últimos anos, um verdadeiro pecado.
Uma pequena saleta guarda diversas maquetes e quadros sobre a fortaleza. Apesar do aspecto de relativo abandono (mato não aparado em algumas partes, pintura descascando, ferrugem e as já citadas placas apagando), de um modo geral a fortaleza mantém seus traços originais. Ela está aberta para visitação de terça a sexta-feira, a partir das 9h, com acesso gratuito, e pode ser feita uma pequena contribuição voluntária para ajuda na manutenção da estrutura.
MERCADO CENTRAL
(É algo que aprendi em 12 anos de viagens anuais de férias pelo Brasil: viajar não significa luxar, então comida caseira continua sendo a melhor opção para economizar, ficando a "ostentação" para um dia apenas durante a viagem)
CURIAÚ
A poucos quilômetros de Macapá, o balneário Curiaú me encantou com suas águas transparentes e mornas. Ele fica numa região de quilombo, mas apesar da beleza está carecendo da devida revalorização após um período de esvaziamento provocado pela pandemia de covid-19.
Um dos lugares pelos quais passei ali naquela região tem uma plataforma sobre a água, magnífica para banho, com um mas infelizmente com o isolamento social e esvaziamento, ficou abandonado, o que provocou deterioração das barracas, representando risco para quem passa por ali. Mas há outros restaurantes com plataformas para banho que aos poucos começam a receber visitantes. Espero que em minha próxima visita ao Amapá tenha sido feito um trabalho de recuperação e valorização daquela área.
MUSEU SACACA
O Museu Sacaca traz um pouco da vida amazônica e da cultura amapaense. A entrada é gratuita, e ele só não abre às segundas-feiras.
O deslocamento pelo interior do museu a céu aberto é feito por meio de passarelas em alguns trechos. Há uma lanchonete e venda de artesanato (mas muito tímida, preferi a Casa do Artesão Amapaense, com mais variedade).
Além de espécies da flora local, há representações da vida ribeirinha, com reprodução de casas e costumes, como as parteiras.
MARCO ZERO DO EQUADOR
Macapá é cortada pela Linha do Equador, e por conta disso foi erguido um monumento que indica o local exato onde essa linha imaginária divide os hemisférios norte e sul do planeta. O local é simples, mas não deixa de ser uma visita interessante. Em certo espaço, colocando um pé de cada lado da faixa diante do monumento, você pode dizer que está com um pé em cada hemisfério da Terra. É uma visita muito divertida, com certeza. Ainda há uma pequena loja de artesanato, também, e a entrada é gratuita. Só não abre às segundas-feiras.
FAZENDINHA
A Fazendinha fica no município de Santana, e trata-se de uma orla bem estruturada na margem do rio Amazonas. Há restaurantes e bares para todos os gostos, e a pedida é ir no entardecer, quando se tem uma vista linda da despedida do sol.
O QUE FALTOU
Macapá ainda possui o Bioparque da Amazônia, mas deixei de ir porque, na minha visão, trata-se de uma reserva nos moldes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus, e ainda que desejasse ir, a programação da semana não permitiu espaço (passei dois dias no sítio de meu amigo Raimundo, no Mazagão Velho, uma experiência relaxante e maravilhosa).
Minha próxima visita incluirá uma aventura rumo ao Oiapoque e à Guiana Francesa (já soube que precisa de visto, tirado em Macapá mesmo). Essa primeira viagem para conhecer serviu para incentivar o retorno. O Amapá também tem muito a oferecer na área do turismo. Basta boa vontade do seu governo, organização e valorização pelo próprio brasileiro, que precisa saber que há mais coisas bacanas em nossa terra - e até mais perto de nosso lar, como foi meu caso.
Em setembro, viajarei mais uma vez para o Ceará, desta vez para realizar o sonho de conhecer Juazeiro do Norte e parte da região do Cariri, no sertão cearense. Até breve!
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