sexta-feira, 4 de março de 2022

VIAGEM: Descobrindo o Espírito Santo (4 a 9 de setembro/2021)



Antes de contar como foi retomar minhas viagens em tempo de pandemia, atento para o fato de que estava em uma viagem quando a covid-19 chegou ao nosso país. Aquela experiência passou de prazerosa a apavorante, rendeu uma postagem aqui no blog, cancelamentos de todas as programações para o resto de 2020 (e até o primeiro semestre de 2021) e um trauma que foi complicado para superar.

Entretanto, para superar esse trauma e voltar aos poucos a alguma normalidade, foquei na segurança de ter sido vacinado com as duas doses de Coronavac e o reforço da Pfizer, e de ter mantido os mesmos cuidados de sempre: distanciamento (fácil para mim que cheguei numa fase de não suportar aglomerações, isso bem antes da pandemia - coisa de velho, alguns pensarão daí; coisa de quem não aguenta a convivência com muita gente inconsequente e idiota depois de 48 anos, responderei daqui), uso de máscara e um frasco de álcool em gel como meu companheiro na rua e higiene das mãos dentro de casa.

Mas o medinho no fundo continuou: o temor não estava em mim, e sim nas pessoas ao meu redor. Temor dos negacionistas, dos irresponsáveis que ligaram o foda-se com apenas uma dose, os antivacinas que usam argumentos tão profundos quanto uma colher de chá de água (que vai da marca da besta numa interpretação imbecil e oportunista do Apocalipse até a paranóia babaca da alteração de DNA e - não riam! - da nossa transformação em ímãs humanos).

Então pensei: essas pessoas existem aqui onde moro. Eu me cuido, minha família se cuida, ninguém aqui é negacionista. Criei coragem: agora eu vou. A vacinação está correndo, apesar do índice ainda aquém do ideal para voltarmos ao que éramos antes de março de 2020; os idiotas negacionistas antivacinas são poucos; dos irresponsáveis mantenho distância; e os novos casos e fatalidades estão atingindo principalmente esses imbecis, vítimas da própria estupidez (desculpem os termos, mas não há outro meio maia adequado e direto para me referir a essa gente).

Feito todo esse prólogo, vamos ao Espírito Santo, Estado que, se não fosse a pandemia, eu teria conhecido em agosto de 2020.



Cheguei a Vitória na manhã do dia 4 de setembro, depois de uma conexão de uma hora em Campinas (fiquei furioso porque tive que atravessar o aeroporto inteiro pra achar o portão de embarque). Como ainda não eram 10h e o check in seria apenas às 14h, tomei café no próprio terminal e fiz hora até apanhar um táxi (R$ 20) para ir ao hotel Minuano. Lá, pude deixar minha mala para ficar livre e explorar a região e almoçar até que liberassem o apartamento.

No hotel, aquele totem para aplicação de álcool em gel no pequeno saguão e proteções de acrílico para os funcionários da recepção, super prestativos e educados (mas nem tudo foi perfeito, como coloquei depois na minha avaliação no Booking, com demora na liberação do apartamento e falta de controle sobre hóspedes entrando e tramitando pelo hotel sem máscaras).

Fiquei no bairro Camburi, local da mais extensa praia da capital capixaba. Calçadão, ciclovia, bares e restaurantes. Aquela orla de Vitória é uma das mais belas que já vi, e em alguns momentos me lembrou a de Aracaju, meu destino seguinte. Mas também fiquei assustado: a maioria esmagadora dos capixabas não usava máscaras e andava em bandos. Havia bares na praia lotados. Praticamente me esquivei de tanta gente que poderia ter sido confundido com um boneco de Olinda. Era um sábado, afinal, encravado num feriadão.

O hotel possui um restaurante bem ao lado, de mesmo nome, e que já estava aberto - passava um pouco das 11h. Comida cara, mas era o que tinha para o momento (paguei 68 paus em 300 gramas de cordeiro com guarnições à vontade). E àquela hora o restaurante estava vazio - duplamente maravilhoso para mim: sem possíveis contaminantes e com tranquilidade e segurança (todos os garçons estavam usando máscaras).

Depois de uns entreveros para conseguir a liberação do apartamento (o que só ocorreu às 14h30 depois que quase armei um barraco na recepção, de tão exausto que estava por ter ficado sem dormir há mais de 24 horas com a ansiedade da viagem), o resto do primeiro dia foi desabar na cama, dormir e deixar para desfazer a mala depois. No dia seguinte, começariam meus passeios, adquiridos com bastante antecedência da Capixaba Turismo.

Ah! E à noite saboreei a moqueca capixaba, cuja diferença para a moqueca baiana é a ausência do azeite de dendê. E é uma delícia! Mas saiu caro, porque, como em vários lugares do Brasil, poucos restaurantes oferecem refeição para viajantes individuais. Então tive que comer por dois - e no final valeu a pena! 




5 de setembro, domingo: Pedra Azul

A Pedra Azul é o nome de uma montanha que fica na região de Domingos Martins, pequena cidade a quase 38 km de Vitória (em linha reta). Trata-se de uma formação rochosa de 1.822 metros de altura e que assume coloração azulada em determinados momentos, dependendo da luz do sol que a atinge (mas muitos, como eu, conseguiram enxergar também uma coloração verde). Para chegar lá, passamos pelo Café com Prosa, local bem aconchegante para um café da manhã gostoso e, de quebra, compra de diversos produtos como antepastos, queijos e similares.





O parque da Pedra Azul possui uma loja com uma diversidade impressionante de cafés, entre eles o famoso café Jacu, feito a partir de grãos colhidos das fezes do pássaro jacu e tratadas antes do devido processamento e embalagem (nosso guia contando a história foi um dos momentos mais divertidos do passeio). Essa característica, que leva à piada de chamá-lo de "cafezes", o torna um dos cafés mais caros do país. Uma xícara pequena custa em torno de 25 reais. Trouxe para Manaus um pacote para experimentar, mais outros pacotes de diversas marcas, produzidas no próprio Espírito Santo (foi duro escolher. São muitos aromas deliciosos).

O que fazer ali no parque? Além da lojinha, há uma trilha para caminhada, coisa de que fujo, dado meus problemas de articulação nos joelhos que me impedem de fazer essas atividades, digamos, mais "juvenis". Porém para quem gosta de tirar fotos em lugares lindos da natureza, vale muito a pena! O único problema ainda foi por conta da presença de pessoas sem máscara em grande quantidade, de forma que me isolei de todo jeito, mantendo distância desses tipos.








No retorno para Vitória, passamos pela simpática cidade de Domingos Martins, bonitinha e arrumada, onde a Rua do Lazer é o principal atrativo, reunindo diversos bares, restaurantes e lojas de artesanato e produtos locais. Claro que me acabei comprando chocolates, cafés e todo tipo de guloseima - entretanto só entrei em lojas em que os visitantes eram poucos, deixando de ir naquelas em que havia até fila para entrar.

6 de setembro, segunda-feira: Guarapari

Guarapari possui uma das praias mais badaladas do Espírito Santos, segundo nosso guia. A pouco mais de 50 quilômetros ao sul de Vitória, a cidade tem uma orla aprazível, bem estruturada. A praia de Areia Preta chama atenção pela coloração, e o cenário é perfeito para nossas melhores fotos.




Em razão da aglomeração de pessoas na praia, limitei-me a passear por toda a região, almoçando na praia dos Namorados, onde havia menos gente (comi peroá assado, peixe típico do Espírito Santo, delicioso). De fato, acabei não aproveitando banho de mar por conta do medo provocado pelas pessoas sem máscara e andando em bandos.





Meu único proveito em Guarapari foi, além do registro de fotos da beleza do local, comprar licores em uma feirinha próxima com movimento bem tranquilo e pouquíssimas pessoas, pelo menos naquele horário (passava das 13h e nosso retorno a Vitória estava marcado para as 15h30. Obviamente saímos depois das 16h por causa de turistas abusados que não cumpriram a orientação do guia de chegar no horário combinado - uma prática frequente que me irrita.






Antes de chegar a Vitória, ainda passamos na cervejaria VIX, onde pudemos ver a produção da cachaça Reserva do Gerente (cujo símbolo é igual à marca do Rei do Gado) e cervejas artesanais locais e adquirir algumas diretamente na lojinha. 

7 de setembro, terça-feira: Anchieta

Em Anchieta, a 82 quilômetros ao sul de Vitória, finalmente aproveitei para tomar um banho de mar!





Quando chegamos, o ponto de apoio era em um restaurante na praia Costa Azul, no distrito de Iriri. Tudo bonito, mas com o mesmo problema dos outros lugares: muita aglomeração e a maioria das pessoas sem máscara, amontoadas no calçadão ou nas barracas. Felizmente o restaurante onde ficamos estava quase vazio (a maioria dos turistas correu para as barracas na praia ou no calçadão), e eu já estava conformado em permanecer passeando por ali.


Como tínhamos umas quatro horas para aproveitar o passeio, resolvi fazer uma caminhada para além daquela área, e foi assim que descobri, em outro extremo, as praias de Areia Preta e Iriri. A primeira tem uma estrutura mais rústica, sem calçadões e com ruas de terra batida, enquanto a segunda é totalmente "virgem", sem barracas e totalmente livre de multidões - e foi nela que finalmente pude aproveitar o mar, pois estava vazia, à exceção de umas poucas pessoas (moradores da área, certamente) que caminhavam ou também tomavam banho.






No retorno, uma parada no Santuário Nacional de José de Anchieta, onde o jesuíta viveu. Amo visitar igrejas antigas pelo belo conjunto arquitetônico, por mais simples que seja, mas essa visita marcou pelo fato de visitarmos os aposentos onde Anchieta viveu. É uma emoção que senti igual quando fiz um tour por Minas Gerais em 2018, até agora a melhor viagem a locais históricos que fiz (e que pretendo repetir em breve).











8 de setembro, quarta-feira: city tour Vitória-Vila Velha

O último dia em Vitória foi o famoso city tour até Vila Velha, sua cidade irmã, separada da capital por várias pontes. Ao final do passeio, concluí que justamente a última tinha coisas mais interessantes para se ver.



A primeira parada foi no convento de Nossa Senhora da Penha, construído no século 16, num morro de onde se tem uma vista sensacional das duas cidades. É um lugar lindo, que transmite uma paz imensa. Dá vontade de ficar o dia todo por lá! Para chegar ao convento é preciso pegar uma van que passa a cada 15 minutos no ponto, pagando o valor de R$ 5 (subida e descida). Para quem tem mais resistência, é possível fazer uma boa caminhada.














Saindo do convento, passamos pela loja de chocolates Garoto. Apenas pudemos comprar produtos a preços de fábrica, pois em razão da pandemia a visitação às instalações para vermos o processo de fabricação estava suspensa (e era o que realmente me interessava). Fica para uma próxima oportunidade.


Os momentos finais do dia guardaram uma passagem pela catedral metropolitana de Vitória (linda!), enquanto no dia seguinte aproveitei as últimas horas na capital capixaba para visitar o Centro (tive que comprar uma bolsa de viagem de mão, no final das contas) e conhecer o Palácio Anchieta, sede do governo estadual e fazer uma boa caminhada pela região do porto (mais ou menos uma hora e meia de caminhada até o hotel, fora a parada para almoço em um pequeno centro comercial - a comida na região é muito cara, então tive sorte de achar um self service com boa comida e preço bem acessível).



Ainda na noite de quarta-feira, consegui tomar uma cervejinha com uns petiscos deliciosos num barzinho próximo, super tranquilo e com pouquíssima movimentação (fora a minha mesa, apenas mais três estavam ocupadas por pessoas sozinhas ou casais). Despedida em alto estilo.






Horas depois, fiz meu check-out e rumei para o aeroporto para voar para Aracaju, com conexão em Guarulhos. Essa viagem (minha terceira ida a Sergipe) foi a realização de um sonho, que irei contar na próxima postagem.

Conclusões

Vale a pena conhecer o Espírito Santo? Sim, vale muito! As praias são lindas, as serras são fantásticas.

Quer viajar mesmo com a pandemia ainda nos assombrando? Esteja vacinado com todas as doses contra a covid-19, mantenha todos os cuidados necessários, sobretudo uso de máscara enquanto estiver em grupos, evitar contatos físicos com estranhos e ter uma bisnaga de álcool em gel sempre à mão.

Viaja para ir para baladas, adora muvucas, bate-coxa, raves? Fique em casa, sossegue o facho e aguarde o percentual mínimo de segurança (70 a 75% de pessoas com ciclo vacinal completo) para poder fazer o que bem entende.

Muitas restrições foram relaxadas (algumas de forma irresponsável, como vi em bares na noite em Vitória, com gente amontoada), mas mantenha as suas. Como diz o ditado: passarinho que acompanha morcego acorda de cabeça pra baixo.

Prefira viajar sozinho ou no máximo com uma ou duas companhias, de modo que facilite a comunicação e o acordo entre todos para que você não se torne um transmissor do vírus. Isso se chama responsabilidade consigo e com os demais.

Essa é, por enquanto, a normalidade que existe (não há "novo normal", isso é papo furado). A covid não vai desaparecer, mas temos que colaborar para ela deixar de ser uma pandemia.

Um comentário:

  1. Viajando com responsabilidade! Dá para aproveitar e se cuidar ao mesmo tempo.

    O Palácio Anchieta é lindo demais :)

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