Pela terceira vez viajei a Sergipe, agora com uma finalidade específica: conhecer a Rota do Cangaço, em Piranhas, cidade da margem alagoana do rio São Francisco, que separa terras sergipanas e alagoanas. Das vezes anteriores não houve tempo hábil ou a quantidade de pessoas era insuficiente.
Graças à ajuda da agência Aracaju Receptivo, consegui finalmente montar um esquema para passar o fim de semana em Piranhas e realizar meu sonho de conhecer o local onde, em 1936, o bando do cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião, foi emboscado pela polícia, resultando na execução de quase todos os seus integrantes em um tiroteio.
Cheguei a Aracaju por volta do meio dia de 9 de setembro, depois de uma conexão cansativa em Guarulhos (como detesto esse aeroporto! É gigante, sempre está lotado e a troca de portões de embarque é um fato corriqueiro, sem contar que a área inferior dos embarques, onde os passageiros são levados de ônibus do terminal até as aeronaves, é um verdadeiro cabaré de tão confuso, desordenado e desestruturado). Hospedei-me pela segunda vez no Via Mar Praia Hotel, no bairro Atalaia, de excelente localização e serviços. Claro que depois de passar a madrugada acordado no aeroporto de Vitória (o voo sairia 5h, mas como havia incerteza sobre funcionamento de Uber e táxis em horário tardio, fui para o terminal quase meia noite), aproveitei para dormir bastante antes de passear e matar a saudade de uma de minhas capitais preferidas, com a orla mais bonita e organizada de todo o Nordeste (sei o que digo porque já conheci todas as capitais nordestinas).
No dia seguinte, seria meu tão sonhado passeio a Piranhas!
Sábado, 11 de setembro
Para eu poder fazer o passeio a Piranhas e conhecer a Rota do Cangaço, a Aracaju Receptivo, em parceria com outras agências, me incluiu na rota do passeio para os cânions do Xingó (que conheci em 2015). Fui deixado em Canindé do São Francisco pela van depois de 2 horas de estrada, onde o táxi já me aguardava (esqueci o nome do taxista, era um jovem super educado e prestativo). Quinze minutos depois, chegava a Piranhas para me hospedar na Pousada Ô de Casa! (simples, aconchegante e muito bem localizada, perto dos principais pontos turísticos da pequena cidade).
Então, fui passear na cidade. Primeira parada: Museu do Sertão. Ali estão reunidos objetos ligados à cultura nordestina e à História, como as roupas usadas pelos cangaceiros de Lampião e painéis com notícias da época do auge do cangaço. Tudo isso pela quantia de R$ 2.
Em frente ao museu fica a Torre do Relógio, onde funciona o Café da Torre. Fui duas vezes por lá e dei de cara na porta. Se abriram naquele dia, foi só ao anoitecer. Frustrante. Dali segui para almoçar na orla do São Francisco, onde há vários restaurantes um ao lado do outro. Preço bom para viajante individual.
Depois do almoço, resolvi conhecer o Mirante Secular. São mais de 300 degraus, e é possível chegar lá de carro, mas onde iria achar um, se nem mesmo dirijo, né? José, recepcionista da pousada, me sugeriu que fosse no final da tarde. Deveria tê-lo ouvido. Levei uns 15 minutos para chegar lá em cima, parando para recuperar o fôlego naquele calor de 15h, tendo comprado duas garrafinhas de água na subida. Quando cheguei ao topo do mirante, onde há um restaurante, fiquei parado por vários minutos até normalizar minha respiração. Mas a vista da cidade e do rio São Francisco compensou o esforço. Para descer, claro que foi bem mais fácil.
Depois de visitar outro pontos do Centro de Piranhas, subi o Mirante da Igreja do Senhor do Bonfim, com menos degraus mas ainda assim muito alto, mas graças ao horário (mais de 17h), não sofri tanto quanto no mirante oposto. Ali também a vista é fantástica de toda a região, sem contar que há trilhas para outros pontos do morro.
Anoiteceu e resolvi comer e beber algo na área do Centro que reúne os bares e restaurantes da cidade. Mantive-me isolado em uma mesa distante enquanto os locais foram lotando. Noite muito agitada e divertida, deliciosa como em toda cidade interiorana.
Domingo, 12 de setembro
Às 9h, depois de ter tomado café na pousada e descansado, já estava no porto à espera do catamarã para a Rota do Cangaço. Depois de pouco mais de uma hora navegando, chegamos a um balneário muito bem estruturado com banheiros, barracas, guarda-volumes e serviço de bar. Dali parti no grupo da excursão a pé mesmo pela Rota do Cangaço.
No caminho, nosso guia contava toda a história que tornou o lugar famoso: de como a polícia pressionara um integrante do bando de Lampião a dizer onde eles estavam escondidos. Todos foram emboscados na Gruta do Angico no dia 28 de julho de 1938, culminando na morte da maioria dos cangaceiros, inclusive Lampião e sua mulher Maria Bonita, que foram decapitados e suas cabeças, exibidas na escadaria da prefeitura de Piranhas (por falta de tempo acabei não conseguindo ir a esse local para registro).
Quem gosta de História entende a emoção que é estar em um lugar onde um fato histórico marcante aconteceu. Ouvir os relatos do guia também permitiu essa viagem, apesar da crueldade relatada sobre a morte de Maria Bonita, que segundo ele estava viva quando teve a cabeça decepada e implorara por sua vida. No local do confronto fatal, cruzes e placas se mantem como as marcas desse passado violento.
Terminado o passeio, hora de almoçar, depois do que votei no catamarã para Piranhas, onde logo depois apareceu o taxista do dia anterior (gente muito boa) que me deixou no ponto de encontro da van e ficou aguardando até quando o veículo chegou.
A viagem de volta a Aracaju não foi nada confortável. Van pequena demais, único local disponível apertado entre um bando de gente com cara de poucos amigos, mas pelo menos houve uma parada num local de venda de artesanato e guloseimas. Fiz questão de reclamar com a agência, porque aquilo acabou com minha coluna.
Chegando a Aracaju, foi o momento de descansar para aproveitar os demais dias.
Segunda-feira, 13 de setembro
Guardei o dia 13 para encontrar minha amiga Cíntia depois de caminhar e curtir a praia de Atalaia pela manhã. Já li em grupos de viagens no Facebook muitas críticas quanto às praias da cidade, mas não entendo a razão. Pode não ter a estrutura da praia do Futuro de Fortaleza, de Ponta Negra em Natal ou da orla de João Pessoa, nem a beleza da cor das águas do mar de Maceió, mas em Aracaju a orla é tranquila.
Cíntia e seu filho Caio me levaram para conhecer o Largo da Gente Sergipana, no Centro de Aracaju, à margem do rio Sergipe. Várias estátuas indicavam os elementos da cultura do Estado, um ótimo local para fotos. De lá fomos ainda fazer umas compras (artesanato e guloseimas que já enchiam minha mala desde o Espírito Santo, claro), e foi hora de nos despedirmos.
Terça-feira, 14 de setembro
Nos passeios que havia feito nas duas viagens anteriores a Aracaju, havia apenas passado pela Praia do Saco, então dessa vez resolvi conhecer especificamente esse lugar. E foi ali que aprendi a procurar lugares por conta própria para fugir dos "pontos de apoio".
Para chegar à Praia do Saco (passeio feito por meio da Aracaju Receptivo), passamos pela Lagoa dos Tambaquis, que eu já conheci anteriormente mas nunca tive oportunidade de tirar uma foto que prestasse. Dessa vez, consegui o que queria.
Na Praia do Saco, as agências costumam deixar os clientes em determinado restaurante, mas não curti o local, cuja faixa de praia era pequena e servia mais para ponto de saída de lanchas para outros passeios. Resolvi explorar os arredores, e foi a melhor coisa que fiz. Encontrei outra faixa de praia muito mais tranquila, de águas calmas, limpas e pouquíssimas pessoas. Ali me estabeleci na barraca Poseidon (único cliente), almocei bem, tomei minhas cervejinhas, fui nadar várias vezes e fiquei até a hora de voltar ao restaurante. E tirei muitas fotos, claro!
Quarta-feira, 15 de setembro
Faltando mais um dia para eu voltar a Manaus, não comprei nenhum passeio e resolvi passar o dia todo na praia, indo de Atalaia a Aruana. Caminhada boa desde as 9h. Acho que percorri uns 4 quilômetros a partir de Atalaia até chegar ao Bar do Nelsinho, na praia do Robalo, em Aruana, para espantar o calor com umas cervejinhas geladas e uns petiscos bacanas. Aproveitei muito!
Na caminhada da volta, passei no Bistrô Tempero da Terra, de minha amiga virtual Jane Kelly, que finalmente tive o prazer de conhecer e experimentar uma comida caseira deliciosa como nunca vi igual! Nesse caminho observei que o governo de Sergipe estava realizando obras de urbanização da orla de Aracaju a partir de Atalaia, criando calçadões, estacionamentos e ciclovias (no momento em que escrevo, passaram-se quase seis meses dessa viagem, portanto creio que a essa altura os trabalhos já foram concluídos). A capital sergipana está mais do que pronta para despontar como importante destino turístico!
Despedi-me de Aracaju indo à Churrascaria do Matuto para apreciar uma boa cerveja e petiscos divinos. Claro que fiquei em uma mesa na calçada (na noite anterior havia ido a outro bar mas logo fui embora quando o garçom que me atendia resolveu ficar sem máscara. Não voltei mais lá), sozinho, longe do salão que começava a lotar.
Bom, curtir uma noitada sozinho nunca foi problema para mim.
Quinta-feira, 16 de setembro
Havia curtido bastante minha viagem, tomando todos os cuidados recomendados. Hora de dar tchau para Aracaju e enfrentar uma maratona de voos: dali fui para Guarulhos, onde embarquei para Brasília (no piso inferior do terminal, justamente aquele de que falei no início da postagem, onde tudo é uma bagunça). Chegando à capital federal, outra espera para embarcar para Manaus.
Saí de Aracaju pouco depois das 14h. Cheguei a Manaus quase meia noite, duas conexões depois. Não recomendo essa maratona.
Cheguei bem, mantive meus cuidados, me diverti, mas ainda assim enfrentei dedos apontados para mim. Bom, eu sei como me protegi. Se tem quem tenha achado que fui irresponsável e moleque (sim, nas entrelinhas era isso que eu entendia), só lamento pela falta de confiança.
Depois dessa viagem, ainda fui passar um feriadão em Gramado e Canela (que me rendeu um sábado de molho com crise de lombar que me levou ao hospital) uma viagem de uma semana para o Ceará e mais uma semana entre o Natal e o Ano Novo no interior de São Paulo, as duas últimas com meu companheiro Henrique (nossas primeiras juntos, o que para mim encerrou o ano de forma maravilhosa). Mas sobre essas não farei postagens por conta do tempo decorrido (cada vez mais fica difícil eu guardar informações na minha memória por muito tempo), e a partir de agora, a cada viagem, haverá uma postagem imediata.
Em abril, viajarei para Belém e Macapá. Aguardem novas publicações sobre minhas viagens.
Até!
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