terça-feira, 28 de outubro de 2014

Amada Ilhéus de Amado


A experiência de estar em Ilhéus é fantástica. De um lado, temos a cidade do interior baiano imortalizada pelo escritor Jorge Amado em “Gabriela, cravo e canela”, obra que se sente em cada esquina do Centro Histórico que reúne o bar Vesúvio e o antigo cabaré Bataclan, lugares onde esperamos até encontrar os personagens - Gabriela, Nacib, Jesuíno e tantos outros. Do outro lado, existe a cidade de pouco mais de 182 mil habitantes, segundo estimativa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dividida em ilhas que lhe deram o nome, sede do município com maior litoral de praias da Bahia, belas e tranquilas, verdadeiros paraísos - a despeito dos problemas comuns de infraestrutura.
 Se Salvador tem o Pelourinho como chamariz de testemunha da história do Brasil, Ilhéus tem o casario colorido nos arredores do Vesúvio de Nacib e do Bataclan de Maria Machadão como marcas da ficção de Jorge Amado baseada em personagens que de fato existiram. Foi no Centro Histórico que começamos nossa visita: pelo Vesúvio, erguido em 1915, está lá, com a estátua de Jorge Amado espiando os frequentadores, um painel de boas vindas de Nacib e Gabriela, fotos de Ilhéus antiga e gravuras dos reais personagens do comerciante turco e da bela morena baiana. Hoje é o point da cidade, com música popular brasileira (de verdade) ao vivo e um cardápio que inclui, em meio aos petiscos comuns de frutos do mar ou carne seca, o sanduíche do Nacib, feito de pão árabe com tabule e queijo, a preços acessíveis.

A poucos metros do bar e restaurante Vesúvio - que vale uma parada indispensável para fotos com a estátua de Jorge Amado -, chegamos ao Bataclan, erguido na década de 1910 e reformado em 2004, cabaré comandado em outras eras por Antônia Machado, a Maria Machadão. A decoração resgata o clima da época dos coronéis e das “meninas da casa”: fotos sensuais, o palco das apresentações, as plumas, os paetês e até o quarto de Maria Machadão, conservado e transformado em memorial aberto à visitação pública, onde o ator José Delmo nos presenteou com uma rápida interpretação da história do ciclo do cacau e da época de mandos e desmandos dos coronéis, do apogeu à queda - algo bem retratado na obra de Jorge Amado. O Bataclan funciona como bar e restaurante, tendo apresentações teatrais nas noites de quarta-feira, onde se resgata o espírito antigo do cabaré.

Fazem parte ainda do acervo histórico que merece ser visitado a Casa de Jorge Amado - na frente da qual há uma estátua do escritor baiano - e o Teatro Municipal de Ilhéus, além da bela e imponente Catedral de São Sebastião, construída na década de 1930, praticamente um ponto de referência de qualquer parte do Centro Histórico da cidade. Na frente da igreja, encontramos um quiosque vende doces e licores de chocolate produzidos pela indústria local, inclusive alguns produtos mais, digamos, picantes para dar de presente, como o “Nacib”, o “Nacibinho” e a “Gabriela”.

Chegando - A viagem de Manaus a Ilhéus é uma verdadeira aventura de conexões. A malha aérea atual permite chegar à cidade baiana a partir de Brasília, com conexão para Salvador e outra de lá para o destino final, ou ainda via Rio de Janeiro. No mínimo, seis horas de viagem. A chegada, no entanto, compensa qualquer cansaço.

Para quem busca hospedagem, há vários hotéis e pousadas na cidade, mas as melhores ficam no bairro Jardim Atlântico, perto do aeroporto Jorge Amado – ficamos na bela pousada Lua e Mar, a menos de dez minutos do terminal aéreo. Ali se concentram pousadas tranquilas, sem grandes agitos, ao lado da Praia do Sul, que vale uma caminhada ao nascer e ao por do sol, ou mesmo à noite. Por ser uma cidade pequena, Ilhéus – garantem os ilheenses – é pacata e extremamente tranquila, mesmo na alta estação, quando até para obter uma mesa no Vesúvio é preciso amargar espera em fila.

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