quarta-feira, 20 de junho de 2012

Comentário: série "A profecia" (The Omen/1976, Damien: Omen II/1978, The final conflict/1981, Omen IV: the awakening/1991)

Harvey Stephens, intérprete de Damien no filme de 1976

Em Roma, o filho do diplomata Robert Thorn (Gregory Peck) morre ao nascer, notícia esta dada pelo padre Spiletto (Martin Bensom) ao pobre pai em um hospital da capital italiana. Receoso de que a notícia abale a esposa Katherine (Lee Remick), Robert aceita esconder-lhe a notícia e, por sugestão do próprio sacerdote, recebe um recém-nascido cuja mãe morrera no parto no mesmo momento que o bebê dos Thorn, apresentando-o à mulher como se fosse aquele gerado pelo casal. A adoção do menino, batizado de Damien, é o início de um complô satanista para a ascensão do Anticristo e seu domínio sobre o mundo.

Assim começa "A profecia", de 1976, dirigido por Richard Donner a partir do livro homônimo de David Seltzer (tive a oportunidade de lê-lo várias vezes e confirmo que é um dos mais arrepiantes que já li). Como não poderia deixar de ser com um filme de grande repercussão na época (era a década de 1970 e o terror psicológico estava em alta), surgiram duas continuações razoáveis (a terceira foi melhor que a segunda) e, logo depois, um desastre cinematográfico completamente fora do contexto da trilogia. Felizmente, a pretensa transformação dessa interessante e livre interpretação do livro do Apocalipse bíblico em grande bilheteria terminou por ali.

Katherine Thorn (Lee Remick)
No primeiro filme,  fatos estranhos cercam a infância de Damien (Harvey Stephens): no seu aniversário de 5 anos, a babá comete suicídio por enforcamento na frente de todos os convidados. Dias depois, uma nova governanta, a sra. Baylock (Billie Whitelaw), aparece para substitui-la - na verdade, é mais uma satanista do complô diabólico, cuja intenção é cuidar do pequeno Anticristo, protegendo seu segredo. Enquanto isso, a gênese da criança diabólica é levada a conhecimento do cético Robert Thorn pelo padre Brennan (Patrick Troughton), um dos conspiradores satanistas que participou do ato de concepção do filho de Satanás (criança nascida de uma chacal, sugerindo um ritual no qual o animal foi fecundado pelo demônio materializado), agora arrependido de participar do plano demoníaco. Ao procurar o agora embaixador norte-americano na Grã-Bretanha, Brennan é rechaçado: para Thorn, o sacerdote atormentado seria um chantagista que, ao alegar conhecer a verdade sobre o nascimento de Damien, agora com cinco anos de idade e interpretado por Harvey Stephens, poderia estar atrás de dinheiro pelo seu silêncio. 

Alertado sobre os riscos que ele e a esposa corriam por causa de Damien, Robert Thorn não dá crédito ao sacerdote, mas começa a questionar seus avisos ao saber da sua estranha morte: no mesmo dia do encontro de ambos, Brennan morre em um acidente bizarro, no qual, durante uma súbita tempestade, é atingido por um mastro caído de uma torre de igreja que lhe atravessa o corpo. Entra em cena o fotógrafo Keith Jennings (David Warner), testemunha dos estranhos fatos com relação a Damien, com quem o embaixador iniciará uma investigação em busca da terrível verdade sobre a criança e o reinado de terror que se aproxima. Não vale a pena entrar em detalhes sobre o desfecho da história para respeitar quem eventualmente não tenha assistido o filme. Portanto, nada de spoilers por aqui.

Gregory Peck (Robert Thorn)

Jonathan Scott-Taylor (à dir.) como o adolescente Damien
Em "Damien: profecia II", o Anticristo agora é um adolescente (Jonathan Scott-Taylor) que mora com os tios Richard (William Holden), irmão de Robert, e Ann Thorn (Lee Grant), sua segunda esposa, e o primo Mark (Lucas Donat), filho do primeiro casamento de Richard. É nesse segundo capítulo da saga que ele vai descobrir suas origens por meio dos seus protetores, entre eles o sargento Neff (Lance Heriksen), da escola militar onde Damien e Mark estudam. A princípio assustado, o garoto começará a apreciar sua natureza maligna e utilizar seus poderes para sua escalada rumo ao poder absoluto, cujo primeiro passo é eliminar todos os que cruzarem seu caminho para impedir sua ascensão ao grupo das indústrias Thorn, incluindo a própria família.

Sam Neill interpretou Damien já adulto e poderoso
A trilogia termina com "O conflito final", em que vemos Damien aos 33 anos (Sam Neill), agora presidente das indústrias Thorn, um conglomerado com atividades em todo o planeta, inclusive ações humanitárias de fachada, na verdade tramóias que visam o controle total sobre a produção de alimentos e armas em nível global. Com o poder total em mãos e rumo à presidência dos Estados Unidos, Damien descobre que o renascimento de Cristo está para acontecer no Reino Unido e não mede esforços para impedir o fato, utilizando seus seguidores para promover uma série de assassinatos de bebês, repetindo o massacre de inocentes executado a mando do rei Herodes relatado no Novo Testamento. Porém o novo Messias está protegido por um grupo de sacerdotes que também tentarão eliminar o Anticristo. Essa batalha entre o Bem e o Mal torna essa continuação melhor que a segunda parte, que foi um tanto "parada".

Já "A profecia IV: o despertar" aproveita um gancho fraco e quase imperceptível deixado no final do terceiro filme. Agora uma menina repete os passos de Damien no primeiro filme. Somente o argumento é aproveitado, e a referência à trilogia não passa de uma citação sobre uma vaga ligação entre a criança e Damien Thorn. Fraco, esquecível, nem merece muitas palavras. Vale apenas como mera curiosidade, assim como o remake de 2006, no qual o menino que interpreta o Anticristo não consegue de longe superar a imagem de inocência aterrorizante de Harvey Stephens.

"A profecia" tornou-se uma das minhas sagas de terror preferidas sobretudo pelo interessante ponto de vista interpretativo das Sagradas Escrituras - o mar revolto (o surgimento do Anticristo no mundo da política), o significado do número 666 (no caso, o sexto dia, o sexto mês, a sexta hora relativos ao nascimento de Damien) e os sinais do Apocalipse são bem colocados tanto no livro quanto nos filmes. Mais ainda, a trilha sonora de Jerry Goldsmith no primeiro filme ajuda no clima sinistro e é uma das melhores já feitas, ao lado de outras de compositores do naipe de Bernard Hermann, responsável pelas trilhas de "Psicose" e "Um corpo que cai". Embora com todos esses aspectos positivos, uma coisa ainda há que ser dita: o livro é infinitamente melhor que o filme!

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