O mais comentado episódio da semana é só mais um dèja vu envolvendo um problema permanente em qualquer grande cidade: as ocupações irregulares. É por conta disso que aconteceram tragédias em Manaus, em Angra dos Reis, em Petrópolis e outras cidades brasileiras, guardadas as devidas proporções, claro. E entra ano, sai ano, e essas ocupações irregulares continuam, e o problema só é levado a sério quando acontece uma desgraça ou quando, como o que aconteceu recentemente, o prefeito perde a pose e age pior que um estivador: a mulher reclama de que não tem para onde ir, e Amazonino Mendes retruca, diante dos jornalistas, "então, morra, minha filha!", emendando a pérola de grosseria com um claro deboche quanto à origem paraense da queixosa.
Eterno retorno. Não há termo mais apropriado para o fato. Vai se discutir durante semanas a atitude inadequada do prefeito, mas duvido muito que a questão seja aprofundada ao que interessa: o que aconteceu na área do entrevero (onde houve um deslizamento que matou uma mulher e duas crianças) nunca vai ter solução, aparentemente. Sabe-se que essas áreas de risco existem. Por que se permite que sejam ocupadas? Por que já se sabe de antemão que em época de eleição as invasões de terra pipocam aqui e ali, algumas - dizem - manipuladas por políticos inecrupulosos, mas não se faz nada para prevenir o problema, exceto quando a floresta já foi devastada e uma nova favela aparece?
O assunto envolve questões habitacionais, ambientais e sociais, no entanto nunca há solução ao problema que não seja arrumar casa para os invasores. Nunca houve profissionais gabaritados nas gestões municipais que pudessem encarar o problema de frente? Acho que é uma questão de boa vontade política, caso contrário não haveria situações exemplares em outros Estados. Recentemente, com as tragédias provocadas pela chuva no Rio de Janeiro, houve o caso de uma cidade (cujo nome me foge agora) onde não houve mortes provocadas pelas alagações, pois o prefeito (salvo engano) organizou a evacuação prévia dos moradores. Isso é bom senso. Isso é ser competente. Isso é administrar de verdade.
Não estou tecendo críticas especificamente ao senhor Amazonino Mendes, e sim às administrações (inclusive as anteriores dele) que já passaram por Manaus e não resolveram problemas que se repetem agora e, se isso não mudar, irão se repetir mais adiante. Se há ocupações irregulares, é preciso uma política habitacional urgente. Não é fácil, claro, mas é hora de buscar uma solução a médio prazo. Não sei o que sugerir, pois mudar isso é obrigação de quem foi eleito pela população e sua equipe. Tivesse eu conhecimento suficiente para indicar o caminho das pedras, certamente o faria.
Invasões acontecem porque a administração pública permite. Por medo de serem chamados de tiranos (ou, de modo mais escuso, garantir simpatia e votos), os administradores deixam acontecer e ainda premiam os invasores com urbanização da área invadida (e o meio ambiente que se f...). Onde isso vai parar?
Ultimamente, quando falam mal de Manaus por conta do comportamento da população, me limito a ficar calado, engolindo, porque vejo razão. Infelizmente, é assim.
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