domingo, 27 de fevereiro de 2011

Carnaval e decepção

Já gostei muito de carnaval de rua. Eu era daqueles que não perdia uma banda sequer, ia todos os anos à Bica, Banda do Boulevard, Banda do Mano e onde mais houvesse agito nessa época. Eu me divertia com os amigos, curtia muito, mesmo.

Agora, passou. Alguma coisa disparou na minha mente no carnaval de 2009, quando fui pela última vez à banda do Boulevard. Fiquei por instantes olhando aquele pessoal todo se divertindo, parecia legal, mas ao mesmo tempo começou a me parecer vazio. Todos se embriagam, fazem besteira, depois ficam pensando no que fizeram. Normal. Mas a sensação ia além disso. Comecei a me sentir deslocado. Eu, com 36 anos, no meio dos foliões, refleti que naquele momento eu estava em um lugar e em uma situação irreais. Não era aquela coisa de "não ter mais idade" para isso, porque diversão não tem prazo - o tipo de diversão, sim, porque até hoje continuo me divertindo de maneiras diversas. Era mais além. Fiquei observando alguns tipos curiosos: os caras que se vestem de mulher e exageram comicamente nos trejeitos, as garotas seminuas, os sujeitos que, mesmo com o grupo tocando músicas da época ali perto, botam o som altíssimo dos seus carros com funks, bregatronics e outros ritmos, digamos, inferiores, os que furtivamente estão se drogando... Enfim, foi aí que me caiu a ficha: o carnaval como eu gostava deixou de existir.
Essa mesma sensação se repetiu ano passado, quando, indo visitar meu pai no hospital Beneficente Português, fiz uma parada na Bica. Ainda era cedo. Mas fiquei vendo aquela turma se preparando, muito animada, mas aquilo não mexeu comigo. Se fiquei 40 minutos ali, foi o bastante. Foi a última vez.

Deixei de gostar de carnaval, simplesmente. Começou há dois anos. Não sinto a mínima vontade como a tinha antes. Já fui chamado por amigos para ir, mas não quis. Alguns entendem minha mudança, outros ainda fazem piada ("casou e mudou", "mudou do vinho para a água"), outros acabam ficando chateados. O que posso fazer? Parei de consumir bebidas alcoólicas por questão de saúde mental (não vou reprisar toda a situação que minha família passou em 2010), mas continuo gostando de sair. O que me afugenta às vezes são as atitudes de amigos (alguns não tão amigos assim) em não aceitarem essa mudança - para mim, foi para melhor, acredito; para quem não gostou, paciência.

Para os que gostam de carnaval, boa diversão! Estou fazendo planos de ir para o interior no feriadão, descansar, curtir a natureza - coisas que sempre gostei de fazer. Muitos dos meus amigos compartilham de minha opinião e de minha decisão e a respeitam, mesmo sabendo que eu acho o carnaval uma festa que perdeu seu brilho real há muito tempo. Eu apenas ainda não havia percebido.

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