quinta-feira, 22 de julho de 2010

Jornalistas e restos humanos

Sou jornalista formado há 11 anos e atuante há 15, passando por redações e assessorias de imprensa. Fui repórter nos extintos Jornal do Norte e Gazeta Mercantil Amazonas, repórter por um mês no Diário do Amazonas, editor no jornal O Estado do Amazonas e repórter, subeditor e editor no Amazonas em Tempo, lugar onde tive de fato meu crescimento profissional, no qual fiz muitos amigos e tive reconhecimento. Minha última investida em redação foi no Jornal do Commercio, até março deste ano, após quase dois anos como editor de Negócios e Serviços. Pronto, acho que agora já deu. Minha parcela de contribuição para o jornalismo amazonense foi dada. Hoje faço trabalhos free lance, inclusive por meio da cooperativa da qual sou diretor financeiro, a Coopmidia, que está em fase de legalização até o final deste mês.
Nesses 15 anos de atividade, acumulei mais amigos que inimigos. Sempre tive um estilo próprio de coordenar os trabalhos sob minha responsabilidade, sendo rigoroso apenas quando deveria de fato, apelando para o diálogo na resolução de problemas. Aquela imagem do chefe escroto, que humilha o repórter ou pega no pé, sempre foi pré-histórica para mim. Fiquei decidido a não seguir essa linha troglodita. Algumas raras vezes (afinal, não tenho sangue de barata), tive algumas explosões, mas porque a linha da paciência foi violentamente ultrapassada.
Por conta desse meu estilo, fui muito criticado. Hoje, observo que algumas dessas críticas vieram de pessoas que tentaram me passar a perna. Tentaram e tentaram, mas, com o perdão do palavrão, se foderam. Sempre adotei um estilo, digamos, rebelde, de dar ideias para inovar o produto jornalismo e fugir um pouco do feijão-com-arroz que ia para as ruas todos os dias. Algumas vezes, consegui aceitação. Lembro-me das edições especiais de final de semana no jornal O Estado do Amazonas, onde tive uma ótima equipe de repórteres (preciso citar, porque eles merecem: Mário Adolfo Filho, Inaíze Varela, Carla Santos, Fabíola Pascarelli, Carlos Pontilhão, Josely Azaro, Rubia Balbi e outros que, desculpem, esqueci momentaneamente, com os quais aprendi também e espero ter contribuido de alguma forma para sua carreira).
(Nem por isso desmereço os demais que foram minha equipe no Amazonas em Tempo nas vezes que passei por lá, sobretudo a última, na época do chamado Correio Em Tempo).
Há colegas que não compreendem porque decidi não trabalhar em redações. Hoje tenho meu emprego certo como assistente judiciário do Tribunal de Justiça do Amazonas, atividade que exerço com o maior prazer, fugindo da imagem do servidor público acomodado. Trabalho de segunda a sexta até 15h (por obra e graça de alguns membros do Conselho Nacional de Justiça que acharam que trabalhar até as 14h não contribuia para a celeridade do Judiciário, mas isso é assunto para outro post), tenho finais de semana (exceto quando tem plantão, mas este é devidamente remunerado), feriados, posso me programar para feriadões, e meu trabalho na Coopmidia não interfere em nada, pois ali sou, digamos, meu próprio patrão. Ponto para a qualidade de vida!
Uma vida cômoda, claro, mas quem não quer isso? A saudade da redação diz respeito ao agito da correria, de querer ser o melhor e mais correto na apuração dos fatos, de buscar fazer um excelente trabalho até mesmo com dificuldades (aconteceu isso demais no Estadão e no Em Tempo), mas é só. Eu resolvi me “aposentar” desse gostoso vício diário por conta do lado negro das redações: tramas para derrubar colegas, inveja, autoritarismo, gente incompetente, despreparada e puxa-saco ocupando funções importantes... Pelo que tenho conversado com os amigos que ainda estão nas redações, isso continua – e como continua!
O ano de 2007 foi o da decisão. Foi quando aconteceu uma série de coisas em minha vida pessoal que me afetaram, culminando em uma crise violenta de depressão. Sem entrar em detalhes, cheguei quase ao fundo do poço, mas foi quando despertei e resolvi sair do Em Tempo. Desde então, as coisas melhoraram. Decidi que estresse e depressão por conta desse universo negro do jornalismo não iriam mais me afetar. Ensaiei um retorno no Jornal do Commercio, onde esse tipo de coisa não era tão gritante, podíamos trabalhar tranquilamente e produzir legal. E foi a última vez. Sai na boa, por um acordo, já que a situação da empresa começou a ficar difícil (por culpa dos profissionais não foi, mas também é assunto para outro post).
Recentemente, meu sobrinho, também jornalista, foi um dos que pegou rasteira. Digo isso porque o que fizeram com ele já fizeram comigo em outra ocasião: te mandam embora sem argumentos suficientes, apenas dizendo que você não produz ou que seus textos são fracos, claro que para botar alguém da panelinha deles no seu lugar. E por que te escolhem? Porque você não se dobra fácil e tem iniciativa. Não há nada mais apavorante para os incompetentes e puxa-sacos que têm medo de perder o posto, como se ganhar mais fosse a coisa mais importante no mundo (seria se ao ir para o outro mundo fosse possível levar todo o dinheiro, em vez de apodrecermos a sete palmos de profundidade). Estou sendo cruel? Não acho. Observem o trabalho dos seus superiores. Se você encontrar em algum texto a frase “Há alguns dias atrás...”, não fique surpreso.
Se um dia a vida nas redações deixar de ter essa monstruosidade toda (sim, tive decepções muito grandes com colegas, até deixei de falar com alguns), quem sabe eu não volto? Mas está difícil. O ser humano é complicado, nunca está satisfeito, e passa por cima do semelhante para ter o que quer. É triste. Eu vi que não vale a pena se estressar tanto para encher de dinheiro o bolso do patrão, que muitas vezes nem reconhece seu esforço – a não ser que você puxe o saco, claro. Nunca puxei saco e jamais vou fazer isso para ganhar mais grana. Quero viver o resto de minha vida tranquilamente, superando dificuldades que porventura apareçam. Afinal, sobreviver de hipocrisia não é minha praia.

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