Desde que me entendo por gente, abomino o horário eleitoral gratuito. Todo ano eleitoral é a mesma coisa: acusações aqui, cutucadas com vara curta ali, baixarias e a famosa farsa da oposição ferrenha (evidenciada após diversas tramoias políticas que fazem os adversários trocarem gentilezas e negando os ataques e contra-ataques).
Ontem, porém, enquanto me distraia no Facebook, deixei a televisão ligada justamente nesse intervalo de tempo, e um nome me chamou a atenção: Madona dos Rodoviários, candidata a uma vaga na Câmara Municipal de Manaus por uma das coligações que disputam o poder na capital amazonense. Uma concorrente a vereadora que nem de longe lembra a homônima da Blonde Ambition. Foi então que larguei o netbook e passei a observar os nomes e as atitudes dos candidatos dali em diante, onde houve espaço até mesmo para o Highlander, um dos rivais de Madona (a nossa, não a megastar).
Tenho que confessar que passei a ver o horário político como algo tão surreal que se torna humor escrachado. Enquanto alguns candidatos ao cargo de prefeito de Manaus apelam para lágrimas, "belas e exemplares" histórias de vida e pegam emprestada a aura de algum anjo da guarda incauto que esteja nas proximidades, outros parecem ter copiado seu cenário daqueles lugares em que os asseclas da Al-Qaeda proferiam ameaças e imprompérios contra o Grande Satã e a civilização judaico-cristã do Ocidente, como bem observaram vários amigos nas redes sociais. A atração principal, fora os candidatos "nanicos" à prefeitura, por assim dizer, acabam sendo os que buscam uma "boquinha" nas dependências da Câmara Municipal.
Temos Madona e Highlander. Os nomes bizarros vão aparecendo aqui e acolá. Mas as atitudes são mais divertidas. Tem candidato que parece estar lendo suas declarações em uma cartolina erguida pelo câmera. Outros estão praticamente congelados e só movem os lábios, em meio a um sorriso amarelo. Alguns são tão espontâneos que não se acanham em massacrar a nossa tão sofrida gramática e ainda abraçam o candidato a prefeito, que parece mais uma estátua de cera (ou "estauta", como alguns dizem). Existem também os que aparentam ter saído de um ônibus lotado, de tão amarrotadas que estão suas roupas, sem nenhum cuidado com a produção visual (ou então pecam pelo excesso, transformando-se em bolos confeitados ambulantes). Vi um cidadão que, se usasse uma peruca preta toda encrespada, poderia muito bem ser o clone da Adelaide, aquela mendiga do programa Zorra Total que sempre pede "cinquenta centarru, vintecinco centarru ô dez centaaaaaaaaarru", mas tem um "tábreti".
Os tipos estranhos e curiosos continuam em desfile. Tanta bizarrice me trouxe à mente a campanha para a presidência da República na década de 1990, quando entre os embates de Collor e Lula (ainda um trabalhador que todos desejavam ver no poder) apareceram figuras como o Marrozinho, que não conseguia falar e mostrava uma mordaça, a primeira mulher candidata que fazia a propaganda à beira do fogão e o alegórico e já falecido Enéas (este pelo menos conseguiu conquistar seu objetivo e foi um exemplo de persistência). Sem contar o Ronaldo Caiado, bancando o salvador da Pátria montado em um cavalo branco, uma coisa extremamente apelativa e de péssimo gosto.
Depois de muito tempo sem prestar atenção no horário eleitoral gratuito na televisão, descobri uma nova forma de rir e esquecer um pouco as amarguras da vida. Sem querer debochar dos coitados que só estão ali fazendo sabe Deus o quê (se votarem em si já será uma conquista), mas em muitos casos está na cara, literalmente, o despreparo do cidadão. É óbvio que para muitos almejar uma vaga no mundo da política é conseguir uma boquinha para ganhar muito dinheiro (claro, com tantas mordomias é normal haver essa ambição). Mas aqui e ali aparecem pessoas sérias (uns poucos eu conheço pessoalmente e um deles já terá meu voto), e aos demais que involuntariamente acabam se tornando engraçados, só posso desejar boa sorte, pois se Tiririca chegou lá, a zebra pode acontecer de novo. Mas para isso, falta o carisma e uma música idiota que conquiste o público. Pelo andar da carruagem da pobreza musical em nosso país, talvez não seja tão difícil.
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