segunda-feira, 16 de abril de 2012

Animais, homens e monstros

No reino animal, a matança entre espécies é movida pelo instinto de sobrevivência: carnívoros devoram herbívoros e até mesmo outros carnívoros, mas o equilíbrio permanece. Fosse somente assim, a natureza seguiria seu rumo. Mas eis que entra o elemento humano, para quem o morticínio entre seus pares e outras espécies parece gerar um prazer mórbido. Com pouquíssimas exceções, o reino humano é isso: caos, assassinatos, perseguições, corrupção, crime e violência. Tornamos-nos as alegorias da irracionalidade e da monstruosidade. É nisso, de um modo geral, em que parte da raça humana se transformou: monstros.

Compartilhei hoje duas notícias no Facebook, a partir do site da Agência de Notícias de Direitos Animais (Anda). Curiosamente, ambas se referiam a comportamentos bestiais do mesmo lado do mundo, um Oriente movido pela superstição estúpida e pela crueldade assustadora. No primeiro fato, a Anda divulgou uma matéria sobre um zoologico digno dos piores carrascos da história, lugar em algum confim da China onde, em 2008 (e pela notícia se presume que tais ações ainda tenham lugar), vacas, galinhas, cães, gatos, bezerros e outros animais são jogados em covis de leões famintos para a diversão doentia dos visitantes, inclusive crianças, as quais assistem os bichos serem despedaçados por dezenas de criaturas selvagens esfomeadas enquanto os espectadores exultam. E essa é somente uma parte do espetáculo decadente de horrores, algo a gerar calafrios e repulsa somente na leitura do texto.

A outra matéria do site trata de um costume bárbaro em algum lugar do Vietnã, em que porcos são amarrados e esticados pelas patas para serem cortados ao meio. O objetivo da sangria é uma vil superstição: molhando notas de dinheiro no sangue do bicho sacrificado, atrai-se fortuna.

Matamos e nos alimentamos de vários animais em nosso papel dentro do ciclo da vida. Até mesmo o consumo de cães e gatos no Oriente é algo tolerável, apesar de repulsivo aos costumes ocidentais. Não há alteridade, no entanto, que faça buscar alguma racionalidade em algo além dessa simples ideia. Maltratar elefantes, cavalos, cães, gatos e quaisquer outro tipo de bichos, sejam ou não domesticáveis, sem razão aparente, pelo prazer do sofrimento alheiro, é repugnante. É expor um lado desumano, irracional, estúpido de uma identidade perversa e obscura de puro sadismo. Um elemento diferenciador entre homens e animais deixou de ser a racionalidade. Estes conseguem ser mais inteligentes e racionais em comparação aqueles. 

Uma observação do comportamento animal mostra vários pontos comuns com o dos homens, até mesmo disputas pela atenção dos parceiros sexuais, relações de poder, maternidade, solidariedade. Mas a semelhança acaba aí. Somente o homem é capaz de transformar sofrimento em diversão, perseguindo e assassinando seu semelhante, transformando-o em mercadoria, usando a violência como lazer (sim, tenho aversão total ao MMA ou quaisquer outro tipo de "esporte" baseado em uma imbecil troca de pontapés entre dois pseudorracionais), achando-se superior ao irmão diferente a ponto de tentar varrê-lo da face da terra... Alguns chegam ao ponto de trucidar pessoas para seus restos em guloseimas! E toda essa maldade deprimente ele estende a criaturas movidas por instinto, em uma clara e vergonhosa afirmação de superioridade (lembrem o caso dos dois rapazes que botaram fogo em um filhote de cachorro por "diversão", ano passado). De que tipo, é um mistério. Independente de denominação, qualquer religião prega paz e respeito (salvo as distorções do fanatismo), mas o ser humano em geral prefere a abominação.

Guardadas as devidas diferenças, cabe aqui a célebre pergunta que dá título à obra de Primo Levi, um sobrevivente dessa carnificina humana provocada pela estupidez de seus pares: "É isto um homem?". Francamente, não sei mais o que é humano.

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