sábado, 31 de dezembro de 2011

Para que amaldiçoar 2011?

Em questão de horas, chegamos a mais um novo ano. Para mim, 2011 teve tempo bom, sujeito a nuvens pesadas e chuvas passageiras, mas nada que estragasse o conjunto da obra. Desde 2010 tomei decisões quanto à forma de levar minha vida, e hoje colho bons frutos, portanto não posso amaldiçoar o ano que está chegando ao fim ou me lamentar. Ninguém precisa amaldiçar 2011, dizer que foi um péssimo ano, porque neste mundo, com esse estágio de total estagnação da consciência humana, conseguimos chegar vivos ao seu final.

Tragédias acontecem todos os anos, por mais intensas que sejam. Muitas imagens não me sairão da cabeça ou não as poderei rever sem sentir aquele aperto no coração e aquela sensação terrível de impotência. A corrupção, os desmandos políticos, a farra com dinheiro público e, sobretudo, a falta de bom senso e ausência de respeito de autoridades e parlamentares nunca foram tão constantes. Às vezes, dá para sentir vergonha de ser brasileiro, praticamente uma voz solitária na multidão, enquanto muitos caminham passivos, preocupados demais com quem vai participar do Big Brother Brasil ou vítimas de lavagens cerebral da indústria do lixo pseudocultural.

A violência foi terrível e parece chegar cada vez mais perto. Em casa, no trânsito, no trabalho. Mais vidas foram estupidamente perdidas, a insegurança continuou, as injustiças sociais não terminaram. O meio ambiente sofreu de todas as formas possíveis, exatamente como antes. Ainda não foi puxado o freio nessa destruição toda por conta da falta de conscientização. Apesar da anunciada estabilidade da nossa economia, a miséria grassa, a educação é inconstante, a saúde é irregular e um caos com vergonhosos exemplos.

Por outro lado, ações pela cidadania e respeito aos direitos humanos prosperaram. Iniciativas não se perdem como palavras ao vento. A insistência em mudar nosso mundo para melhor ainda dá fôlego para viver, sabendo que, mais dia, menos dia, a água vai furar a pedra.  Precisamos conviver com essas tragédias, com perdas, com derrotas, pois fazem parte da vida humana.

Tudo isso não foi somente em 2011. Foi em 2010, 2009 e sempre. Não vamos amaldiçoar este ano, pois fazer isso é amaldiçoar nossas próprias vidas, pois apesar dos sofrimentos, conseguimos chegar ao seu final vivos, com derrotas e vitórias, projetos realizados ou que não saíram "do papel", viagens feitas ou adiadas, amizades desfeitas e recuperadas, com compreensão de seus atos ou não. Um novo ano representa sempre esperança de que faremos melhor do que no anterior. Aos poucos, as coisas parecem começar a se ajustar, até chegar, finalmente, o dia em que teremos muito mais vitórias do que nunca tivemos em qualquer outro ano de nossa vida. Agora, 2012 é o desafio para cada um. Vamos avaliar, neste último dia, o que fizemos de certo, de errado, o que faltou fazer, descobrir o motivo para nossos projetos não terem dado certo, tentar compreender o outro, respeitar sua vida pessoal, suas posições políticas, sua religiosidade, suas opções, entender seus comportamentos, enfim, aproveitar nossas vidas. Então, feliz 2012!!!!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Comentário - "O Tempo e o Vento", 1985


Tarcisio Meira e Louise Cardoso como Rodrigo Cambará e Bibiana Terra

Das minisséries brasileiras, "O Tempo e o Vento", de 1985, nunca mais me saiu da memória. Inspirada em "O Continente", primeira parte da saga da família Terra Cambará no Rio Grande do Sul, imaginada por Érico Veríssimo, a adaptação foi uma das melhores já produzidas para a televisão. A partir de segunda-feira, 2 de janeiro, a minissérie volta a ser exibida pelo canal Viva, às 23h15 (horário de Brasília). Espero que seja na íntegra, com todos os seus 25 capítulos.

"O Tempo e o Vento" seguiu fielmente a fragmentação narrativa de Veríssimo, começando em 1895, para depois, por meio das memórias de Bibiana Terra Cambará (nessa fase interpretada pela saudosa Lélia Abramo), retornar até 1777 para contar a origem dessa família com Ana Terra (Glória Pires), filha única de Maneco Terra (Aldo César) e Henriqueta (Marlise Saueressig), no interior do Rio Grande, com os irmãos Horácio (Marcos Breda) e Antônio (Camilo Bevilacqua). A vida pacata muda com a chegada do indígena Pedro Missioneiro (Kazé Aguiar), com quem Ana irá se envolver e ter um filho, iniciando uma saga que vai continuar em 1825 com a chegada do capitão Rodrigo Cambará (Tarcisio Meira) à vila de Santa Fé, para onde Ana se mudara. Rodrigo, fanfarrão, louco por guerras e mulherengo, se apaixona por Bibiana (Louise Cardoso), filha de Pedro Terra (Ivan de Albuquerque) e Arminda (Eloísa Mafalda) e neta de Ana Terra. A trama salta depois para 1845, quando junta-se à família a "teiniaguá" Luzia (Carla Camuratti), nora de Bibiana (Lilian Lemmertz) e esposa de Bolívar (Daniel Dantas), mulher que provoca conflitos familiares, e, finalmente, volta a 1895, com a família Terra Cambará, liderada por Licurgo (Armando Bógus), neto de Bibiana, sitiados em seu sobrado de Santa Fé, em meio a lutas políticas que consolidaram a formação do Rio Grande do Sul.

Nessas quatro fases históricas - "Ana Terra", "Um certo capitão Rodrigo", "A teiniaguá" e "O sobrado" - toda a história tem um ponto de vista feminino, primeiro com Ana Terra e depois por Bibiana, em sua relação com os seus homens - Pedro Missioneiro, Pedro Terra, capitão Rodrigo Cambará, Bolívar Terra Cambará e Licurgo Cambará. Todos ilustram bem a formação não apenas do povo gaúcho, mas, como num microcosmo, também a da nação brasileira nos séculos 18 e19.

Fiquei muito feliz em poder adquirir a minissérie, mas só por uns instantes. Até hoje me sinto lesado pela Globo Video. A versão em DVD foi remontada em uma narrativa linear da qual foi excluído o episódio "A Teiniaguá", de forma que não pude rever Carla Camuratti e Lilian Lemmertz em seu "duelo" de nora e sogra no sobrado da família. Imperdoável! Fora que para tapar esses buracos recorreram a enxertos de outras cenas, causando várias imagens repetidas, e só quem viu pela televisão ou leu o livro pode entender a história. Fiquei muito decepcionado e fiz questão de expressar minha opinião no site da Saraiva, onde comprei. Acho até que boicotaram o que escrevi.

A adaptação dessa imortal obra-prima traz ainda como música de abertura uma versão instrumental de "Passarim", de Tom Jobim, é uma das minhas preferidas até hoje. Belíssima, que pontua bem a saga de paixões, lutas e solidão da família Terra Cambará.

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...