Hoje é dia de comemorarmos os 342 anos de Manaus. A comemoração, no entanto, não pode se limitar ao Boi Manaus e ao espetáculo surreal da inauguração da ponte Rio Negro (palcos, shows e uma lista extensa de convidados "ilustres" - uma combinação que ainda não se ajustou bem em minha pobre cabeça).
Temos muitos motivos para comemorar e para refletir. A ponte Rio Negro, tão criticada (nem tanto pelas altas cifras de seu custo ou pelos aparentes erros em sua concepção estrutural - do qual a famosa "pracinha da avenida Brasil" foi o exemplo mais claro -, mas sim pela sua utilidade), é um momento novo de integração que vai facilitar a vida da população da Região Metropolitana. Iranduba, Manacapuru e Novo Airão, principalmente, deverão estar alertas para investir sobretudo em seus potenciais turísticos.
Na outra margem da ponte, já em Iranduba, quero vislumbrar uma orla bem cuidada. Nada daqueles inferninhos barulhentos e imundos que empestavam o Cacau Pirêra, aquilo, sim, uma vergonha que nunca recebeu um investimento decente e muito menos preocupação ambiental dos residentes. Sinceramente, merece desaparecer da maneira que estava. Mas nem tudo está perdido ali, porém isso é outra história.
Temos que comemorar o fato de Manaus estar "bem na fita" entre as demais capitais brasileiras. Hoje somos a nona (corrijam-me se estiver enganado) cidade mais populosa do País e uma das mais ricas. Há muitos investimentos surgindo na cidade em diversos ramos, mas sobretudo no imobiliário.
As comemorações, por enquanto, terminam aí. Hora de refletir sobre os problemas que temos e o que cada um está fazendo - ou não - para mudar o quadro. Nosso trânsito é péssimo. Temos um sistema viário que não comporta o fluxo da devida maneira - os "complexos viários" construídos acabaram não dando tanta vazão como deveriam a isso (sem contar que um dos primeiros, no cruzamento das avenidas Constantino Nery e Senador Álvaro Maia, não correspondeu ao projeto inicial e tem uma característica ímpar de possuir semáforo). Temos muitos carros, pouca educação no trânsito e irresponsabilidade para dar e vender. Para muitos motoristas, respeitar a sinalização, não entrar pela contramão (nem que seja rapidinho), estacionar somente nos lugares adequados, dar a vez a pedestres, ser cortês com outros motoristas, dirigir sem afobação... tudo isso parece soar como ofensa, como imoralidade, e mais vale o risco de pegar uma multa, atropelar alguém ou sofrer um acidente. Manaus merece isso?
Na parte ambiental (e nisso vou incluir a limpeza pública, pois há uma relação entre ambas), se por um lado temos bons exemplos como o Parque Senador Jefferson Peres, o Parque dos Bilhares e os postos de coleta seletiva, por outro temos o vandalismo e a falta de educação da população. Ontem, apanhei um ônibus para ir ao Manaus Plaza Shopping, e vi uma família (pai, mãe e filhinho) dentro do coletivo saboreando picolés. Eu imaginei o que viria a seguir: palitos e embalagens foram jogadas pela janela, em via pública, sem um pingo de remorso. Somente balancei a cabeça, pois pela própria forma de se expressar reconheci ali uma família para a qual viver na imundície era algo que pouco importava. E é assim que muitos manauenses pensam, infelizmente. Há lixeiras instaladas na cidade, mas a preguiça e a falta de conscientização são tão grandes que tais pessoas jogam lixo em qualquer lugar, pois, em sua visão distorcida de responsabilidades, sempre há alguém designado para fazer a limpeza. Esquecem-se de que os profissionais dessa área não são serviçais de cada um dos moradores, portanto não podem ficar atrás de cada porcalhão desses como um dono de cachorro que sai para passear com seu bichinho levando uma pazinha e um saquinho para recolher seus dejetos. Manaus merece isso?
Temos belas praias fluviais em nossa cidade e balneários agradáveis nas estradas e na zona rural da capital. Mas nem lá o vandalismo e a falta de educação ambiental deixam incólumes. Pior de tudo é ver que há conivência dos que exploram o lugar, que não tomam uma atitude mesmo quando cobram uma "taxa de manutenção". A Cachoeira do Leão, na rodovia AM-010, de acesso gratuito, é um exemplo. Muitos dos frequentadores jogam latas de bebidas e restos de comida ao longo do igarapé, mesmo havendo lixeiras instaladas em vários locais de fácil acesso. No quilômetro 12 da rodovia BR-174, uma taxa de R$ 5 é cobrada por veículo, mas onde a sujeira é jogada, lá permanece. Bela visão para turistas. Manaus merece isso?
Voltando aos parques, a iniciativa foi muito boa, pois Manaus carecia de espaços públicos. Praças foram reformadas, voltaram a ser pontos de reunião de famílias para passeios e programas leves. Mas ainda são atacadas pelos porcalhões e vândalos. Na extensão do Parque Jefferson Péres, no Bittencourt, alguns quiosques estão escancarados, um convite para a vagabundagem destruir ou usar para fins nada corretos. Por todos os lados, há garrafas, copos e outras coisas jogadas a apenas alguns metros das lixeiras instaladas. No Mestre Chico, a bela ponte de ferro ainda estava às escuras, pois pessoas sem caráter roubaram a iluminação e fica tudo por isso mesmo. O Parque Jefferson Péres escapa ainda um pouco do vandalismo porque é cercado, então os marginais têm que procurar outra freguesia ("um pouco" porque um dia desses, caminhando por lá, percebi que algumas luminárias mostravam pequenos danos, como se os vagabundos tivessem tentado arrancá-las). Assim deveria ser com os demais. Como podemos mostrar nosso patrimônio aos turistas se há descaso e depredação? Manaus merece isso?
Temos problemas como toda cidade, claro. Transporte público ruim e digno de suspeitas. Sujeira nas ruas. Falta de zelo com o patrimônio. Poluição. Estupidez. Vamos esquecer tudo no Boi Manaus? Melhor não. Ali também, com certeza, houve depredação, pois infelizmente festas assim também atraem o degrau mais baixo da escória humana - aqueles que não têm respeito pela vida dos outros, pelos direitos do próximo e pelo seu próprio patrimônio. Manaus merece isso? Você pode apostar que não!
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