domingo, 15 de maio de 2011

Onde Manaus errou?

Li no Facebook alguns posts do colega jornalista Cláudio Barboza sobre suas andanças em Belo Horizonte, enaltecendo algumas características da capital mineira de nos fazer inveja. Só para citar uma deveras importante: ruas sem buracos.

Belo Horizonte tem quase 4 milhões de habitantes. A população de Manaus, oficialmente, é quase metade disso. Não conheço Belô ou Belzonte, como é chamada carinhosamente, mas depois do que o Cláudio escreveu, é uma cidade que está na lista das 15 cidades brasileiras que devo conhecer antes de morrer (é, a onda agora é fazer essas listas "pré morten").

Voltemos a Manaus. Capital mais populosa da Região Norte (e da Amazônia Legal), bons indicadores industriais, (ainda) futura subsede da Copa do Mundo de 2014, importante polo industrial, uma verdadeira clareira de concreto na selva, algo que teoricamente implicaria em um excelente polo turístico da grife Amazônia. É uma teoria que ainda não avançou muito, devo acrescentar.

Muitas ruas são esburacadas, o sistema viário é sofrível, o trânsito é caótico (também por culpa dos péssimos motoristas que temos, e não são poucos) e o sistema de transporte coletivo é tão ridículo que, sinceramente, propor rodízio de veiculos é uma proposta completamente inviável. Constroem viadutos que logo se mostram inúteis, pois agilizam o tráfego em um ponto para torná-lo absurdamente lento mais adiante. Os pedestres sofrem, porque mesmo com a implantação das faixas para travessia, precisam se arriscar a serem atropelados por motoristas que parecem ter comprado a habilitação pela internet, porque não respeitam a faixa, param sobre ela, estacionam em lugares proibidos, trancam garagens e vagas de estacionamento (como na foto do post) e assim por diante.

Campanhas e mais campanhas são feitas, mas não vejo resultados. Volto a defender uma solução mais radical, repressiva mesmo, porque nem mesmo direcionar esses trabalhos para as crianças pode resolver isso no futuro. Exemplo: um dia desses, caminhando para o trabalho, passei pela rua Natal, em Adrianópolis, uma via de acesso mais rápido ao Fórum Henoch Reis. É uma rua de mão única, sentido avenida Umberto Calderaro - avenida Mário Ypiranga. Ali há também uma entrada para uma escola infantil, então muitos pais deixam suas crianças ali. Pois nesse dia, vi estupefato um senhor entrar pela contramão para deixar seus dois meninos, por pura preguiça de pegar o devido retorno mais adiante e seguir pela rua Natal pelo modo correto. Aí eu penso que tipo de exemplo aquele homem (não posso chamá-lo de cidadão) está dando para as duas crianças. Talvez em uma aula sobre educação no trânsito elas contradigam a professora quando o assunto for cuidados nas avenidas e ruas de mão única. Se o dito elemento tivesse sido parado, multado e até mesmo preso, creio que essas crianças veriam a magnitude da irregularidade cometida pelo pai. O mau exemplo dado pelos pais fica inculcado nesses pequenos representantes do nosso futuro.

Em se tratando da estrutura, dá vontade de chorar. Boa parte das ruas de Manaus ou tem buracos ou tem deformações no asfalto semelhantes a lombadas mal feitas. Não há carro que aguente. O início da avenida São Jorge, no bairro de mesmo nome, é um exemplo desse último caso. Você passa por ali com a impressão que está numa lancha que pegou um banzeiro. Vemos tapa buraco por todo lado, mas é um serviço inútil, como veremos mais adiante quando a cratera ressurgir.

Nunca investi um tostão nos meus quase 25 anos de trabalho para comprar um carro, porque nunca consegui aprender a dirigir. Vendo tanta barbeiragem, tanta imbecilidade na atitude dos motoristas em um sistema viário pobre, acabei criando um bloqueio. Não que eu precise atualmente, pois praticamente moro ao lado do meu trabalho, não sou de baladas e só quero sossego. Como já disse a um amigo meu, se eu dirigisse em Manaus, ou morreria de ataque cardíaco ou seria preso, porque minha tolerância com gente mal educada, oportunista e sem consciência já foi extinta há eras! Quando estou de carona, meus amigos percebem minha tensão permanente, só aliviada quando chego ao meu destino.

Eu me pergunto: por que isso ainda acontece? Por que as campanhas não dão resultado? Por que, a cada administração, o problema do trânsito como um todo nunca é solucionado? Por que a cidade parece ter mais carros do que gente atualmente mas isso não é levado em consideração para tentar mudar o panorama do sistema de transporte público? Como seremos vistos se essas coisas permanecerem assim até a Copa de 2014? E estou falando apenas de trânsito e sistema viário... Só isso basta para tentarmos descobrir onde Manaus errou.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Jornalismo e língua portuguesa: uma relação de amor e ódio

Na semana passada, fui brindado no Twitter com o título de uma matéria de um jornal de Manaus que falava sobre “hipertenção”. Assim mesmo, com “ç”. Foi o suficiente para gerar críticas e sarcasmos. Foi uma pisada em falso, mas bem alarmante, bastando confirmar isso com a quantidade absurda de erros com os quais somos brindados. Vai da simples letra trocada em “hipertensão” ao singelo “há alguns dias atrás” ou “daqui há alguns anos”, passando pela bela separação de sujeito e predicado por vírgula (tipo “Fulano, depôs na delegacia e apresentou nova versão dos fatos”).

O que está por trás de tanto erro? Pressa, falta de pessoal para revisar, irresponsabilidade ou burrice, mesmo? Estou fora de redação há pouco mais de um ano. Enquanto lá estive, sempre tive cuidado também com essa parte, apesar de já ter dado um ou dois deslizes (garanto que foi por culpa do estresse no fechamento da edição, com notícias novas chegando, deadline estourando e coisas assim). Então, ainda não tenho a resposta para tamanha abominação. Fora dos jornais, acompanho os colegas repórteres que trabalharam comigo e fico satisfeito com seu progresso. Ainda bem que não são eles os autores desses atentados à ortografia e à gramática.

Não conheço os novos jornalistas das redações, nem seus hábitos de leitura ou estudos. Mas há um laço frouxo aí em algum canto que permite a repetição constante desses erros. O (teoricamente) formador de opinião precisa ser responsável tanto na apuração do fato quanto na sua escrita. Suas eventuais deficiências devem ser sanadas. Os revisores deixaram de existir? E os editores, qual sua função efetiva agora? E o maior responsável pelo produto apresentado diariamente nas ruas, o dono do jornal? Só contabiliza os números em se preocupar com a qualidade? É o que parece...

Ora, vamos parar com essa relação de amor e ódio com nossa língua portuguesa, curar essa Síndrome de Tiririca! Perguntar nunca foi demais. Pior é publicar uma aberração sem passar por um crivo seguro, e daí quem se orgulha de ser jornalista ainda não admite ser chamado de incompetente.

Vale a pena trabalhar no Judiciário?

Quando fiz o concurso público para o cargo de assistente judiciário no Tribunal de Justiça do Amazonas, em 2005, fui motivado pela necessidade de um trabalho fixo e seguro, já que comecei a ficar saturado e desmotivado com o “andar da carruagem” no jornalismo amazonense – um quadro que havia mudado muito desde que nele eu ingressara, em 1995, ainda estudante, tendo se tornado um meio de disputas desonestas, intrigas de colegas e beneficiamento de pessoas sem qualificação mas com uma “invejável” capacidade de “babar ovos”. O salário, para um homem solteiro, era – e ainda é – um atrativo à parte. Valia a pena arriscar? Trabalhar no Judiciário?

Desde que assumi minhas atividades em junho de 2007, participei de um momento especial. Fui o segundo funcionário da recém criada 9ª Vara Criminal, hoje o segundo mais antigo do quadro do Juízo. Em reconhecimento ao meu trabalho, fui indicado e ganhei uma função de assistente da diretora da vara, devidamente remunerado. Na parte financeira, não tenho do que reclamar, pois com tantos problemas  o Judiciário conseguiu aos poucos resolver uma série de pendências em relação aos seus funcionários.

Ainda temos muitas questões a resolver – a virtualização total das varas, uma meta perseguida há tanto tempo e ainda não integralmente implantada no TJAM e que seria fundamental para a agilização na tramitação processual e até mesmo da organização estrutural dos cartórios; a reestruturação física para termos um ambiente adequado de trabalho; a informatização integral das comarcas; e por aí vai. O que temos já é um avanço, considerando-se a situação encontrada quando ingressei no Tribunal em 2007: um cartório com poucos funcionários, processos se acumulando por falta de pessoal para auxiliar, falta de controle dos prazos, ausência de capacitação e outros.

Aí começaram as “porradas”: apesar de termos nosso horário estabelecido legalmente em seis horas diárias, passamos a trabalhar uma hora a mais, pois isso, segundo a visão do Conselho Nacional de Justiça, ajudaria na celeridade do Judiciário. Sete horas diárias sem direito a uma compensação salarial, pois conforme nosso Plano de Cargos e Salários, se por necessidade do trabalho o servidor permanecer além da carga normal, teria por direito o acréscimo de 25% no salário sobre o vencimento. Isso nunca aconteceu e certamente nunca vai acontecer. O Tribunal Pleno vai se reunir para decidir a nova investida do CNJ para “modernizar” a Justiça: o novo aumento da carga horária para os trabalhadores do Judiciário, que agora deverão trabalhar das 9h às 18h, “no mínimo” - espero que vejam que este horário já é seguido de 8h às 18h, sendo em esquema de plantão a partir das 15h (já o era antes, quando o horário era até as 14h. Enquanto isso, os problema estruturais do TJAM (e dos demais tribunais estaduais, diga-se de passagem) permanecem sem solução.

Não sei em que o CNJ se baseia para achar que aumentar a quantidade de horas trabalhadas vai ajudar a acelerar o Judiciário se a nossa estrutura continua problemática. Tomo como exemplo a 9ª Vara Criminal: temos quatro audiências por dia, mas é raro o dia em que todas acontecem. Por várias razões, há fracassos: os oficiais de Justiça estão sobrecarregados e não têm tempo para cumprir em tempo hábil as intimações; no caso de conduções coercitivas de testemunhas (aquelas que foram devidamente intimadas mas deixaram de comparecer ao ato injustificadamente, sendo agora levadas pelo oficial para a audiência), não há carro disponível para o cumprimento da diligência; as testemunhas deixam de comparecer quando são intimadas; os advogados não atendem as intimações; e uma série de outras causas que independem da boa vontade dos servidores.

Boa vontade, sim! Trabalhar no TJAM para mim foi encontrar uma forma melhor de ser útil, contribuir com a agilidade do Judiciário. Pelo menos em nosso cartório, os processos fluem normalmente porque as tarefas são bem divididas e há comprometimento, algo até estranho – para não dizer surreal – quando se trata de serviço público.

A questão do horário está em discussão no Tribunal Pleno. Vamos ver se, a exemplo do que tem acontecido até agora, essa imposição do CNJ vai ser aceita passivamente e sem questionamentos (apesar de o quadro de servidores demonstrar contentamento com essa possibilidade de aumento da carga horária) ou se, em uma atitude mais racional, o TJAM se recusará a atacar o problema pelo lado errado. Afinal, como se tem discutido nos corredores das unidades do nosso Judiciário, em nada a Justiça terá melhorias com funcionários sobrecarregados de trabalho mas ainda sem condições adequadas. Servidores insatisfeitos e falta de estrutura adequada vão resultar em uma Justiça mais ágil? Talvez somente na estranha equação do CNJ...

Depois de passada essa fase de tempestade, voltarei a perguntar: vale a pena trabalhar no Judiciário?

VIAGEM: Cabaceiras, PB (06/04/2024)

Pela terceira vez viajei à Paraíba nas férias - e a primeira vez com meu marido Érico -, e essa foi a oportunidade de realizar um sonho, alé...