Li hoje cedo uma nota no jornal sobre o primeiro resultado das melhores práticas dos 65 destinos indutores do turismo no Brasil, do Ministério do Turismo, com 27 cidades (capitais e não capitais) que obtiveram melhor desempenho em diversos ramos, como infraestrutura, acesso, atrativos, marketing e outros.
Procurei no site do Ministério do Turismo o resultado para verificar. Nenhuma cidade da região Norte entrou nessa primeira relação. Do Nordeste, somente duas capitais (Recife e Fortaleza, respectivamente nos itens "Marketing e Promoção do Destino" - Game Show Recife Prática - e "Aspectos Sociais" - Projeto Inclusão Social com Capacitação Profissional) e uma não capital (Ipojuca, em Pernambuco, por "Monitoramento" - Pesquisa de Monitoramento do Turismo Receptivo no Destino Indutor). No Centro Oeste brasileiro, somente Brasília (item "Políticas Públicas" - PPP na Gestão da Competitividade do Destino Brasília) e Bonito (no Mato Grosso do Sul, mesmo item com o Voucher Único Digital). O restante da lista é dividido pelos Estados do Sul e Sudeste. Confiram no link http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/acontece/detalhes/20101101_01.html.
É nessa oportunidade que volto a bater em uma velha tecla: a situação do turismo local. Não conheço as políticas voltadas para o setor em outros Estados, mas daqui do Amazonas reservo-me o direito de apontar o que considero como falhas, até mesmo gritantes, que comprometem o ramo turístico e talvez até nos mantenham fora da próxima lista do MTur (sim, porque isso vai mostrar que não há nada que seja digno de destaque em nosso Estado).
O setor turístico local deve, em teoria, receber uma boa alavancada nos próximos anos por conta, principalmente, da escolha de Manaus como subsede da Copa de 2014. A partir disso, pela lógica os investimentos no ramo deveriam crescer como forma de arrumar a casa para não fazermos feio em nível internacional. Agora, vejamos: como o potencial turístico amazonense ganha dimensão?
Quando se fala em Amazonas, pensa-se logo em natureza exótica e preservação. Ponto positivo.
A heroica Zona Franca. Mais um ponto positivo.
Que mais? Ah, o Festival Folclórico de Parintins, espetáculo anual. Outro a nosso favor.
What else? Parece que ouço os grilos trinando...
Um Estado de dimensões continentais ainda deve ter muita coisa para ser descoberta. Nosso interior é repleto de festas populares que merecem ganhar mais destaque: o Festival de Cirandas de Manacapuru, o tão apagado Festival da Canção de Itacoatiara, a Festa do Cupuaçu de Presidente Figueiredo, o Festival de Verão de Maués e por aí vai. Todos esses eventos são aliados à imagem da natureza exuberante a que se faz alusão com o nome Amazonas. Então porque ainda não ultrapassaram nossas fronteiras, a exemplo do que acontece em Parintins (que, aliás, merece um post especial em complemento ao que já escrevi no blog logo após meu retorno do festival deste ano)?
Culpa do governo? Bom, foram criados em alguns municípios de maior destaque os CATs - Centros de Atendimento ao Turista. Mas, vejamos... Na última vez que estive em Manacapuru, há cerca de um ano, o CAT local estava lá, todo bem construído e localizado, na entrada da cidade... e fechado. A estrutura está pronta, então o que falta? Pessoal? E os profissionais que as faculdades daqui colocam no mercado? Quero as respostas!
Agora chegamos a Manaus, subsede da Copa de 2014. Investimentos a botão! Novo estádio, monotrilho, remodelação do aeroporto... Mas não é só isso. O campeonato mundial de futebol é uma oportunidade para o turismo. E isso não implica somente em infraestrutura, mas também na capacitação de pessoal. Do jeito que nós, manauenses (e mesmo os turistas), somos pessimamente atendidos, é preciso que haja uma mobilização para mudar urgentemente esse quadro.
Para ilustrar essa situação, vou contar dois episódios testemunhados por amigos meus. No primeiro, ano passado, uma atendente de loja de conveniência quase bate em dois turistas estrangeiros (espanhois, ao que parecia) quando ambos pararam ali para pedir informação. Segundo minha amiga, a dita cuja atendia de mau humor qualquer pessoa, e quando chegou a vez dos gringos, ela não fez uso modesto de sua falta de tato no atendimento para explodir com ambos. Vergonha. Imagine na Copa de 2014.
Outro episódio aconteceu diretamente com outro amigo no Centro de Manaus. Ao passar em uma loja da Zona Franca, viu um HD externo com preço atrativo e pediu informações do vendedor, que estava à entrada do estabelecimento, sobre as características do produto. O sujeito apenas apontou para dentro da loja, onde ele poderia conseguir o que queria, mas não porque estivesse muito atarefado ou atendendo outro cliente, mas sim porque - pasmem! - mais adiante, em plena rua, havia rolado uma pequena discussão entre algumas pessoas e o cidadão achou mais interessante prestar atenção no quiproquó nas adjacências do comércio do que atender com integridade um potencial comprador. Nem é preciso dizer que aquela loja nunca mais vai ser visitada...
São só duas histórias, mas que se repetem aos montes. Atendimento de qualidade causa boa impressão e atrai mais turistas. Vocês acham que um turista vai recomendar Manaus como destino de férias após ser tratado de alguma dessas formas? Vamos lá, autoridades, vamos fazer uma campanha junto aos comerciantes para mudar isso! Recém formados na área, deem sua contribuição, não peguem diploma para enfeitar parede ou para ser guia turístico bilingue! Mostrem suas ideias para incentivar nosso turismo!
Se o nosso maior potencial está na natureza amazônica, vamos explorar ao máximo! Há balneários às margens das estradas e praias para acampamento, não apenas hoteis de selva e Encontro das Águas! Nossas cidades precisam ser melhor cuidadas - do interior principalmente, cujas administrações (com parcas exceções) não dão a mínima para infraestrutura e capacitação. É lógico que os problemas vão mais além, alguns com origem no comportamento da própria população, porém creio que arrumando tudo que citei aqui já indica um bom começo. E quem sabe as companhias aéreas e agências de turismo de todo o Brasil passem a colocar nosso Estado nos seus pacotes e promoções especiais.
O nosso turismo está nas mãos de alguns empresários despreparados que apenas investem num turismo emissivo de retorno fácil. Empreender por aqui nesta área é um grande desafio. Nós turismólogos recebemos formação para sermos gestores, o que infelizmente, na prática não acontece. Viram operacional em algum balcão de check-in ou agência de viagem...A remuneração é baixa e as jornadas de trabalho são desumanas e baseadas na política da comissão. ´´Você recebe pelo o que ganha, nada mais justo´´, ouvi isso da boca da dona da franquia CVC em Manaus.
ResponderExcluirCapacitação e treinamento para o staff é algo incipiente e nada valorizado pelos donos das grandes corporações.Precisamos de uma reforma. E isso não vai mudar enquanto os órgãos de turismo do estado estiverem nas mãos de amadores e comissionados sem preparo. O que a Amazonastur faz para o Amazonas é vender um produto mal formatado, é quase uma propaganda enganosa, como se pode vender a imagem sem o produto? Os CAT's padecem sem folheteria e sem estrutura enquanto a dirigente do órgão viaja para Dubai e vai para europa vender a própria imagem!
Triste, mas verdade.